ENTRE A CRUZ E A CALDEIRINHA...SOCORRO!!

SP,19/10/2006

Eu nem sei se deveria, mas tenho necessidade de falar.

Ultimamente,acho quase impossível que alguém, na posição de candidato a cidadão, não tenha ao menos uma vez, entrado em contacto com sentimentos que por ora irei descrever.

Não se trata necessariamente de um desabafo político, mas de uma certa sensação de indignação, frente a acontecimentos “administrativos” de grande impacto social, que têm se tornado públicos, e que desanimam qualquer um que ainda tente acreditar que existe caminhos.

Chego a me desesperar por ter consciência.

Pergunto-me o quê devo ensinar a minha filha, frente a uma sociedade que se desnorteou, frente a um cenário de total impunidade ,mesmo diante de fatos tão graves.

Não tenho respostas para minhas próprias perguntas.

Tento definir uma moderna e resignada conceituação para cidadania.

E não pretendo ser redundante.

Hoje , chego a acreditar que ser cidadão é apenas pagar a conta.E não apenas as minhas, mas de todo o seguimento da sociedade improdutiva, bancada por interesses escusos para que assim permaneça...desgraçada e manipulada, abaixo da linha da dignidade, mas sem consciência definida do seu estado.

O jogo é a sustentabilidade... na miséria e na ignorância.

O jogo é velho, mas percebo que as jogadas são inéditas!

Uma parte faz a conta...a outra paga a conta; e se colocar a revelia de tal situação é ser taxado de elite.

Mas eu pergunto:Que elite é esta que, após bancar seus estudos por uma vida toda, se propõe a reverter seu trabalho a sociedade, doze horas por dia?

Que elite é esta , que faz poupança mensal para pagar seus impostos?

Que elite é esta que não tem absolutamente nada de seus poli tributos revertidos para o bem estar social básico?

Que elite é esta que pacificamente colabora , com proventos do TRABALHO para todos os “dutos” que vivenciamos A OLHOS NÚS?

Que elite é esta que paga a conta e não tem voz?

E ainda pergunto: Este é um problema apenas nosso ou mundial?

Depende de líderes, ou é o fluxo normal da globalização, que em nome da “igualdade entre povos” promove diferenças sociais insuportáveis?

SINTO-ME REFÉN.Não tenho respostas, não tenho caminhos.E o pior:não tenho escolha.Dizem que quando se perde a esperança, nada mais há a se perder.

Então, sinto-me miserável.Tão miserável quanto a situação de quem sobrevive de esmolas nos faróis...e acredita que melhorou de vida.

A miserabilidade de não poder "vestir nenhuma camisa"!

A miserabilidade de não ter "terra", não ter "teto", e o que é pior...de perder o "chão"!

A miserabilidade da posse da consciência inútil.

A miserabilidade de me sentir cidadão tão barato!

A miserabilidade de ser obrigada a decidir entre a cruz ou a caldeirinha.