Monólogo Autista
Fugi do mundo por algumas horas. O mundo que era nosso. O mundo que criamos em um pôr de sol qualquer. Não era nada de especial, mesmo sendo esta data. Era importante pra ti, e pra mim era ainda mais. Era importante que tivéssemos um certo tempo para discutir sobre isso anteriormente, e...espere! Tivemos. Tivemos e discutimos. Discutimos longas horas o que no futuro seria uma discussão. Debatemos harmoniosamente sobre a desarmonia, a desordem, as diferenças...aquelas que viriam sem dó, destruir o pequeno mundo que mal começamos a construir. Fui eu quem atirou a primeira pedra. Fui eu quem retirou o primeiro bloco mal consolidado. Fui eu quem sapateou sobre o cimento antes que este se solidificasse por completo. Eu.
Retirei o mundo de seu lugar, o chacoalhei, e o deixei de lado. Te odiei mil vezes, por te amar tanto...e isso é até poético, se posto em uma canção, mas não é nada belo de se sentir, garanto. Meus motivos são fúteis, e não fizestes nada. Eu fiz, estou fazendo, faço. Estou criando o caos onde tentei pôr ordem. Estou desmontando os blocos que tanto fiz para montar. Me vejo infantil, fazendo tolice, sentada no chão, desmontando meu "lego". Me sinto infantil, quando agarro a tua blusa, pedindo pra não ires. Pedindo pra não me deixares, mesmo que por uma noite apenas, te pedindo pra ficar, pra fumar mais um cigarro, pra esquecer essas pessoas que não fazem parte do nosso mundo...
Perdoe-me novamente. Acho que exagerei neste universo paralelo. Acho que acreditei assim, tão piamente, que ele era real, que o tornei real apenas pra mim...esqueci que tu sabes brincar. Todo o resto do mundo sabe brincar, menos eu. Meu tempo é outro, meu mundo é outro, de onde eu nunca deveria ter saído. Meu certo as vezes é o errado de todo o resto. Sou o soldado que marcha ao contrário, culpando o resto do pelotão de estar errado. Sou quem destrói o próprio esforço, quem destrói a própria sanidade, quem destrói o próprio coração, sem precisar de ajuda, sem precisar de um motivo. Qualquer coisa que eu vejo agora me faz pensar que tu voltastes, que nunca fostes, mesmo que tenhas acabado de sair. Mesmo que agora eu deseje que nunca tivesses entrado...e ao mesmo tempo te queira perto, te queira ao lado, te queira minha. Só pra mim, e pra mais ninguém.
Não consigo conceber como posso te amar, te adorar, te desejar tanto...e ao mesmo tempo querer tanto ir embora, e te deixar livre para outras paragens, outros paraísos...paraísos oníricos, que tanto se diferem de mim.
Não consigo conceber ainda mais como não te amar. Como ver teu carro partir e não ficar parada por horas, no mesmo lugar, com o cigarro entre os dedos, e a vontade de pular o muro, e correr insanamente atrás de ti, ou te ver se materializar, milagrosamente, ao meu lado de novo.
Eu sou egoísta. A personificação do egoísmo. Meu "lego", é meu ego, que desmonto e monto ao meu bel prazer. Estou tentando ser normal, aceitável...quem sabe até(utopia) um pouquinho feliz. Não dá. Não sei, e desconheço. Como é possível sentir falta de algo que nunca se teve, de fato? Não sei. Não sei de mais nada. Te quero feliz...te quero bem, e me quero do mesmo jeito. Me quero melhor. Me queria melhor pra te fazer feliz, e bem. Queria que não fosse assim...queria que fosse perfeito, do nosso jeito, no nosso mundo, que não existe. Que só existe pra mim.
A pior parte; não te deixei. Não me deixastes. Não me deixastes mesmo quando te pedi pra me deixar. Mesmo quando te implorei pra ir embora, pra não olhar pra trás, pra me deixar te deixar em paz...tu preferistes ficar, e me dissestes que não desistirias de mim...e isso foi, de fato, muito pior. Porque agora eu sei que o que aconteceria de uma vez só, acontecerá a longo prazo. Tomarei, vez ou outra, essas doses homeopáticas de decepção, de angústia, de frieza ou mágoa(alternadas ou juntas), como esta primeira, que tomamos hoje. O mesmo dia do pôr do sol qualquer.