GUIMARÃES ROSA: VIDA, ESTILO E ESCRITA

GUIMARÃES ROSA: VIDA, ESTILO E ESCRITA

Inicialmente, pretendem-se apresentar aspectos históricos sobre o período em que viveu Guimarães Rosa e também intrínseco a sua vida. Logo após se mostrado como essas particularidades históricas estão ligadas as suas composições.

Guimarães era fluente em mais de vinte idiomas; ele lia muito desde criança; estudou história natural; estudou medicina; iniciou suas primeiras publicações a partir de um concurso de literatura ao ser o vencedor dele. Porém achava seus escritos muito comuns aos de outros escritores, por isso nutriu o gosto pelo diferente. Razão pela qual, buscou uma linguagem perfeccionista que pudesse expressar melhor o que queria dizer. Guimarães foi também diplomata na Embaixada do Brasil na Alemanha no período da segunda guerra mundial. Essa função foi possibilitada pela facilidade em lidar com línguas estrangeiras. Com toda essa experiência de vida, Guimarães tornou-se um homem plural, o que se pode constatar muito claramente na linguagem que ele emprega em seus textos. Ele trabalhava muito seus textos. Só para ter uma ideia disso, seu discurso de posse na Academia Brasileira de Letras levou 4 anos para ficar pronto. Sobre isso ele dizia: “A linguagem está ao nosso serviço só temos que saber utilizá-la.

Como exemplo pode-se explorar dois contos do autor: “Famigerado” e “Os irmão Dagobé”, ambos publicados no livro Primeiras estórias. Tal livro ganhou esse nome por ser o primeiro de históricas curtas escritas por ele e também por marcar o início de suas histórias sobre o sertão.

O primeiro conto resumi-se assim: O jagunço Damázio Siqueira atormenta-se com um problema vocabular: ouviu a palavra "famigerado" de um moço do governo e vai procurar o farmacêutico, pessoa letrada do lugar, para saber se tal termo era um insulto contra ele, jagunço.

Logo após a leitura observa-se a existência de dualidade no decorrer de todo o conto, como: médico X jagunço; intelectualidade X ignorância; Damásio (Velho) X moço do governo (jovem); Sertão X Cidade. Além disso, observa-se também que a palavra “famigerado” tem dois sentidos, um conotativo e outros denotativo. No sentido conotativo significa bandido ou malfeito e no sentido denotativo significa famoso, célebre.

O segundo conto, Os irmão Dagobé, pode ser resumido da seguinte forma: O valentão Damastor Dagobé, depois de muito ridicularizar Liojorge, é morto por ele. No arraial, todos dão como certa a vingança dos outros Dagobé: Doricão, Dismundo e Derval. A expectativa da revanche cresce quando Liojorge comunica a intenção de participar do enterro de Damastor. Para surpresa de todos, os irmãos não só concordam, como justificam a atitude de Liojorge, dizendo que Damastor teve o fim que mereceu.

No conto percebem-se algumas nuances da linguagem de Guimarães, tais como: 1) O nome do personagem Damastor faz aluzão ao personagem mitologia grego, homem de grande estatura. O conto não fala isso, mas, porém, o autor deixa pistas; 2) Dorição, que deseja substituir Damastor, se se observar seu nome dividido em dois, Dori + Cão, dá uma idéia de maldade que fera sobrimento, fazendo alusão a diabo; 3) Dismundo, observa-se que o prefixo “Dis” quer dizer fora, ou seja, fora do mundo; 4) Derval. O nome dos 4 irmãos começa com a letra “D”, dando a idéia de “demos” = diabo.

Como se observou, Guimarães Rosa utiliza uma linguagem complexa, mas completamente comum à suas experiências de vida adquiridas em suas andanças pelo mundo e pelo sertão, por isso, não se pode separar ou dividir esses aspectos em sua obra.

MENEZES, L. F.