Diferenças Sociais
Boa tarde senhores, sou Luis Soares e serei o palestrante de hoje. Bom, começarei com um pequeno raciocínio lógico que tive a poucos dias. Não existem duas pessoas iguais, sendo assim, podemos afirmar que todos são diferentes e se todos são diferentes, concluímos que ser diferente é normal. Agora lhes pergunto, se ser diferente é normal o que exatamente é anormal?
Para responder a isso, analisemos o raciocínio em partes. Realmente, não há como contestar o fato de não existirem duas pessoas iguais. Seja física ou biologicamente, nem mesmo gêmeos idênticos são iguais. Mesmo que um dia cheguemos ao ápice da clonagem humana, ele também não será igual, terá novos amigos, novas experiências, novos gostos. Então senhores, somos todos diferentes, em vários níveis.
Seguindo nosso raciocínio original, há outra pergunta a ser respondida: o que nos torna diferentes? Nosso raça? Nosso modo de vestir? Nossa nacionalidade? Nossa religião? Nossa opção sexual? Não senhores, nada disto importa. Continuamos sendo seres orgânicos baseados em carbono, ou simplesmente seres humanos. Afirmo com total certeza que o que nos torna diferentes somos nós mesmos. Usarei um pequeno fato que me ocorreu a alguns meses atrás para ilustrar minha conclusão.
Voltava da casa de meus pais de ônibus. Meus pais moram no limiar de uma favela e a linha que passa por lá tem seu inicio no interior da favela. Quando subi no ônibus, sentei-me em um daqueles bancos que tem outro virado de frente, então fiquei de frente para uma mãe negra, com seu filho de aproximadamente 4 anos no colo. Seguindo a viagem, o ônibus passa por uma parte um pouco mais nobre e neste ponto as outras duas personagens da minha história surgiram. Uma avó caucasiana com sua pequena neta de aproximadamente 7 anos. Coincidentemente essas sentaram-se ao lado da dupla supra-citada. A principio não dei muita importância, mas depois um pequeno fato me chamou a atenção. O modo como as duas mulheres sentaram e acomodaram suas crianças era exatamente igual. E as duas crianças interagiram um pouco, porque aquele é o período em que o cérebro sequer sabe o que são diferenças. E foi aí senhores que comecei a pensar no que realmente nos difere. Duas mulheres com suas crianças, raças diferentes, classes sociais diferentes, mas iguais no modo de proteger seus descendentes. E fui além, pensei no futuro daqueles pequenos. Digo senhores, o que impede de daqui a 20 anos aquela menina de classe média se torne uma neurologista renomada, enquanto o pequeno garoto só mais um associado ao tráfico? Comum vocês devem pensar, porém e se eu dissesse o contrário? Que a menina de classe média se associasse ao tráfico e o rapaz de origem humilde se tornasse o renomado neurologista? Soa anormal, mas digo-lhes, o que definirá a verdade não serão os dois, mas sim as oportunidades que lhes darão. E isso senhores é definido pela sociedade. Nossa sociedade suja e mesquinha que não define as pessoas pelo que elas são, mas pelo que parecem.
Serei polêmico nessa parte e direi, todos somos hipócritas. Em alguma fase de nossas vidas, por mais ativistas, humildes e justos que queremos ser ou parecer, eu afirmo com certeza absoluta que já tivemos nossos próprios preconceitos. Não necessariamente aqueles que já são comuns como por negros, homossexuais ou religiosos, mas nossos próprios preconceitos. Sejam eles musicais, sociais ou até mesmo modistas. Sim senhores, vocês também são definidos pelas roupas que usam. Aposto que se eu lhes dissesse para olhar o colega do lado e dizer algo sobre ele, sem que ele lhe diga uma palavra, eu ouviria muitos termos sociais, como paty, emo, pagodeiro, etc.
Agora lhes pergunto senhores, de onde surgiram esses termos? Só há uma resposta, de nós mesmos. O homem os criou. Fazemos isso a todo instante, criamos termos, definições, classificamos as pessoas, como se fossem produtos em uma estante do mercadinho da esquina. Definimos as pessoas pelo exterior e esquecemos que aquelas pessoas podem falar, podem ter muitas vezes opiniões iguais as nossas, mas muitas vezes não queremos ouvi-las por serem deste ou daquele grupinho.
Religião, nacionalidade, raça, opção sexual, não é isso que nos define, somos nós mesmos que nos definimos, e atualmente esses nem são os maiores fatores de classificação. Ficamos ainda mais banais e na maioria das vezes taxamos apenas pelas roupas e pelo estilo musical que aquele individuo aprecia.
Historicamente as maiores revoluções, guerras e carnificinas ocorreram de um povo contra outro diferente. Europeus contra Asiaticos, nas cruzadas; Alemães contra Judeus, na Segunda Guerra Mundial; e mais recentemente, Americanos contra Islâmicos, na Guerra do Iraque.
Se me permitem, darei minha humilde opinião: o ser humano, embora seja o único animal pensante, é a mais burra das criaturas. Gera os problemas e depois fica perguntando e buscando quem fez aquilo. A resposta é sempre a mesma senhores, nós mesmos. Hoje estamos aqui debatendo sobre diferenças sociais, algo que nós mesmos criamos e agora tentamos combater.
E por fim, a resposta para nossa pergunta inicial. Anormal é lutarmos contra as diferenças e não ser diferente. Não há como deixarmos de ser diferentes, por isso não devemos criar barreiras sociais. Não seremos iguais por isso, só continuaremos a criar mais diferenças. Mas senhores, isso é o que eu penso, e como tributo as diferenças, agora deixarei que vocês pensem como preferirem. Obrigado pela atenção. Perguntas?