DA GRAMÁTICA AO DISCURSO: Língua e linguagem

DA GRAMÁTICA AO DISCURSO:

Língua e linguagem

Como se caracterizar o percurso da gramática ao discurso, e como se insere nesse percurso as noções de língua e linguagem? Inicialmente, se se observar a noção de gramática diacrônica ou sincronicamente, ver-se-á que não existe uma definição precisa para “gramática”, pois não há apenas uma gramática, mas várias. Contudo, em geral, pode-se conceituar como uma tentativa de descrever e sistematizar a língua.

Como uma das grandes problemáticas entre a gramática e o discurso reside na dicotomia língua/fala de Saussure, cabe aqui esclarecer sua origem. Nesse sentido, a razão pelo qual o genebrino optou pelo estudo da língua, remete-se há +-400 anos AC, quando a fala era valorizada por meio dos estudos da Oratória fundada por Sócrates. Contrário a está disciplina, a Platão com sua escola prioriza o estudo da lógica (busca do conhecimento pela razão). Nesse embate, a retórica tornou-se desprestigiada. Em consequência disso, sofreu um processo de exclusão, ficando mais associada à política e a estilística. Com isso, a lógica, portanto, deu origem a formação do pensamento linguístico, além de influenciar o fundamento das ciências modernas do século XVI, bem como o surgimento das primeiras gramáticas latinas.

No século XVIII, período do movimento Iluminista, destaca-se a gramática de Port Royal baseada em princípios lógicos que discute questões, acerca do sujeito, predicado, termos acessórios etc.

No século XIX emergem uma nova tendência no estudo da língua denominada gramática histórico-comparativa. Essa tendência se originou a partir do descobrimento de uma língua indiana antiga chama Sânscrito na qual se observaram traços semelhantes com as línguas românicas. Essa constatação levou estudiosos a comparar a estrutura e os elementos de línguas cuja origem é comum a fim de detectar a língua mãe ou original da qual se desenvolveram.

No final do século XIX, surge o Estruturalismo, denominado assim pelos discípulos de Saussure após sua morte. Esse novo paradigma, do qual se originou as gramáticas estruturais, define a língua como estrutura ou sistema, como chamava o grande mestre. Tal sistema caracteriza-se por diversas unidades que se interrelacionam por meio de regras geradas no interior do próprio sistema.

Como abordado inicialmente, segundo a tradição lógica, Saussure priorizou o estudo da língua como entidade social em detrimento à fala, individual. Nesse sentido, como a língua foi sistematizada e estudada em si mesma, dentro de critérios postos por Saussure, as gramáticas oriundas desse paradigma, tornaram-se como programas de computador, uma língua ideal e afastada da realidade do homem.

Embora as gramáticas Estruturalistas tenham essa característica, deve-se destacar a contribuição de Saussure por ter transformado a língua em ciência, e também por uma diferença em relação à tradição lógica: enquanto na concepção língua/pensamento o referente está no mundo, na concepção de língua como sistema o referente está no interior da língua. Com essas considerações acerca das gramáticas desde a idade clássica até o Estruturalismo, nota-se que não se levou em consideração a presença do homem do âmbito da língua. Portanto, percebe-se que a noção de língua pode ser encontrada exatamente nessa concepção de Saussure de entidade fechada, prática social, abstrata e distante do homem. Todavia, foi a partir dessa observação que muitos estudiosos questionaram as teorias estruturalistas, passando a ver a língua não só como sistema, mas na prática funcional dos elementos que compõem esse sistema. Isso, portanto, iniciaria um processo de inclusão do homem na língua, permitindo-o se expressar por diversas formas e concretizar suas várias práticas sociais por meio da língua. Nesse sentido, as circunstâncias de comunicação é que motiva o uso da língua ou do sistema e não o contrário. Assim, é dessa capacidade variada de o homem se expressar que vem a noção de linguagem, portanto bem mais ampla do que a noção de língua.

Pretende-se ainda destacar as contribuições do Linguista Noan Chomsky, nos anos 60. Ele desenvolveu o que mais tarde deu origem as Gramáticas gerativas. Embora, assim, como Saussure, tenha preferido adotar a concepção lógico-semântica em seus estudos, desprezando o desempenho (a fala) e priorizando a competência (a língua), sua diferença em relação a Saussure foi o fato de ter trazido a língua da abstração para as questões biológicas. Esse aspecto cognitivo enfatizado pelo estudioso, os quais dizem que os homens nascem com uma capacidade inata de desenvolver a língua, apontam para uma nova característica que será amplamente explorada na linguística: a cognição.

Segundo Marcuschi (2008), a partir dos estudos funcionalistas, nos anos 60 surgiram diversas disciplinas, tais como: a pragmática, a Sociolinguística, a Psicolinguística, a Análise do Discurso, a Linguística Textual e a Linguística sócio-cognitiva. Com isso, percebe-se maior preocupação com as questões sociológicas, no que diz respeito ao homem como ser inserido na sociedade e, portanto, historicamente constituído. Um ser que se expressa por meio de uma infinidade de signos que constituem a linguagem. Paralelamente a isso, concretiza essas expressões por meio do sistema linguístico na prática discursiva. Dessa forma, nota-se que para isso acontecer não se pode dissociar a gramática do uso concreto da língua. Tais características deram origem à denominada Gramática cognitivo-funcional.

Em síntese, como se pode observar, dos estudos de Platão e Aristóteles até as Gramáticas Estruturais não se podia falar em linguagem, pois representavam um conhecimento universal e uma língua pronta e encerrada em si mesma. Por conseguinte, o homem estava excluído do âmbito da língua e, portanto, não lhe permitindo ter força expressiva e subjetiva para modificá-la. Em desacordo com essa concepção, os Funcionalistas priorizaram não somente o estudo do sistema, mas, sobretudo, da função que esses elementos exercem na língua. Nesse sentido, tornou-se imprescindível o homem como elemento que se expressa de diversas maneiras e que, portanto, atribui uma configuração sua à língua.

LeandroFreitasMenezes
Enviado por LeandroFreitasMenezes em 08/08/2011
Código do texto: T3146375
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