Non Possum Scire

Discurso produzido para a Academia de Oratória de Mont'Alverne.

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Vulpina dama esta que se instala, atroz, no âmago dos humanos; é bailarina de ressacas, parecendo comandar as desgraças. Vem como quer nada, de leve, de mansinho, pisando os arcabouços que espalha. Pelo caminho, vai contando os corpos; não esquece vítima alguma. É de dar mais sota e ás que os galhardos que devora.

Por mais que queiram se libertar, ela vem do horizonte, nascida das mercês, faminta. Quanto mais dela se tenta abjugar, mais ela preme. Mais e mais agrilhoa.

Mas não é todo mal que vos engazopa, embuçado de glórias. Vossa senhoria aduz virtudes, assim como todo pecado que marcha. Tamanhas são estas, que vos pergunto: Será? Será que é tão terrífico o desconhecimento? Afinal, foi ele que efluiu esta fala de uma mente, ou vazia, ou muito cheia para se decidir.

A indecisão é a mãe dos juízos. Se não tem opção, engole. Se puder escolher, medita, indaga e chega ao veredito. Eis o dilema: e se não consegue escolher? Que será do coitado que não decidiu? Encontrei-me, infaustamente, nesta situação.

Não sei que tema legar. Não sei o que falar. Não sei o que aclarar.

Mas se não sei, recorro ao que posso saber: nada. Discurso sobre a ilusão de saber. Por ora, elucido o vício da santa ignorância. Proclamo a meretriz vacilação.

O leque de tópicos é magno e eu, ancho por si só, quero o melhor expressar. Não sou tolo o suficiente para algo escolher, se este não me vem. Mas creio que por bem dissertaria sobre tal.

Como já foi ingentemente relatado, estamos numa fase cheia de escolhas, caminhos, dúvidas. Então, por que não falar sobre isto? Porque não indagar o futuro? Questionar o presente; buscar as mais sinceras exclamações dos que, como todos, julgam com um mero olhar?

Os revides são muitos e podem amolgar. São exatamente o começo desta alocução, adjetivador da incerteza. Tudo o que quero saber está bem diante de mim, mas no horizonte; este que é “mater dolores” (mãe das dores), a figura zeladora e carinhosa, que passa a mão na cabeça e se ceva bem com nossos medos.

Não sei o que esperar do amanhã; só tenho a erudição de que o melhor é ter a esperança de que a próxima numa estaca de ouro branco, inerte, seja uma refece cria do porvir. Mas, afinal, como diria Sócrates: “Só sei que nada sei.”.

Disse.

A Portiér
Enviado por A Portiér em 20/10/2011
Reeditado em 20/10/2011
Código do texto: T3287908
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