Matos

Não para de chover por aqui. Começou no final da manhã. Parou um pouco à tarde, retornando no meio dela e vindo até agora, próximo à meia noite. Os matos do quintal estão felizes com tanto crescimento. Chegam a lembrar mudas de árvores. As mudas de árvores continuam como tal, mudas de árvores. Por mais que chova, elas não crescem tão rápido assim. Minha cadela, Branca, ficou marrom com essa umidade toda, mais a terra batida na entrada da garagem. O Natal vem ai e eu ainda não providenciei o gramado que pretendo por junto ao muro. Fico adiando a retirada do mato, que terá o gramado em seu lugar. Acho que estou com pena deles, dos matos. Depois de tanta chuva bem-vinda, ter que tirá-los. Gosto de matos porque são rústicos, simples e despretensiosos. Criativos também, nas suas várias formas, algumas feias, inclusive.Vou passá-los a vasos separados, talvez, pois embora sejam matos eu engraçadamente não os mato. Não estão matando nenhuma outra planta, embora "mato" seja um nome que possa sugerir isso. A não ser que viessem a matar a si mesmos, pois não há nada além deles no quintal. Eu os deixei pelas folhagens verdes que possuem e o crescimento rápido que seduz. Chegam a lembrar mudas de árvores de tão altos que estão, mas acho que já disse isso. E a cor da minha cadela, então, está toda......também já disse isso. Já falei sobre as mudas de árvores? Já, já falei sim. E sobre a pintura total que fiz na casa, já falei? Já, lembrei que sim. Está em textos lá de trás. E de 2011, a paixão que sinto por uma mulher, minha falta de inspiração e o que ainda cabe em mim, já falei? Já, também já. Está mais lá pro começo, junto com minhas impressões sobre a maçã, a Lua, o Sol e o gostar. Também já falei sobre melancolia, confrontos, pessoas e aviões, bem como, sobre o Mauro que Maura fez. Meus contos românticos e filosóficos, então, estão todos lá no começo, junto com as crônicas sobre minhas experiências diárias com coisas simples. Foi assim que comecei aqui e, sendo assim, vou voltar às minhas origens, como quem recicla valores e tira o novo daquilo que, aparentemente, já deu o que tinha que dar. Voltarei daqui a algum tempo, sabe-se lá quanto, mas um tempo que valha a pena, no qual eu me sinta renovado. Enquanto isso, vou envasar os meus matos e providenciar a grama, lavar minha cadela e cuidar das mudas de árvores. Vou cimentar a entrada da garagem e, com certeza, montarei mais um modelo de avião, para deixar ainda mais bonita e completa minha coleção. Ela já tem tantos. Ocupam boa parte do escritório, aquele com a cadeira azul cheia de regulagens e a mesa com quatro pernas, com o calendário de 2011 acima dela, ganho há poucos dias. Já falei sobre minha coleção de modelos? Muitos foram premiados nas exposições por ai. Não, sobre isso ainda não falei, talvez porque envolva muita técnica, embora, para quem os monta, carregue uma incrível ludicidade. Talvez fale sobre isso, quando voltar, cheio de ludicidade, quem sabe. Talvez traga boas notícias sobre o meu livro, no qual, como disse Machado de Assis em "Dom Casmurro", "o meu fim evidente seja atar as duas pontas da minha vida e restaurar na velhice a adolescência". Já é de manhã e a chuva já parou, vou cuidar dos meus matos.

Dassault Breguet
Enviado por Dassault Breguet em 26/11/2010
Reeditado em 27/11/2010
Código do texto: T2637753