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“_ Com as palavras vêm as coisas?” Perguntava docemente ao ouvido da bela, que com um aceno límpido e calmo de cabeça, confirmava seu pensamento lançado ao vento.

Logo, as coisas nascem do que se fala e se perde, e se misturam ao vento frio e dezembrino de esquinas e pontos de ônibus tão catinguentos como os cães em dias de calor.

Sendo assim, basta que se fale e, então se realiza a vida a coisa e o todo.

Mas, mais profundamente ia ao calabouço obscuro de seus olhos e lhe questionava:

_ E o que se cala?

Nada respondeu, durante um pequeno espaço de tempo em que rodeava com os olhos a noite bela e clara e inchada de estrelas, que no céu nadava.

Segundamente; tentou mais uma vez: _ O que não é dito, então, não se realiza e, portanto, não existe e, por isso, fica preso ao universo do pensamento, logo, o pensamento não existe? Ora, mas o que lança no vento?

“_ Talvez, apenas, saliva.” – Enfim ela respondeu.

E retrucando: _Então, saliva é matéria realizada, nãofalada, cuspida? Ação estúpida?

Ela se calou mais uma vez. Logo, tudo estava dito e a discussão fizera sentido.

Raul Furiatti Moreira
Enviado por Raul Furiatti Moreira em 14/04/2011
Reeditado em 14/04/2011
Código do texto: T2908380
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