Discurso

DISCURSO DE LANÇAMENTO “NOBREZA DE UMA MULHER SERTANEJA”

Senhoras e Senhores,

Tenho a honra de saudar a todos neste momento com muita alegria e prazer. Meus cumprimentos aos meus familiares, minhas amigas e meus amigos, a nova geração de Guilhermina aqui presente.

Quero deixar explícita a minha satisfação, minha felicidade por alcançar esta grande conquista de publicar este trabalho, que considero algo ímpar em minha trajetória.

É bem verdade que, só agora depois de dezesseis anos do falecimento de minha mãe é que consegui reunir condições para elaborar este instrumento cuja idéia surgiu e teve início com ela, ainda em vida. Posteriormente, fiz alguns levantamentos, colhi alguns depoimentos e numa reflexão ponderada, um estudo minucioso e despretensioso, é que pude concretizar este sonho. Assim nasceu esse estudo que traz a missão de registrar, de testemunhar uma idéia, uma convicção. Na certeza de que estou contribuindo para legar aos pósteros, dados importantes para quem, no futuro, pretenda escrever uma genealogia. Consciente desta experiência desafiadora de escrever esse instrumento e, mais ainda, quando tomei a decisão de tornar público meus sentimentos e a vida de minha mãe.

Inicialmente, a intenção seria apenas, documentar seus ditos populares, pois, ela era uma sumidade nesse assunto, bem como documentar sobre suas meizinhas de ervas medicinais e as receitas dos seus tradicionais doces. A questão foi se aprofundando, tomando proporções, o desejo de escrever foi se alargando. Resultou nesta simples história das “memórias de Guilhermina”.

Evocando Lígia Fagundes Teles, quando diz: “Nós somos a matéria de nosso passado. É tão bom dividi-los com o outro, que não nos conhece tanto... Vem, amado leitor, e a ponte que eu tenho para estender até ele é a minha palavra”. E no dizer de Batista de Lima, “A língua é o palco de todos os prazeres da linguagem. É nela onde se abastece o discurso, é a língua que faz a intermediação”. A intermediação de nos unir neste evento.

Escrever este trabalho, foi muito prazeroso para mim; uma verdadeira catarse, muito mais que uma veleidade literária. Lidar com os sentimentos, buscar lembranças adormecidas no âmago do nosso ser, é tarefa agradável e sublime; é para mim uma forma de sublimar uma indignação. Auxiliou-me ainda para atenuar os traumas do meu expatriamento das diversas formas.

Recordando algumas colocações de minha mãe como: “menina medonha, deixa de malinação, de futrica com livros, vem pra dentro cuidar dos afazeres de casa”! “Já estou cansada de falar, está me dando um farnizim no juízo. Vocês sabem como é teu pai! Ainda recordando os momentos de descanso à noitinha no alpendre da casa da Tapera, conversando potoca, ela soltava a inspiração, um dedo de prosa, fazendo loas e versos, tais como estes:

“Subi na bananeira

Segurei no mangará,

Comi banana madura

Até a gata miar”.

E não esquecendo seus famosos ditos populares:

“Quem a Deus clama sempre alcança”. “Quem não pode com o pote não pega na rodilha”. “O exemplo fala mais alto que as palavras”. “Moça direita não dar cabimento pra qualquer pé rapado”. “Quem tem os olhos fundos, começa a chorar cedo”.

Dediquei este trabalho as minhas primas e tias e ainda aos que ainda muito jovens morreram negligenciados em conseqüências das secas no nosso Ceará, entre esses, a tia Antonia e tio Francisco.

Estou tornando pública a vida de Guilhermina com o título de “Nobreza de Uma Mulher Sertaneja,” tendo em vista que através de nossa convivência e dos depoimentos que colhi, observei que ela era nobre nos sentimentos e sertaneja pura, porque nasceu e morreu encravada no sertão do nosso Ceará.

Para elaborar este trabalho não segui nenhuma corrente teórica, nenhum estilo literário, apenas com base nos viés da história, voltado para o senso comum. Revisado pelo meu amigo Itair Sobral e Márcio Sales, em seguida, apreciado pelos ilustres escritores, poetas e críticos literários, Batista de Lima e Dimas Macedo.

Inspirada pela sabedoria dessa gente da TAPERA:

Lugarejo deserto

entre o vale e o morro,

cenário escondido

guardando seu povo,

adentrando a caatinga

onde pasta o touro.

Portas fechadas,

palco sem lida,

hoje desabitada,

sem vida...

Ilusões perdidas

doce guarida!

que o tempo deixou para trás

morada dos Bezerras

ensolarada de nobreza

terra dos arrozais...!

É-me oportuno neste momento expressar minha satisfação e prestar meus agradecimentos, em primeiro lugar a Deus, por me ter permitido concretizar este tão sonhado momento, com o apoio do meu esposo em toda essa caminhada, a direção do Centro Cultural Dragão do Mar, e a Livraria Livro Técnico representados por Diana e o sr. Sérgio, ao professor, escritor e crítico literário Batista de Lima, que muito me incentivou e prefaciou esse trabalho, a Dimas Macedo, escritor e poeta por excelência, das Lavras da Mangabeira, pelo seu grande incentivo. Me reporto para Tapera de corpo e alma e agradeço à Raimundo Morais e Madrinha, Antonio Morais e Miguelina, Alcides e Olindina, que me apoiaram de diversas formas, aos meus irmãos aqui presentes, Seve, Vicente e João e suas respectivas esposas, ao casal amigo, Itair Sobral e Margarida que estiveram sempre ao meu lado. Liduina, Olga por suas valiosas contribuições, a Sonia Machado a neta que mais paparicou Guilhermina, o elegante casal, Márcio Sales, e Olga sua noiva, a minha amiga e grande incentivadora, Euda Fernandes, O sr. Geraldo Jesuíno, eis diretor da Imprensa Universitária, bem como Sandro Vasconcelos, pela incansável paciência na elaboração do projeto gráfico, a Diana Mano Carvalho pela sua valiosa contribuição, ao casal de amigos das Lavras da Mangabeira, Gilson Maciel e Lúcia Macedo, as minhas colegas orientadoras educacionais, enfim, todas as amigas e amigos aqui presentes.

Encerrando com o coração na velocidade da correnteza das águas do Riacho do Rosário nos dias de enchentes, formando remanso, transportando balseiros em seus mananciais, que um dia carregou-me desembocando nos verdes mares bravios de Fortaleza.

E agora? Vamos recordar GUILHERMINA, no seu mais tradicional dizer: “Vamos comer um docinho!

Muito obrigada! Rosa Firmo Beserra Gomes

Foortaleza, 06/08/2003

Roseli
Enviado por Roseli em 10/01/2007
Código do texto: T342962