A Escolha da Profissão
Desde que as crianças aprendem coisas como andar e falar, muitos pais já têm traçados os planos futuros dos filhos. Vai ser isso, aquilo... e estes pais educam os filhos, desde pequenos, a gostar do que eles querem que gostem. Um caso muito esclarecedor é time de futebol. Qual pai fanático por futebol nunca chegou para o filho e lhe ensinou a falar, logo após "papai" e "mamãe", o nome do seu time ("Fala: M E N G O")? Ou nunca levou o filho pequenino ao estádio, a fim de torcer com ele? Não lhe deu uma miniatura de camisa oficial? Não sei qual o fundamento psicológico disso, mas é uma evidência de que muitos pais não estão dispostos a trocar a sua própria vontade pela vontade dos filhos. E eles têm lá que decidir alguma coisa?
Desde que me entendo por gente, já tive inúmeras pessoas, em inúmeras situações, inúmeras vezes, recomendando-me que seguisse inúmeras carreiras. Eu mesmo já me confundi muito com isso. A primeira profissão que pensei seguir foi a de bombeiro. Motivo: ajudar as pessoas, salvar vidas. Depois que muitos adultos rechaçaram e ridicularizaram este sonho, resolvi que iria ser médico. Ah... aí sim. O motivo ainda era o mesmo - ajudar pessoas, salvar vidas - mas ninguém falou mais nada sobre o assunto. Neste meio-tempo, apenas um tio meu queria que eu fosse advogado - "Dinheiro!", e um senhor que conheci num ônibus achava interessante que eu me tornasse diplomata - "Dinheiro", "Viajar o mundo"!
Meus desejos de tornar-me médico (primeiro cardiologista, depois comecei a jogar GURPS Cyberpunk e descobri que a onda mesmo eram os implantes biônicos; assim sendo, resolvi fazer Neurologia) duraram até os 14 anos, época em que resolvi fazer robótica. Entrei no CEFET. Tinha estudado muito para a prova de admissão do CEFET e estava no auge da minha paixão pelas ciências exatas. O mundo nunca houvera sido tão regular, tão compreensível.
Quando tinha 17, no entanto, fui surpreendido pelo professor de música do CEFET, o Paulo Name. Ele me viu tocando uma música no violão e foi o primeiro ser a me chamar a atenção para o meu talento artístico. Claro que aquilo era muito bonito, e de fato mexeu muito com a minha cabeça. Então, numa conversa que tive com meu pai, comuniquei a ele o meu grande desejo de fazer música. Fui, no entanto, totalmente desestimulado pela sua resposta. Seria o fim da minha paixão adolescente.
Depois disso, adormeci o violão e dediquei-me a outras coisas. Isto durou até os 20 anos, quando vi o Yamandu Costa no Rival-BR. Ele tinha 22 anos. O guri era um pouco mais velho que eu, mas já tocava horrores. Fiquei escandalizado com o que vi. E, mais que tudo, muito ressentido. Algumas lágrimas rasgaram meu rosto enquanto pensava que poderia estar dividindo o palco com ele. Mas a minha vida tinha tomado três anos da minha formação artística.
Daquele dia em diante, resolvi que nada mais poderia afastar-me novamente da Musa das Artes. Procurei livros especializados, li-os todos, e comecei a estudar o violão com mais consciência. E ainda estou neste patamar, fazendo a minha parte e correndo atrás do tempo que não volta.
A conclusão a que cheguei é que nossos pais não são os donos da verdade, só porque são nossos pais. São pessoas como nós, que têm seus medos, esperanças, erros, e podem abalar-se facilmente quando somos sinceros e dizemos que não queremos a carreira que eles esperaram a vida toda que seguíssemos. Mas temos que ser fortes. Não é porque o seu avô e seu pai foram carpinteiros que você terá de ser também! Se você puder escolher, escolha! Se não puder, escolha também... Não se pode deixar que o meio decida por você.