PALESTRA - O MUNDO ENCANTADO DA ESCRITA
Maria Eneida Nogueira Guimarães
Ilustre Presidente da Academia Feminina Mineira de Letras, caríssimas convidadas, minhas colegas.
Antes de apresentar meu texto gostaria de agradecer a nossa presidente pelo convite, pois estaremos nesta tarde, passeando, brincando, descobrindo a palavra escrita.
Já lhes falei sobre o mundo encantado da leitura. Hoje caminharemos pelo mundo encantado da palavra escrita.
Fiquei feliz, quem tem alma de poeta desnuda-se. A força da explosão interna é mais forte que o pudor.
Falar sobre a palavra escrita é um presente, pois atualmente é a minha maior distração. Freqüento a Oficina Literária das Amigas da Cultura há mais de vinte anos e toda semana consigo um texto. Resolvi, então, reunir tudo o que tenho sobre a arte de escrever (textos feitos nas aulas do Ronald) e reparti-los com vocês.
Através da palavra escrita, tenho certeza, a alma de quem lhes fala se desnudará.
Sei que vou levantar questionamentos; graças a Deus, não sou dona da verdade, mas receberei as críticas com carinho e amor.
Por que escrevo? Escrevo para me conhecer e crescer. Busco no inconsciente e subconsciente as palavras que dormem, algumas desde criança, outras na juventude...
Viajo, de volta ao mundo escondido. É algo maravilho! O que encontro é analisado, rebuscado e isso me faz crescer e muito. Na maioria das vezes me levam a um passado cuja água já secou. Mas a escrita faz a mina jorrar água pura que lava minha alma.
Viajo pelo real e pela fantasia. Para mim, é difícil viajar por caminhos novos, estradas nunca percorridas. Prefiro sempre rever lugares e pessoas já amadas e conhecidas. Posso até fantasiar, todavia o conteúdo é sempre real.
Concordo plenamente com Lígia Fagundes Teles. É sempre gratificante reconhecer que algum dos meus escritos chegou ao coração de alguém e acrescentou algo. Acredito que isso aconteça porque escrevo também com esta finalidade, levar um pouco de mim ao outro. Eu, pessoalmente, absorvo muito daqueles que leio.
Diz Drummond que escrever é cortar. Concordo; não plenamente. Não necessariamente cortar, talvez podar para que cresça novamente. Às vezes faço um texto, depois, no cortar sinto que ele está crescendo ainda mais viçoso, brilhante, cheio de folhas novas. Por isso, Drummond, prefiro podar ao invés de cortar.
Quando começo a ler e escrever, as palavras me levam a um estado de suprema alegria e realização. Escrever, para mim, é a melhor ocupação: esqueço o mundo e fico fora do tempo. A literatura ficcional não tem que ser de esquerda ou direita; tem que ser de mentira, de invenção. Só precisa ser bem escrita.
Toda ficção, narrativa ou poética, se for bem escrita convence e comove. O escritor não engana o leitor. Ele sabe que é ficção. Mas... o leitor, as vezes, quer entrar na ficção como se fosse realidade. Isto já não é problema do escritor.
Inventando mundos é o que se faz quando o escritor viaja pela fantasia e estende seu tapete mágico para levar seus leitores. (Escrever e ler é realmente, subir num tapete mágico e viajar em sonhos pelo mundo da fantasia).
“Quero comer da lua todos os petiscos feitos por São Jorge”...
A poesia vem, me embala, me acaricia, me faz dengos, cheios de amor. É um vapt-vupt. É uma troca de amor. O poeta é um pescador de sonhos. Gosto da linha que me leva a literatura. A literatura nos envia à sublimes momentos.
Escrever é dom; é colocar “grilos” para fora. Escrever também é fazer o grilo cantar e bem no compasso (como Guimarães Rosa) em simplicidade e harmonia.
A beleza de um texto nada tem a ver com erudição; no entanto, o mínimo é necessário, um curso primário, hoje um fundamental. A grande poetisa Cora Coralina que nos presenteou com célebres frases e lindos poemas só tinha o curso primário.
Certamente deve-se escrever correto de pleno acordo com a gramática, mas buscar sempre a essência do que se diz. Nunca escrever policiado. Bom mesmo é ouvir a voz do coração. Ouvir o inconsciente. Tão bom deixar o lápis correr (ou o computador) sem preocupação da ortografia, da vírgula, da gramática... O que importa é a essência, a alma do texto.
A letra é o corpo físico, o que interessa mesmo é o conteúdo, a essência. Depois do texto pronto, então fazer as devidas correções – podar o necessário e acertar a gramática.