A Vida e a Morte
A Vida e a Morte
Prólogo: Discurso proferido na ocasião do sepultamento de João Barbosa Filho, meu sogro, falecido no dia 04 Fev 2009.
Joanilson M. da Silva
Dizem as escrituras que há um tempo para tudo; há tempo para nascer e há tempo para morrer... Mesmo sabedores dessa grande verdade, crescemos aprendendo que vida e morte são contrárias, são inimigas. Mas, no meu modesto entendimento, acho que vida e morte são irmãs e convivem separadas apenas por frágil e tênue fio, que poderá ser partido por vontade própria ou de outrem, por força da própria natureza, por desistência da vida, mas sempre por aquiescência de Deus.
As pessoas sempre se perguntam como é a morte. Já li que é uma coisa sublime. É a coisa mais fácil que terão de fazer. É um renascer, seja pelo caráter religioso ou filosófico, mas com a idéia de renovação e de crescimento. A vida é dura. A vida é luta. Viver é como ir à escola. Dão a você muitas lições a estudar, e quanto mais você aprende, mais difíceis ficam as lições. Quando aprendemos as lições, a dor se vai.
E tanto o nascer quanto morrer são precedidos de sofrimento, longo ou curto, breve ou demorado, dependendo de circunstâncias que fogem ao nosso controle, na maioria das vezes.
No nascimento, após nove meses de gestação, as chamadas dores do parto, normais para a maioria de nós conscientes, não devem ter essa mesma conotação de normalidade para aquele que está nascendo, porque ele está passando por uma transformação, mudança de estado, de ambiente, e porque não dizer de sofrimento inconsciente. Todos sabemos de exemplos de pessoas traumatizadas pelo resto da vida, tendo por origem um parto problemático, ou não.
Assim também é a morte, uma mudança de ambiente, uma viagem para um destino ignorado, ainda que para os que tem fé, os que esperam encontrar-se com Deus nesse novo destino, essa ansiedade seja amenizada, seja aplacada, mas mesmo assim, o trauma pela saudade dos que vão ficar, é causa de sofrimento. É verdade, a gente só pensa que a saudade toca apenas os que ficam, mas aquele que está partindo também vai com saudade, e acredito que os que amam realmente os seus semelhantes, amigos, familiares, são os mais resistentes à essa partida.
Então, meus amigos aqui presentes, seu Joca passou por esse sofrimento físico, pelo trauma carnal, pela cama insólita, viveu a solidão das longas noites de medo e dor, mas principalmente, a saudade dos familiares, da sua antiga casa, do seu habitat, dos seus amigos, e até dos seus animais, sempre lembrados por sua invejável memória; mas fiquem certos de que não foram em vão, pois esse exemplo de tenacidade e amor pelo seu torrão serão sempre lembrados por todos nós como exemplo de vida. Esse, acho que foi o seu maior sofrimento, até porque não tínhamos como aliviá-lo, como fazíamos com as suas feridas. Esse sofrimento abstrato ficava restrito à sua mente, ao seu espírito. Somos testemunhas desse longo e sofrido passamento, a exemplo dos médicos, enfermeiros e colaboradores outros do Hospital Pedro I, que muito nos ajudaram na tarefa de minorar a sua dor.
Agora, Seu Joca, a matéria que revestiu o seu espírito nessa sua breve passagem entre nós, estamos devolvendo à terra, ao pó, de onde veio; e o espírito que está a caminho, volta ao Pai que o deu.
Da sua memória continua a saudade, companheira dos que ficam, mas bálsamo porque sugere o alívio do sofrimento terreno.
Que Deus o tenha em sua nova morada! Amém.
Campina Grande, PB, 04 de Fevereiro de 2009.