Ciranda, Cirandinha...
Observando a cultura brasileira de fora pra dentro
“...As Senzalas de ontem ainda se reproduzem de forma clara quando deixamos de valorizar o que é nosso, quando colocamos a cultura em último plano e damos foco a artifícios e atores que nada têm a ver com cultura e sim com exploração e sexismo. E quando isso acontece voltamos a viver escravizados novamente, tendo nos ombros os feixes de cana que no passado os escravos carregavam.
Uma velha escravidão com novos conceitos e os mesmos pré-conceitos. E o que é mais perigoso: deixando para as gerações futuras a triste e árdua tarefa de reinventar a roda, se ela ainda existir, ou melhor, resistir.
Quando observamos a cultura brasileira de fora para dentro vemos o quão é rica e plural e nos deparamos com a reinvenção da roda, reafirmamos com riqueza de detalhes o que há tempos já sabíamos e não compreendíamos, e passamos a observar os erros contínuos, tanto na divulgação, quanto na interpretação de nossa identidade cultural que segue evoluindo, deixando de ser oral. Agora é digital e globalizada.
Mas, mesmo com toda esta modernidade a forma de difusão, continua velha, a repetir gritantemente velhos erros e hábitos.
Quando observamos esta forma de divulgação e como ela é feita fora do nosso país – e, às vezes, partindo do nosso próprio Brasil -, por pessoas, entidades e por vias governamentais, torna-se complexo o entendimento, e aquela perguntinha que ultimamente se tornou comum, parece nunca calar dentro de nós e até nos ditos desatentos: Cultura é o que? Mulatas, Bundas, Praias. Se analisarmos amiúde tudo isso é e, ao mesmo tempo, nada disso é cultura.
Principalmente quando utilizados em conjunto ou separadamente, com a desculpa de que “Isso é Brasil!” A cultura e imagem de um povo pode ser difundida, traduzida e revelada através de coisas comuns do cotidiano, nas cores, aromas e sabores da sua culinária, no seu aspecto peculiar de adequar a língua que se fala no conjunto da nação a algo quase que
particular, ou na brejeirice e malemolência do andar, que observado de longe e de forma poética parece um bailar.
Estas pequenas observações, analisadas de forma acadêmica, dariam para muitos anos de história e teses, e vai além dos quitutes da tia Anastácia, passando pelo tabuleiro da Baiana, chegando aos terreiros, e destes para a Senzala.
A nossa grande missão agora é fazer com que esta roda continue a girar e se torne uma bela ciranda e que as gerações futuras possam dar as mãos, cantar cantigas e perpetuá-la…
(“Ciranda, Cirandinha...”, by Carlos Ventura)