A CRIANÇA E A SUA IDENTIDADE: A VEZ DOS NETOS MAIS NOVOS
Tenho uma amiga de quem gosto muito e que hoje mora lá pelos lados de São José dos Pinhais, no Paraná, a Bárbara. Nós trabalhávamos juntos e conversávamos muito. Ela sempre brincava que a mulher tinha que lutar muito para firmar a própria identidade. E explicava: toda mulher quando nasce é a filha do fulano, quando casa, passa a ser a mulher do sicrano e, depois que nascem os filhos, ela se torna a mãe dos sicraninhos. Eu me divertia com ela, que deixou uma promissora carreira de bancária para ser professora em tempo integral. Valente e bela decisão.
Na semana passada lembrei-me dela. Eu estava sentado na minha loja, matando tempo com meus livros, quando chegou uma jovem mãe acompanhada de seu filho. Tão logo ela o desceu da bicicleta, recomendou: - Ali está o avô da Maria, diga bom dia a ele.
Depois de uma breve conversa, mãe e filho se foram e eu, lembrando-me da Bárbara, deixei que as recordações viessem à tona.
Em abril de 1988 cheguei a Ubatuba com duas filhas pré-adolescentes que, tal como a Bárbara dizia, eram as filhas do Rogério. Não me lembro quanto tempo demorou para que essa situação se invertesse, mas em pouco tempo era eu o pai das meninas e, até hoje, continua assim.
Mas a Maria, a Maria só tem 5 anos. A Maria entrou na escola faz pouco tempo.
Pois é, meus amigos, como as crianças mudaram! A gente custa a acreditar que as crianças tão logo entram na escola já assumem a sua identidade. Já sabem quem são, onde moram e o que querem. Dão palpite e têm opinião.
É curioso ver como nossos pequenos defendem seu ponto de vista e possuem argumentos coerentes com seus interesses; como ocupam os espaços e vão consolidando o terreno conquistado.
É essa a autonomia das crianças que, a cada dia, vão, cada vez mais rápido, construindo a própria identidade, formando seu círculo de amigos e mostrando aos pais que já possuem o seu modo de ver as coisas; querem que sua opinião sobre esse ou aquele assunto seja acatada e respeitada.
Isso exige dos pais um acompanhamento mais próximo para evitar que de uma hora para outra percebam que sua criança já não é mais uma criança e que a preocupação com as coisas do dia-a-dia lhes roubou o direito da convivência e não foi possível acompanhar as transformações que aconteceram.
Hoje, falando da Maria, me sinto orgulhoso de poder perceber nos meus netos aquilo que acompanhei nas minhas filhas.
Mais maduro e menos ocupado, pude acompanhar as transformações que ocorreram nos netos mais velhos e apurar o sentido de observação para deliciar-me com as surpresas que me reservam os mais novos.
Cada criança tem sua individualidade e forma, à sua maneira, a própria identidade e nós, os mais velhos, não podemos deixar de acompanhar esse processo para não sermos surpreendidos, principalmente com os filhos, porque quem já é avô, quem já é avó, vai curtindo essa coisa gostosa de ver os netos ocupando seus próprios espaços e garantindo seu lugar.
Quanto a mim, confesso que continuo na expectativa de, em breve, ser reconhecido como o avô do Yuri, o avô do Théo e o avô de quantos netos mais Deus quiser me dar.