Homilia na ordenação diaconal de Frei Paulo Maria - Cidade Ocidental - Goiás, aos 27/11/2010
Tema: “O zelo pela tua casa me consumirá” (Jo. 2).
Reverendíssimo Senhor Provincial, Comunidade Franciscana, Sacerdotes, Diáconos, Seminaristas, religiosos e consagrados, benfeitores, Povo de Deus e familiares do ordinando.
A Província São Maximiliano Maria Kolbe celebra duas alegrias neste dia: a ordenação diaconal do Frei Paulo Maria e a bênção de inauguração deste maravilhoso Santuário Nossa Senhora Imaculada Conceição, edificado neste lugar de grande significado para nós: o Jardim da Imaculada. Quantas pessoas encontram neste ambiente o caminho de sua conversão e santificação. O desejo da Santíssima Virgem será sempre este: nossa conversão e santificação. Dom Agostinho, na sua carta de 04 de outubro último aos seus confrades e amigos diz “esperar que o Jardim da Imaculada seja sempre um lugar muito especial para todos os Frades da Província. Que seja o lugar de inspirações, de formação e de muitas obras de apostolado”.
Este santuário será um espaço importante para o cultivo da espiritualidade e do amor a Nosso Senhor. A Santíssima Virgem quer nos levar sempre mais ao Cristo. Tudo se encaminha bem na vida do cristão que não dispensa a boa e oportuna companhia de Nossa Senhora. Ela faz parte da História de nossa salvação. Na leitura de Números o Senhor Deus ordena aos seus ministros a obrigação e o dever de cuidar do templo, pois ele é o lugar teofânico, lugar de Deus, lugar dos filhos e filhas de Deus que a ele acorrem para receber as luzes do amor do próprio Deus. Aos servidores dos deveres sagrados recomenda o Apóstolo Paulo na Carta aos Efésios que vivam santamente a vocação aos quais foram chamados, com humildade e mansidão, suportando uns aos outros com amor. As pessoas chamadas por Deus a qualquer estado de vida terá em vista, segundo o Apóstolo a vida e a unidade na força do Espírito Santo que nos moldura ao vínculo da paz.
A unidade é um dom a ser acolhido com todo ardor possível. Ele é possível quando temos o conhecimento do próprio Cristo que nos conduz à própria unidade que antagoniza com a divisão, com os rompimentos dos relacionamentos e rejunta as fendas deixadas pela conseqüência do pecado original que trazemos conosco, como consequência da desobediência. Jesus na oração Sacerdotal no Capítulo 17 de João ora por nós, os seus, justamente pedindo a unidade, geradora de bênçãos e unção. Ele volta ao Pai, mas fica conosco através do seu Espírito. Recomenda-nos a termos cuidado com o mundo que está sob a influência do Maligno, gerador de divisão, desconforto na missão e desolação na vida comunitária. Somos enviados a uma missão: dar continuidade da Obra de Cristo através da Igreja. Estamos no mundo, lugar de conflitos e rinha de toda espécie de lutas antagônicas, mas não pertencemos a este quadro de guerra e de divisões. Pela graça de Cristo, através da ação bastimal que a Trindade plasmou em nós, temos o gládio da Palavra de Deus, a espada que penetra, que corta, que nos impulsiona a irmos adiante como testemunhas das maravilhas da santidade de Deus em nós que cria laços de amor, justiça e empenho para fecundar os tempos difíceis com os quais os homens sempre estão às voltas.
A diaconia é serviço, é amor, é entrega, é viver como Jesus viveu, é percorrer o caminho da unidade pedida por Cristo. Amado Frei Paulo Maria, dentro de alguns instantes o senhor será marcado com o selo indelével do Sacramento da Ordem, no primeiro grau, o de diácono. Com este gesto estamos remontando aos primórdios de nossa amada Igreja Católica. A ação da Igreja de ordenar é uma ação do Espírito Santo. O diácono é um servidor da Palavra, do altar e da caridade. Imediato colaborador do Bispo e de seu presbitério.
Como ministro do altar, o diácono proclama o Santo Evangelho, prepara o santo sacrifício da Divina Liturgia Eucarística e distribui aos fiéis o Corpo e o Sangue do Senhor. São maravilhosas as atribuições do serviço diaconal que, em conformidade com o mandado do Bispo, o diácono “poderá exortar e instruir na sagrada doutrina, não só os não crentes, mas também os fieis; poderá ainda presidir as orações, administrar o Batismo, assistir e abençoar os Matrimônios, levar o Viático aos agonizantes e oficiar as Exéquias” (Pontifical Romana, no. 199).
O diácono, mesmo que a caminho do presbiterado, deverá vivenciar o tempo diaconal com profundidade e zelo. É próprio do ministro ordenado o testemunho de homem consagrado, verdadeiro discípulo missionário do Senhor, com estilo de vida proba e santa. O diácono vive um tempo favorável de amor e afeto à Divina Liturgia; amor que deve ser intensamente vivido e compreendido, pois temos presente que nos últimos anos muitos abusos e práticas irresponsáveis, entraram na prática litúrgica, causando grande prejuízo à liturgia e à santificação do ministro que a preside e do povo de Deus que nela toma parte. Ninguém na Igreja tem autorização para alterar a normatividade litúrgica ou introduzir elementos subjetivos na ritualidade da Igreja.
