Orador da 3ª Turma de Cordel em Caicó - RN
Gostaríamos de cumprimentar inicialmente, o nobre artista popular Alexandre Muniz, Representante da Associação União do Sobrado; a Cordelista Dodora, Coordenadora da Oficina de Cordel; O poeta Djalma Mota, abnegado instrutor e amigo de todos; Os poetas populares aqui presentes, pintores, atores e atrizes de teatro, os membros das oficinas de canto, de instrumentos musicais e das demais oficinas e de forma carinhosa ao público amante da cultura popular aqui presente.
Aos alunos da Terceira Oficina de Cordel, gostaríamos de exteriorizar nossa satisfação em poder representá-los neste momento de tanto significado para todos nós. Por isso, fica nosso agradecimento pela honra concedida de termos sido escolhido pelos organizadores para desempenhar o papel de orador da turma, num verdadeiro gesto de cordialidade. Sintimo-nos imensamente feliz por tudo isso.
Durante as aulas da oficina, foi lembrado por todos os participantes que NUM PASSADO NÃO MUITO DISTANTE, as FEIRAS-LIVRES da nossa região ERAM ABRILHANTADAS pelos recitadores de cordéis, frutos do IMAGINÁRIO de cordelistas da envergadura de LEANDRO GOMES DE BARROS, JOÃO MARTINS DE ATAÍDE, MANUEL D´ALMEIDA FILHO e tantos outros que eternizaram seus nomes nos interiores do nordeste brasileiro, QUASE TODOS DOS QUE AQUI SE ENCONTRAM, TIVERAM SEU primeiro contato com a cultura escrita através da literatura de cordel.
E para demonstrar o reconhecimento dos que aqui estão sendo diplomados a esse estilo poético e aos autores de cordel do passado, gostaríamos de conceder a palavra, para fazer a defesa desse tipo de literatura a Carlos Drummond de Andrade, escritor imortalizado pela sua obra, que na sua crônica Leandro, o Poeta, publicada no Jornal do Brasil, em 9 de setembro de 1976, acentuou: “Em 1913, certamente mal informados, 39 escritores, num total de 173, elegeram por maioria relativa Olavo Bilac príncipe dos poetas brasileiros. Atribuo o resultado a má informação porque o título, a ser concedido, só podia caber a LEANDRO GOMES DE BARROS, nome desconhecido no Rio de Janeiro, local da eleição realizada, mas vastamente popular no nordeste brasileiro.”
Ele, Carlos Drumonnd, na referida crônica se justifica para com os desavisados meio que assombrados com a comparação entre os dois poetas, afirmando que um deles era erudito, fruto da forja urbana burguesa, e o outro, da verve sertaneja, por fim, ele conclui: “Leandro não foi príncipe de poetas do asfalto, mas foi, no julgamento do povo, rei da poesia do sertão, e do Brasil em estado puro.”
Infelizmente, é fato, os cordéis desapareceram das feiras livres, no entanto, deixaram sua marca indelével no imaginário dos que hoje estão recebendo o diploma de cordelista. E nós, os formandos, como que atendendo a um chamado de reencontro com nossas raízes, há aproximadamente um ano, comparecemos ao Sobrado do Padre Guerra para apreender a técnica ou a arte de exteriorizar a nossa poesia em cordel, e encontramos neste prédio secular, um ambiente acolhedor que tem nos proporcionado momentos inesquecíveis e revelado o verdadeiro sentido de aqui estarmos presentes.
Para sempre, iremos lembrar a dedicação daqueles que aqui encontramos: Alexandre, Custódio, Dodora, os membros do Coral Meninas do Encanto, do Coral Canto Caá, do teatro, das demais oficinas e tantos outros que fazem da cultura em Caicó um sacerdócio. Mas em especial, agradecemos aos cordelistas que nos antecederam nessa oficina, pois, em momento algum nos faltou o apoio de vocês. Desde o início, vocês nos fizeram sentir que éramos portadores da verve poética, nos convidando para participar de recitais, momentos nos quais percebemos que aqui não se transmite apenas a técnica do cordel, percebemos que as oficinas são apenas um truque, para que os homens e mulheres amantes da cultura popular se reúnam para promovermos em nome da Associação União do Sobrado, a defesa intransigente da cultura popular aqui no Seridó. A poesia, amigos, não se encontra nos trabalhos escritos, nas pinturas, nas representações teatrais, mas nos corações dos poetas. Lá, nas manifestações, iremos encontrar a representação da nossa imaginação poética, que também tem sido identificada nas manifestações, geralmente na forma palmas, assovios e gargalhadas daqueles, o público presente, que ficam se desfarçando de ouvintes, pois poetas todos nós que aqui estamos somos.
Há que se fazer justiça, ainda, em agradecimento, ao poeta Djalma Alves da Mota que é um caso a parte. Voluntarioso, comprometido, incansável, nosso mestre. Djalma Mota, todos nós sambemos, foi nomeado pela providência divina, o Curador do patrimônio imaterial do seu saudoso pai, o Poeta, de saudosa memória, Chico Mota. Esse patrimônio do qual ele é curador se encontra, em parte, gravado e escriturado, ao qual todos nós se desejarmos teremos acesso. Mas existe, também, em grande quantidade na formação que lhe oferecida, Djalma, por seu nobre pai e você, caro poeta, não tem se furtado em transmitir para todos nós. De coração nossos agradecimentos.
Por uma questão de consciência, convidamos todos que aqui se encontram para nos irmanarmos na defesa da cultura popular. Não serão os artistas os beneficiários dessa luta, a produção cultural alimenta o espírito dos que aqui estão presentes, de todos nós, portanto, nós que sentimos fome de cultura. Essa luta não será fácil de ser vencida, porque aqueles que tem vencido eleições sucessivamente, tem a certeza de que nada mudará. E para demonstrar que esta certeza é antiga, gostaríamos, com a permissão de vocês, em repúdio àqueles poderosos que ignoram a cultura, que dão calote nos artistas, que lhe negam apoio financeiro, que desviam o dinheiro da cultura, que MENTEM, de ler um trabalho do cordelista LEANDRO GOMES DE BARROS, denominado AVE MARIA DA ELEIÇÃO:
No dia da eleição O povo todo corria, Gritava a oposição: Ave Maria!
Viam-se grupos de gente Vendendo votos na praça E a urna dos governantes? Cheia de graça.
Uns a outros perguntavam: - O senhor vota conosco? Um chaleira respondeu: Este O Senhor é convosco
Eu via duas panelas Com miúdos de dez bois Cumprimentei-as, dizendo: Bendita sóis!
Os eleitores, com medo Das espadas dos alferes, chegavam a se esconderem: Entre as mulheres...
Os candidatos andavam Com um ameaço bruto, Pois um voto para eles É bendito fruto.
Um mesário do Governo Pegava a urna, contente e dizia: Eu me gloreio Do vosso ventre!
Amigos, que Deus continue nos iluminando e dando força àqueles que tanta alegria tem nos oferecido. Viva a oficina de Cord