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“_ Com as palavras vêm as coisas?” Perguntava docemente ao ouvido da bela, que com um aceno límpido e calmo de cabeça, confirmava seu pensamento lançado ao vento.
Logo, as coisas nascem do que se fala e se perde, e se misturam ao vento frio e dezembrino de esquinas e pontos de ônibus tão catinguentos como os cães em dias de calor.
Sendo assim, basta que se fale e, então se realiza a vida a coisa e o todo.
Mas, mais profundamente ia ao calabouço obscuro de seus olhos e lhe questionava:
_ E o que se cala?
Nada respondeu, durante um pequeno espaço de tempo em que rodeava com os olhos a noite bela e clara e inchada de estrelas, que no céu nadava.
Segundamente; tentou mais uma vez: _ O que não é dito, então, não se realiza e, portanto, não existe e, por isso, fica preso ao universo do pensamento, logo, o pensamento não existe? Ora, mas o que lança no vento?
“_ Talvez, apenas, saliva.” – Enfim ela respondeu.
E retrucando: _Então, saliva é matéria realizada, nãofalada, cuspida? Ação estúpida?
Ela se calou mais uma vez. Logo, tudo estava dito e a discussão fizera sentido.