HOMENAGEM A CAXIAS NO DIA DO SOLDADO
                        
(Um discurso da juventude, quando patriotismo ainda empolgava os jovens.)                           


     Esta mensagem é a centelha que há de incandescer as vossas consciências e tocar bem profundamente os vossos corações, num esforço preliminar, para juntos vibrarmos em exaltação à vida, obra e personalidade do herói. Do herói que foi Luís Alves de Lima e Silva, patrono do Exército brasileiro, um dos expoentes máximos da nossa Pátria, incluído hoje entre os grandes capitães da História.

     Ante o vulto olímpico de Caxias, reconheço quão difícil é a tarefa de cantar as suas virtudes militares, morais e cívicas. Porém, como brasileiro que sou, fiel às nossas tradições democráticas, só tenho a agradecer o prazer e a honra que me distinguiu o Tiro de Guerra 116, em conceder-me esta oportunidade de falar sobre o herói aos seus atiradores.

     A vida de Caxias ai está, todos nós a conhecemos e constitui uma página brilhante não apenas da História Pátria, mas, também da História da Humanidade. Dessa humanidade que ele foi e será, certo, enquanto existirem homens e Universo, uma das mais lídimas expressões. O seu caráter ínclito, a sua combatividade como soldado, e, sobretudo, a sua formação de respeito à dignidade humana, atribuíram-lhe todo um conceito que foi mantido intacto de gerações a gerações, como modelo de cidadão e soldado. Não poderia ser de outra foram, porque, o valor de Caxias revelou-se sobejamente não apenas usando a espada como instrumento de luta, mas a pena e a palavra que em circunstancias especiais, na mesa de negociações, podem proporcionar maiores vitórias com a força do argumento, do direito e da razão.

     Pautando-se nesse comportamento, Caxias empreendeu uma epopéia memorável no decorrer de sua vida militar. Começou em terras da Bahia, onde lutou com outros companheiros e venceu os últimos redutos portugueses que persistiam em escravizar o Brasil. Veio a Campanha Cisplatina e os memoráveis feitos de Itororó, Avahi e Lomas Valentinas atestaram o seu gênio estrategista. Depois vieram as insurreições internas. Em diversos pontos do País surgiram quarteladas e conspirações contra o governo legal. A Abrilada, Balaiada, Sedição de Sorocaba, Rebelião de Barbacena e Farroupilha. Todas foram sufocadas e Caxias, usando o seu espírito pacificador, não raro concedia anistia aos insurretos, como no caso de Farroupilha.
     
     Todavia, a atuação de Caxias foi além de nossas fronteiras. Consagrou-se nas lutas contra a tirania, esmagando ditaduras que aniquilavam os povos vizinhos e ameaçavam a soberania e a segurança do Brasil. Foi assim que aterrou as pretensões de Oribe, no Uruguai, Rosas, na Argentina e Solano Lopes no Paraguai.
Seria longo, meus senhores, e ao mesmo tempo impossível, ante a exigüidade do tempo, dizer-vos um mínimo do que foi a trajetória do diplomata soldado, do soldado apóstolo como bem o definiu o cronista e historiador cruzalmense Mario Pinto da Cunha, cujo elogio publicado em uma dessas datas de Caxias, permito-me ler como um dos seus melhores panegíricos:

ESPÍRITO DE CAXIAS
Aquele Império independente, fundado pelo gesto romântico e cavalheiresco do seu primeiro titular, teve sempre ao lado numes protetores.
Foi a fase áurea da Nação, à época dadivosa em estadistas, diplomatas financistas, intelectuais e chefes militares. É esse o grande momento dos nossos fastos, do qual, salvo raras exceções, só temos por que nos orgulhar.
Pródiga a natureza, que se exauriu, então, ao que parece, a gerar Homens, cujos vultos olímpicos emergem hoje do fundo dos tempos das páginas da História, maiores assim, à distância a contemplar, aturdidos, o imenso deserto.
Havia emulação entre as regiões do vasto continente de Vera-Cruz, no doar à Pátria filhos ilustres que surgiam, à porfia, dos campos de Piratininga, dos agrestes do norte, dos gerais do oeste, das coxilhas e campanhas do sul, da terra mater do recôncavo.
Essa época que teve a beleza épica das cargas de cavalaria de Osório, das abordagens homéricas de Barroso, da epopéia da retirada de Laguna, dos entreveros gaúchos de Canabarro e das Cruzadas de Caxias Grandes idéias e grandes chefes, nobreza e cavalheirismo, caudilhismo e bravura.
No mar ou em terra, tinham as lutas o elã do heroísmo simples das tragédias gregas. Era Greenhalg, adolescente e imberbe, deixando-se abater pelos sabres paraguaios, em defesa da bandeira que lhe fora confiada; era o corneteiro Lopes, já ferido de morte, a vibrar, de envolta com o último alento, a clarinada do toque de avançar.
Foi em meio a esse ambiente austero e varonil. que veio à luz – um século a 25 de agosto último – Luiz Alves de Lima e Silva, o Bayard brasileiro, como esse cavalheiro “sans peur et sans reproche”. Embora político à feição aristotélica, foi sobretudo militar cuja vida foi inteira dedicada a “combater o bom combate”, de que nos falam as Escrituras. O vulto sereno e másculo deo Duque de Caxias perpassa por quase toda a fase imperial, qual arcanjo protetor das instituições , à sombra benfazeja a pairar onde sempre houve discórdias a dirimir, harmonia a refazer, erros ou desmandos a corrigir. Foi o diplomata soldado, o soldado apóstolo que não conheceu as humanas fraquezas nem o travo da derrota, o que tudo o coloca no ápice de nossas glórias militares , ao lado dos maiores capitães da História.
Na hera do Pacificador, do Condestável do Império arde, permanente a chama votiva da saudade, , homenagem da Nação ao leal filho servidor, símbolo da flama que foi o fanal da sua vida, essa que desventuradamente não mais ilumina, como outrora, o espírito nem o coração dos nossos homens públicos.


