Numa quinta-feira fatídica (07/04/2011), o Brasil se chocou diante da notícia que corria em nossas casas. Uma escola do Rio de Janeiro havia sido pintada por sangue; sangue de crianças e jovens.
 
         Eu acredito que existem alguns lugares que são sagrados, que devemos guardar um certo respeito, lugares como: igrejas, templos, cemitérios, órgãos do Governo e por fim, as escolas. Mas, alguém violou o sagrado. Uma escola foi sorrateiramente invadida, violentamente agredida e maculada por uma loucura que não era santa, era perversa.
 
         Fico pensando que naquela manhã todas as crianças e jovens se despertaram para um novo dia, se arrumaram, vestiram a farda com o escudo da escola, sentaram-se as suas mesas e partilharam da refeição com seus familiares. Eles fizeram planos...
 
         Andaram com suas mochilas cheias do desejo de aprender. Cruzaram ruas ao encontro dos seus professores e amigos, lá haveriam de comungar de um clima amistoso na troca sadia de ideias e projetos. Deveria ser assim naquela quinta-feira.
 
         Mas, não foi...
 
         Todos já estavam lá, quando aquela imagem confusa de arma na mão começava a atirar ódio, rancor, ressentimento e traumas. Era uma vítima, vitimando outros. E a cada bala que partia a carne, o sangue da juventude escorria pelo chão, manchando a tela que tanto pintou o amor; respingando o horror no cenário que cantou a esperança; escurecendo a luz que sempre orientou; apagando os risos da sabedoria; calando o brado da liberdade com a voz da maldade.
 
         Fomos todos vítimas. Choramos todos, tristes pelos corpos mortos daqueles que representavam o nosso futuro. A dor é do Brasil. O luto nos alcançou, pois somos de uma única família.
 
         A canção diz que... “a vida continua...”, de fato! No entanto, não é possível prosseguir sem se senti incomodado com os requintes de manifestações bárbaras. Ontem tivemos que deixar os bancos das praças, já que os bandidos tomaram todos os espaços. Então, fomos obrigados a construir muros cada vez mais altos para nos proteger do clima de terror crescente, fizemos de nossas casas verdadeiras prisões, com muralhas nos separando da vida livre. Deixamos também as janelas e as conversas com os vizinhos. Já não temos segurança suficiente para nos permitirmos seguir a vida com naturalidade e espontaneidade. Fizemos muitas renuncias em nome de uma criminalidade bestial; nos condenamos ao ostracismo.
 
          Hoje qual sacrifício faremos? Teremos que colocar cães de guarda nas portas das escolas. Terão as crianças de vestirem coletes a prova de bala? Os professores terão que incluir nas suas formações continuadas cursos de defesa pessoal? E no lugar de falarmos dos Direitos Humanos, na defesa do meio ambiente, da importância do sexo seguro, nos imbuiremos da tarefa de construir cartilhas didáticas orientando os discentes a se livrarem do homem mal? Não teremos mais poesias, nem rimas, nem prosas e nem versos... teremos uma linguagem militar e hostil. Parece à própria visão do Apocalipse.
 
 
          Vejam bem... olhem com cuidado, nada disso é natural. A agressividade que acompanha as ações dos homens deste tempo não é comum; não corresponde com a essência humana. Eles Aprenderam a resolver os seus conflitos com o peso da brutalidade e estão fazendo isso com maestria.
 
          Então, eu quero crer que podemos construir uma outra terra, em que os valores do amor ao próximo sobreponham a dor. Uma terra onde as crianças de Realengo não sejam mártires e que os mutirões não sejam para apagar as marcas dos massacres, mas para pintar um quadro harmonioso e contemplativo.
 
 

Imagem - Fonte: Google

Toni DeSouza
Enviado por Toni DeSouza em 17/04/2011
Reeditado em 17/04/2011
Código do texto: T2914422
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