Inquieta nº5
Minha cabeça borbulha. Não tenho descanso. Nesse mundo frenético, estímulos sensoriais me invadem a todo o tempo. Como um estupro consentido. Alguém que pede para parar, mas as idéias não obedecem.
Frases, frases, frases. Piadas internas. Enquanto outros ainda se queixam pela dificuldade do brainstorming.
Milhares de imagens, músicas, cheiros, sabores, texturas disputam atenção e causam o torpor de uma droga não-química. Não adianta, não há preferidos ao lidar com uma pessoa perfil número 5. No máximo, paixões. São hedonistas por excelência.
Não escolhi ser versátil. Queria ser minimalista e não precisar me expressar o tempo inteiro. E a internet ainda alimenta esse vício.
Perigoso casar, se tatuar, fixar residência, trabalho, ter um bicho, um filho. É preciso deixá-lo com a mente livre, como uma criança curiosa e sem preconceitos que explora o mundo até achar suas respostas ou cansar. Até se conhecer e chegar a um consenso. Até ficar adulto e se acomodar. Até perceber que, para alguns, as únicas certezas são o espírito inquisitor e o desejo de variedade, para suplantar o enfado da rotina.
Mas se alguém falasse fundo, ao coração, não seria preciso escolher. É único. Um sentimento visceral que nasce facilmente da identificação. Da raridade que é ser compreendido. Como enjoar disso?
Até aceitar a si mesmo como ser humano plural, mas comum. Para não se afogar em sua própria criatividade, resta a arte como salvação (ou mais droga alheia). No passado, mesmo essa era confundida com sintomas de loucura.
Talvez nesses seja sentida, com mais intensidade, a incompletude da existência humana. Mas há esperança. O cineasta Benjamin Abrahão já dizia: “Os inquietos mudarão o mundo!”.
jun 2011