     Ai está a definição preclara de um cidadão que poder-se-ia dizer soldado exemplar pela sua capacidade estratégica no campo de batalha e pela sabedoria e habilidade de conquistar vitórias no campo diplomático.

     Sede portanto fiéis à memória de Caxias, cujos brados memoráveis devem ainda ressoar, no presente, em permanente vigília das franquias democráticas, do poder representativo, das liberdades individuais, dos direitos humanos e do livre pensamento. Lembrai-vos ainda, que Caxias foi o campeão do respeito à justiça, e nos seus posicionamentos nunca houve lugar para a prepotência e a tirania que aliadas à violência vilipendiam a dignidade humana.

Soldados!

     A minha palavra neste dia, além de um canto épico em louvor ao cidadão soldado que foi Caxias, quero que seja uma palavra de otimismo em relação ao presente. Sim, porque não mais podemos raciocinar em termos de Brasil, encarado tão somente como “o país do futuro” segundo expressão célebre de Stephen Zweig.

     Temos que viver o presente, estruturando a nossa economia em bases sólidas, contribuindo com a força do nosso trabalho físico e intelectual para o aprimoramento da tecnologia agrícola e industrial, fatores que conduzem à grandeza e ao desenvolvimento de um povo.
Ficai certos de que a obstinação do nosso povo no sentido de construir o presente, garantirá o futuro glorioso que todos almejamos.

     O mundo de hoje vive momentos de convulsões, onde as nações poderosas se degladiam por conquistas econômicas, ideológicas e mesmo de espaço vital. E o Exercito e povo brasileiros devemos estar alertas para salvaguardar as conquistas que nos legaram os nossos antepassados à custa de suor, lágrimas e sacrifícios: a integridade de nosso território tão extenso e rico que tem despertado a cobiça estranjeira. A defesa de nossas riquezas consubstanciadas na flora, fauna , hidrografia e minerais estratégicos. A defesa da democracia, única filosofia de governo compatível com as nossas tradições libertárias e, finalmente, preservar a paz e o trabalho fecundo, que nos darão a segurança de desenvolvimento e de uma vida melhor para todos os brasileiros.

     Encaremos com entusiasmo e orgulho a idéia de que o nosso país preservará sempre a sua autodeterminação. Será uma força livre e forte cujo potencial de riqueza não justificaria a opção ingrata e repugnante de marchar à reboque e sob tutela de nações outras, sejam do oriente, sejam do Ocidente.

     Faço minhas neste instante, as palavras do ex-presidente Getúlio Vargas que numa saudação aos militares, certa feita, assim se expressou: “Encarai com orgulho a nossa bandeira. Ela é verde e encerra todas as nossas esperanças. Esperamos confiantemente que as Forças Armadas jamais permitirão que outras bandeiras tremulem mais alto do que a nossa e todos os bons brasileiros, no momento preciso, acorrerão aos seus quadros, unidos na exaltação da mesma fé e decididos a viver para a Pátria ou morrer pela Pátria.

     Que seja, pois, este espírito o vosso guia e farol, jovens cidadãos e soldados do Brasil Que seja este espírito que foi o espírito de Caxias, a fonte inspiradora e norteadora de vossas ações , do vosso modo de pensar e de agir, como cidadãos e soldados de uma Pátria livre, soberana e altaneira que há de ascender e brilhar como estrela de primeira grandeza na constelação de nações do Universo.