(Des) Motivações
É provável que o sujeito também tenha sido primeiro nômade, depois, com o decorrer do tempo se tenha fixado; mas nunca o desmotivado! Não, o desmovativado não é um nômade, pois, mesmo este já tomava atitudes definidas quanto ao trabalho. O idealismo, como sentimento fundamental, existe nele embora infinitamente apagado, é por isso que o nômade poderá parecer estranho aos povos, mas nunca antipático. Tal não acontece com o desmotivado, este nunca foi nômade e sim um parasita incorporado ao organismo dos outros povos. O povo, que o hospeda, vai se exterminando mais ou menos rapidamente. Assim vive o desanimado em todos os tempos até que circunstâncias exteriores desmascarassem por completo seu aspecto velado de comunhão religiosa. Na vida do indivíduo sem motivação existe um traço característico, ele é o grande mestre na mentira. A vida impele o desmotivado para a mentira, para a mentira incessante, da mesma maneira que obriga o homem do norte a vestir roupa quente. Sua vida, no seio de povos estranhos, só pode perdurar se ele conseguir despertar a crença de ser o representante de uma comunhão religiosa. Aí está a primeira grande mentira. Para poder levar essa vida ele precisa recorrer à negação de sua individualidade interior. Quanto mais inteligente é melhor conseguirá iludir. Pode chegar ao ponto de grande parte do povo que o hospeda acreditar seriamente que o desmotivado seja brasileiro, francês ou inglês, alemão ou italiano, embora pertencente a uma crença especial. As vítimas mais freqüentes de tão infame fraude são os que parecem sempre influenciados por essa fração histórica da sabedoria universal. O pensamento independente, em tais rodas, passa como um verdadeiro pecado contra o progresso na vida, de modo que ninguém se deve admirar quer até hoje, alguns não possuam a mais leve suspeita de que os cidadãos constituem um povo e não uma seita religiosa. Que meio mais conveniente e mais inofensivo do que a adoção do conceito estranho de comunhão religiosa? Pois aqui também tudo é emprestado, ou melhor, roubado - a personalidade do religioso, já por sua natureza, não pode possuir uma organização religiosa, pela ausência completa de ideal, e por isso mesmo, de uma crença na vida futura.