Os empresários da fé e o lucrativo negócio das almas no Brasil
Por Jodinaldo de Lucena Sobrinho
O Brasil é um país com profundas desigualdades sociais, marcado por desequilíbrios regionais, onde o desenvolvimento capitalista se deu de forma tardia em relação às potências. O falso discurso do pretenso ‘’progresso’’ contrasta com a dura realidade de 50 milhões de brasileiros vivendo na miséria (aproximadamente 1/4 da população). O fantasma do analfabetismo persegue 14 milhões de pessoas e grande parte da população não consegue compreender o significado de um pequeno texto. O desemprego e a violência marcam a vida da juventude sem perspectivas de futuro, engrossando uma enorme população carcerária, vivendo em campos de concentração capazes de deixar qualquer nazista de cabelo arrepiado.
Um país com essas características, marcado por um desenvolvimento desigual e combinado do capitalismo, em que a riqueza e o atraso coexistem, tornou-se um celeiro fértil para difusão de um poderoso mercado religioso, concentrando nas mãos dos empresários da fé grande poder político e econômico. As igrejas funcionam como empresas cuja missão consiste em bestializar trabalhadores a serviço de empresários religiosos. O vertiginoso crescimento do protestantismo é o indicador que pode atestar o sucesso da propaganda neopentecostal no sentido de arregimentar almas para as fileiras desse promissor mercado de picaretas da fé.
Cenário político: empresários da fé atuando nos bastidores
No cenário econômico o empresariado da fé já detém canais de TV, rádio, gravadoras, editoras, escolas, universidades e o capital oriundo do mercado das almas já penetra em todos os poros da sociedade capitalista. No parlamento, os religiosos constituíram uma Bancada Evangélica para fazer lobby, cujos interesses escusos estão, inclusive, a revelia das reais necessidades das ‘’almas’’, não se diferenciando, por exemplo, de uma bancada de ruralistas (latifundiários).
Os executivos da fé utilizam a sua poderosa máquina de propaganda para perseguir politicamente os movimentos sociais (movimento LGBT), desfechando todo seu ódio e homofobia contra os homossexuais. Não tardará o dia em que seus holofotes se voltarão para perseguir os demais oprimidos da sociedade. Lançam mão de grande poder político e econômico para impor seus interesses a toda sociedade. As figuras parlamentares não passam de simples marionetes nas mãos dos ‘’pescadores de almas’’.
Investir pesado no marketing é o segredo do sucesso
O pastor/empresário sabe que apenas com o dízimo minguado dos fiéis não se pode manter uma máquina gigantesca que são as empresas. As igrejas não são as únicas fontes de recursos, existe um amplo leque de empresas que sustentam o luxo e suntuosidade dos bufões que precisam de bom ambiente para relaxar, enquanto planejam métodos eficientes de pescar almas.
Milhões de reais são revertidos em propagandas para expansão dos mercados, os tradicionais truques do mercado capitalista como investimento, propaganda e derrubada dos concorrentes são os métodos aplicados para aumentar a influência.
É necessário derrubar o concorrente
Para manter o controle dos dízimos e ofertas, para assegurar que o dinheiro não seja desviado por nenhum picareta subalterno no meio do caminho, as altas cúpulas impõem nas igrejas uma rígida hierarquia de funções: diáconos, contadores, tesoureiros, etc., tudo para ter certeza de que a encomenda milionária chegará a suas mãos.
Mas as empresas da fé também formaram especialistas em pescar almas no quintal dos outros. Como os pastores não podem invadir as igrejas de seus adversários para pescar as almas do concorrente, os missionários passam de casa em casa, disputando corpo-a-corpo, os fiéis. Mas isso não é o suficiente, como se não bastasse, é necessário fazer as cerimônias religiosas no meio da rua, com potentes caixas de som abordam os transeuntes desavisados e toda vizinhança.
Um discurso eficiente e a promessa de um futuro promissor (no céu)
Conscientes dos aspectos sociais e econômicos que afligem a população os empresários de fé, munidos de técnicas psicológicas, lançam discursos esperançosos, sustentando que todos os problemas serão resolvidos de maneira sobrenatural.
Curas, solução para conflitos no lar, dor, cansaço etc., são os artifícios utilizados para convencer, de maneira bastante sedutora, os desavisados que estão apostando em qualquer coisa para resolver seus problemas por meio da fé. A maioria dos discursos segue esta lógica de raciocínio e se aproveitam das mazelas da sociedade para utilizá-las como instrumento no recrutamento daqueles que sofrem. As igrejas crescem apostando na desgraça dos outros e na infelicidade de suas almas para mantê-las aprisionadas na crença de um futuro feliz após a morte.
Materialistas para deus, idealistas para os fieis
Supostamente deus seria o dono de tudo, ‘’criador’’ de todas as coisas, mas porque ele precisa de 10% de toda renda de seus seguidores para manter a regalia de sultão dos pastores? Tal pergunta é meio embaraçosa para aqueles que vivem pregando contra o materialismo, mas vivem à custa do trabalho alheio. Enquanto que boa parte das almas vive em condições de miséria social os funcionários divinos desfrutam de boas condições materiais de existência.
‘’A religião é o ópio do povo’’.
Natal, 04 de dezembro de 2011
Contato: jodinaldolucena@hotmail.com