O diácono é um servidor da liturgia, como tal deve aprofundar o conhecimento da mesma na prática e na leitura das introduções aos ritos sagrados, compreendendo também as rubricas inclusas no ordenamento da ritualidade. A Divina Liturgia é fruto da ação do Espírito Santo ao longo dos Séculos da Igreja e não cabe a este ou àquele ministro ordenar introduções danosas à essência da liturgia sob o pretexto da boa inculturação ou de uma apressada criatividade que atende simplesmente aos desejos subjetivos ou simplesmente a guisa de caprichos pessoais. A experiência nos atesta que a infidelidade do ministro de Deus começa sempre pela inobservância das orientações litúrgicas. A liturgia bem preparada e realizada de forma orante e não mecanicamente, fala por si mesma e ajuda os ministros e fiéis a mergulhar nas riquezas do Mistério Pascal.
Entendo que a dimensão da Caridade, do amor ao pobre, do serviço ao progresso social e do nosso empenho em favor das mudanças estruturais, passa inexoravelmente pela conversão pessoal e pela santificação que vem da vivência da ação litúrgica bem vivida e alegremente celebrada. É “conditio sine qua” do ministro ordenado, sobremaneira do diácono, a opção preferencial pelos pobres. Quando esta opção vem como conseqüência de uma espiritualidade calcada na vivência litúrgica, ela não descamba para o lado simplesmente ideológico que não ajuda na santificação dos discípulos e missionários. Muitos optaram pelos pobres, numa linha meramente social e excludente, sem espiritualidade e conteúdo de fé, desrespeitando a religiosidade popular e a fé pura de nossa gente, ao passo que muitos pobres optaram pelas seitas com a justificativa que não encontraram espiritualidade e a prática dos sacramentos da parte dos ministros da Igreja. A fé não é uma opção ideológica e à Igreja não se mede e entende com categorias sociais e política, pois ela é simplesmente Mistério de Deus.
O diácono promete recitar a Liturgia das Horas em comunhão com toda a Igreja. Quanto bem nos faz a oração das horas. Longe de ser um peso é um abençoado fragor para nossa comunhão. Quando se reza o saltério, o breviário, reza-se a oração litúrgica de toda a Igreja. Daí nunca estarmos realmente sozinhos.
O diácono não casado exerce seu ministério no estado do celibato perpétuo. Grande gesto de beleza a promessa a vivência do celibato por “amor ao Reino dos Céus”. O ministro celibatário, entregue ao anúncio do Evangelho, ao serviço aos pobres e à vida de oração viverá com alegria o celibato, pois este é um gesto profundo de amor. Longe de ser um fardo e um desastre para a Igreja, como muitos verbalizam, o celibato é um meio de profunda configuração a Cristo e dá vigor à Igreja e a orna com a beleza de sua vivência. “O celibato é um sinal e, ao mesmo tempo, um incentivo da caridade pastoral e incomparável fonte de fecundidade no mundo. Impelido por sincero amor a Cristo, caro Frei Paulo Maria, e vivendo em total dedicação neste estado, consagrar-te-ás mais facilmente a Cristo, com um coração indiviso; poderá dedicar-te mais livremente ao serviço de Deus e da humanidade e trabalhar com mais solicitude na obra da salvação eterna”(Pontifical Romano, no. 199).
Em síntese, o Diácono é o homem da Palavra, não só porque a proclama na liturgia, mas porque dela ele é um ouvinte fiel. Por isso ele anuncia a palavra com aquela autoridade de quem dela se fez servo, ouvinte e praticante. O Diácono é o homem liturgo, pois preside a celebração ed certos sacramentos e demais cerimônias próprias do seu ministério.
Assim, a Igreja entende que o diaconato é de instituição divina. A Comunidade Eclesial não pode ser privada da graça de possuir no seu seio este amável ministério que o Divino Esposo da Igreja quis e quer que se estenda, por toda a sua Amada, a obra que ele começou nas primícias da comunidade apostólica.
Não deixe, meu caro ordinando, abalar-se pelas investidas do mundo através da chamada cultura do hedonismo, do relativismo, da morte, bem como pela futilidade e pela falsa aparência do atual momento da história que apregoa que Deus não é mais necessário na vida das pessoas e da humanidade. “Combata o bom combate da fé” como nos ensina o Apóstolo Paulo, siga em frente com coragem e destemor. Que a intercessão de Nossa Senhora, de São Francisco de Assis e São Maximiliano Maria Kolbe te acompanhe ao longo de sua vida para que nunca perca o entusiasmo da consagração, tendo sempre presente o que disse Nosso Senhor: “o zelo pela tua casa me consumirá” (Jo. 2, 21). Amém!