Após receber muitos pedidos para utilização parcial dos meus discursos, declaro que não autorizo utilização parcial ou total de nenhum deles. Lamento que haja gente ignorante que considere minha obrigação permitir que utilizem-no sem o devido crédito só porque está publicado. Se fosse um discurso de um escritor renomado seria considerado plágio, porque não neste caso? Não vou mais discutir esse assunto e nem autorizar comentários mal educados a respeito do assunto. (reeditado em set/2012)


Discurso Paraninfo – Turma 2006 

Senhores Diretores,
Senhor Patrono,
Senhores professores,
Senhores Pais,
Formandos e formandas,
Demais autoridades presentes,

Meu cordial boa noite a todos. Peço licença para, neste momento, dirigir-me aos formandos, os quais tive o prazer de conduzir até o presente momento dentro da sala de aula e cuja formatura traz momentos de alegria mesclados de certa saudade antecipada pela separação inevitável e necessária.
Quando fui escolhido como Paraninfo dessa turma, recebi com muita alegria a notícia. O motivo é simples: considero que seja um reconhecimento pelo período em que mantivemos uma convivência muito mais profunda do que um simples relacionamento educador-educandos. Sempre mantive comigo a idéia de que o papel do professor é muito mais do que levar conhecimento puro e concreto a cada um de vocês. Dentro desse contexto, cabe-nos conduzi-los por caminhos que serão responsáveis por escolhas que perdurarão por toda uma vida. São essas opções pessoais e definitivas que farão de vocês adultos conscientes do seu potencial e da sua essência primordial. Nossa convivência ao longo desses anos de formação acadêmica nos deu a proximidade para que pudéssemos interagir e nos tornarmos amigos.
Como bem disse Hermann Hesse: “Nada lhe posso dar que já não exista em você mesmo. Não posso abrir-lhe outro mundo de imagens, além daquele que há em sua própria alma. Nada lhe posso dar a não ser a oportunidade, o impulso, a chave. Eu o ajudarei a tornar visível o seu próprio mundo, e isso é tudo”.
Isso nada mais é do que apontar os caminhos e permitir que cada um de vocês explore o que lhes é inerente e habita cada um de maneira peculiar e personalíssima.
Platão, quando fala sobre o Mito da Caverna em sua obra “A República”, trata exatamente desse ponto. A descoberta de mundos novos e conceitos diferenciados que podem influenciar uma vida inteira:
Imaginemos uma caverna subterrânea onde, desde a infância, geração após geração, seres humanos estão aprisionados. Suas pernas e seus pescoços estão algemados de tal modo que são forçados a permanecer sempre no mesmo lugar e a olhar apenas para a frente, não podendo girar a cabeça nem para trás nem para os lados. A entrada da caverna permite que alguma luz exterior ali penetre, de modo que se possa, na semi-obscuridade, enxergar o que se passa no interior. A luz que ali entra provém de uma imensa e alta fogueira externa. Entre ela e os prisioneiros - no exterior, portanto - há um caminho ascendente ao longo do qual foi erguida uma mureta, como se fosse a parte fronteira de um palco de marionetes. Ao longo dessa mureta-palco, homens transportam estatuetas de todo tipo, com figuras de seres humanos, animais e todas as coisas.
Por causa da luz da fogueira e da posição ocupada por ela, os prisioneiros enxergam na parede do fundo da caverna as sombras das estatuetas transportadas, mas sem poderem ver as próprias estatuetas, nem os homens que as transportam.
Como jamais viram outra coisa, os prisioneiros imaginam que as sombras vistas são as próprias coisas. Ou seja, não podem saber que são sombras, nem podem saber que são imagens (estatuetas de coisas), nem que há outros seres humanos reais fora da caverna. Também não podem saber que enxergam porque há a fogueira e a luz no exterior e imaginam que toda a luminosidade possível é a que reina na caverna.
Que aconteceria, indaga Platão, se alguém libertasse os prisioneiros? Que faria um prisioneiro libertado? Em primeiro lugar, olharia toda a caverna, veria os outros seres humanos, a mureta, as estatuetas e a fogueira. Embora dolorido pelos anos de imobilidade, começaria a caminhar, dirigindo-se à entrada da caverna e, deparando com o caminho ascendente, nele adentraria.
Num primeiro momento, ficaria completamente cego, pois a fogueira na verdade é a luz do sol, e ele ficaria inteiramente ofuscado por ela. Depois, acostumando-se com a claridade, veria os homens que transportam as estatuetas e, prosseguindo no caminho, enxergaria as próprias coisas, descobrindo que, durante toda sua vida, não vira senão sombras de imagens (as sombras das estatuetas projetadas no fundo da caverna) e que somente agora está contemplando a própria realidade. Libertado e conhecedor do mundo, o priosioneiro regressaria à caverna, ficaria desnorteado pela escuridão, contaria aos outros o que viu e tentaria libertá-los.
Que lhe aconteceria nesse retorno? Os demais prisioneiros zombariam dele, não acreditariam em suas palavras e, se não conseguissem silenciá-lo com suas caçoadas, tentariam fazê-lo espancando-o e, se mesmo assim, ele teimasse em afirmar o que viu e os convidasse a sair da caverna, certamente acabariam por matá-lo. (Trecho retirado da Wikipédia)

Esse é o Mito da Caverna de Platão, que não se aplica no todo à essa nova fase que vocês irão vivenciar daqui para frente mas uma coisa é certa: vocês estão saindo de suas cavernas e deixarão de ver as sombras para encontrarem as imagens reais. A verdade é a luz que cega a princípio, mas depois fará com que vejam as coisas sob uma óptica totalmente diferente do que foi visto até agora. Um mundo novo se abre diante de cada um de vocês e não será necessário que se salvem dos conceitos antigos, apenas permitam que o novo venha e estejam preparados para assimilar cada mudança positiva ou negativa e optar pelo que lhes serve. A universidade fará isso. Sejam seus próprios filósofos, sem qualquer medo de conhecer o universo novo que começa a desfraldar a bandeira acenando-lhes para novas oportunidades e conhecimentos talvez jamais imaginados.
Tenho certeza de que seus pais, seus professores, seus amigos, enfim, todos aqueles que investiram de alguma maneira para que esse momento acontecesse, estão agora convencidos de que tudo valeu a pena, cada momento, cada expectativa, cada emoção vivida ao longo desses anos de formação pessoal e acadêmica. Sei que eles apostam na vitória de cada um de vocês, pois sabem que lhes permitiram sair de suas cavernas e partirem rumo ao novo, ainda que desconhecido porém preparados para assumir qualquer opção que lhes for permitida escolher.
E, assim como eles, eu também tenho certeza de que todos sairão daqui vencedores e permanecerão nesse patamar, conscientes e preparados para mais uma etapa de suas vidas. Agradeço a Deus por ter-me dado a oportunidade de partilhar esse caminho e não me despeço, apenas digo um até breve, pois sei que momentos como esses sempre farão parte das nossas vidas e estarão sempre vivos enquanto pudermos nos lembrar deles.
Agradeço pela oportunidade de estar nesse presente momento proferindo estas palavras e me despeço desejando-lhes sucesso hoje e sempre nessa jornada que apenas se inicia. 

Akasha De Lioncourt
Enviado por Akasha De Lioncourt em 29/11/2006
Reeditado em 05/12/2013
Código do texto: T304674
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