Pequena apologia aos cães que crio

Eles ficam por ali, estirados no chão, serenos, saciados

Sei que estão atentos aos sons e odores do local

Dormitando, parecem indiferentes

Mas se me levanto ou sussurro o nome de algum deles

Logo demonstram receptividade e começam a balançar

A cauda, a demonstrar alegrias como quem sorri silenciosamente!

São pensadores calados, os pelos lhes cobrem os olhos...

Penso neles e no santo de Assis que os tinha como irmãos

Os considero assim também, porque são ternos

Logo esquecem qualquer reprimenda e estão de volta

Com a mesma afeição e paz de criança brincalhona

Teêm um jeito, que só eles sabem expressar pra nós

Nós, que os amamos, sim, porque tem gente que não gosta deles

Apesar deles serem quase sempre receptivos,

Humildes e como que carentes

Se se expressam com rosnados bruscos e às vezes raivosos

Mostram seus dentes

É porque são animais como nós e isso não é nada artificial

São bichos engraçados, graciosos, mas que se

Defendem, são instintivos.

Podem ser tidos por bobos, por vadios

Mas para mim são irreverentes e inteligentes.

Não sei se existe alguma raça deles que seja como alguns de nós

Que quando ofendidos esperam uma vida inteira para se vingar

Li que um velho grego ao voltar, muitos anos depois de uma guerra

Somente o seu cão o reconheceu ao se lembrar!

Se guardam lembranças parecem que são na maioria as boas.

Deles sei que são bons companheiros dos homens

do campo, da cidade, de qualquer lugar, de cegos e crianças...

Ajudam policiais e estão ao lado de quem os adota, sejam idosos

Personagens de quadrinhos, estadistas, filósofos, quem for...

Os vejo na maior parte do tempo como humanos

Se não filosofam, se não fazem discurso, dão lição

Capaz de calar qualquer sofista desenfreado

São bichos com sentimento de quem pensa menos

E ama e age mais, a natureza deles está impregnada de amizade

De carícias recíprocas e porque não dizer: perdão!

Quando chego em casa são calorosos ao me receberem

Se os acaricio, deleitam-se como se estivessem desfrutando do paraíso.

O simples jeito cachorro, seus gestos e movimentos

A língua de fora, o focinho úmido, olhos, dentes e patas

Tudo isso me faz gostar de abraçá-los e estreitá-los

Contra meu rosto e peito chamando-os pelo nome

Abraço-os como a uma pessoa querida

Sinto seu pêlo, cheiro, calor e ouço a sua

Respiração, as batidas do coração e me irmano a eles

E aos verdadeiros devotos de Francisco de Assis

Um santo tão humano, tão amigo dos bichos

e tão devoto de Jesus Cristo.