O Massacre dos Gatos e a sociedade francesa do século XVIII
Robert Darton é um historiador norte americano especialista na história da revolçuão francesa, especialmente no que diz respeito à sua produção literária e cultural. No texto escolhido para este trabalho o autor parte da análise de uma expressão encontrada na porta de uma sala dedicada ao estudo de uma universidade norte-americana.
Os caminhos acadêmicos para entender o significado da expressão "Fiji $ 499" foi que o autor havia saído de uma discussão sobre Charles Sanders Peirce e a teoria dos signos, quando se deparou com a plaquinha "FIJI $ 499" reconheceu-o como um signo. Sua mensagem era clara: você podia viajar para FIJI, com passagem de ida e volta, por 499 dólares. Todavia, o sentido era outro, era uma brincadeira para o público universitário, feita por um estudante que estava em pleno inverno, fazendo uma tese e parecia querer dizer: "Quero dar o fora daqui. Me dêem um pouco de ar! Sol! Mehr licht!". Podia acrescentar outros comentários. Só que para entender a piada, teria de saber que as salinhas são celas individuais onde os estudantes trabalham em teses e essas teses exigem longas temporadas de trabalho duro, e que o inverno em Princeton se fecha em volta dos estudantes como uma mortalha úmida, teria de conhecer a cultura do campus, e não é nenhuma proeza se vive no meio dela, mas tem uma característica que distingue os reclusos das salinhas em relação aos paisanos passeando ao Sol e ao ar fresco. Para nós, "FIJI $ 499" é engraçado. Para você, bobo. Para mim, colocou uma questão clássica: como funcionam os símbolos? Quando deparou com "FIJI $ 499", descobriu, para sua surpresa, que as categorias peircianas davam certo. O "signo" se constituía das letras impressas como anúncio. O "objeto" ou mensagem visível dizia respeito à viagem para FIJI. E o "interpretante" ou sentido era a piada: "Quero dar o fora daqui". Com efeito, os sentidos se multiplicaram na sua extremidade do circuito de comunicação. E Peirce funciona mesmo, concluiu. Amy Singer, doutoranda em estudos balcânicos, disse que considerava aquele signo mais como uma brincadeira e uma fantasia de evasão do que como um lamneto. "É como um adesivo de pára-choque" o que reforçou ao autor sua adminiração por Peirce, embora as ideías da moça não coincidiam com as do autor.
Robert Darton leu aquela plaquinha através do seu ser social cultural interpretou e gerou algo em sua consciência, memória e linguagem e chegou a conclusão de algo como a partir de uma placa do Real interpreto gerando nova linguagem do Real.
Real é a plaquinha (recorte do jornal colocado na porta) interpretação resulta na memória que vai emitir uma linguagem, o esrudante está cansado de fazer seu trabalho de pós-graduação e quer mostrar ao mundo que está sofrendo e gostaria de estar viajando, quando interpreto algo como real imito signo, é isso que estou falando.
Ao sair do seminário de Semiótica, Robert Darton em sua mente estaria gravado todo aquele conteúdo no qual se refere aos signos. Portanto, podemos compreender da seguinte forma: a plaquinha é o real, ouseja, é a realidade que se referia ao aluno que a colocou onde será interpretado pelo meu ou seu ser social que a consciência captadonde remeterpa a minha linguagem ou melhor dizendo emitem signos/palavras/gestos dependendo da forma que foi exposto nessa plaquinha, que considerarei como sendo um símbolo que poderá haver uma série de interpretações ao vê-lo diante de qualquer circunstância que se estiver exposto.
Um exemplo que posso citar é que a cor ´preta que simboliza as trevas, a morte, o luto, segundo algumas pessoas têm a idéia para mim. Não passa de uma cor como outra qualquer, mas para uma sociedade que coloca essa cultura tem grande importância e por que não usar o branco? Na hora de um velório como aluguns japoneses usam quando seus entes queridos morrem e onde ao invés de chorarem se alegram, pois se encontrará livre de um mundo cruel no qual se sofre muito e enquanto uma criança nasce eles choram, pois essta trilhará todo um caminho de lutas e sofrimentos. Ou até mesmo no túmulo de seus mortos colocam biscoitos, como se esses mortos viessem comer esse alimento.
Eu diria que o simbolismo é a forma abstrata ou metafórica de se explicar aquilo que se tem no mundo real.
Analisando essa frase extraída do texto: "Os símbolos não representam equivalências fixas, mas analogias contextualmente compreensíveis".
Michel Herzfeld descobriu que os símbolos significam muitas coisas, a maioria delas inesperada e todas impenetráveis para quem não percorresse com muitomcuidado as múltiplas associações ligadas a corvos, acafrões, seixos e outros objetos da cultura local. Várias gerações de antrópólogos passaram pela mesma experiência. Por onde vão, encontram nativos interpretando símbolos de maneiras complexas e surpreendentes: por exemplo, a harpa e o chocalho entre os fangs no Gabão, segundo James Fernandez; as borboletas e os besouros de carniça entre os apaches no Arizona, segundo Keth Basso, as árvores e trilhas entre os ilongots nas Filipinas, segundo Renato Rosaldo, as casas e flores entre os tâmeis no sul da Índia, segundo E. Valentine Daniel Loring Danforth aplicou a um estudo de rituias fúnebres na Grécia rural e descobriu que os funerais funcionavam como uma transformação negativa das cerimônias de casamento, e que os símbolos utilizados nos lamentos fúnebres ajudavam os camponeses a enfrentar a dor, transformando metaforicamente a morte em vida. Durante todo o luto, as mulheres vestidas de negro se reúnem junto aos túmulos de seus mortos e improvisam canções. É freqüente que censurem os mortos por lhes causarem dor: "Vocês nos envenenaram". O veneno assume a forma de lágrimas amargas e ardentes. Mas as lágrimas também regam os túmulos, devolvendo a fertilidade ao solo e dando aos mortos água para beber, cozinhar e lavar. Assim, nos lamentos, os mortos respondem ao desespero dos parentes vivos com metáforas positivas:
Estranhos, parentes e todos vocês que sofrem, aproximem-se.
Digam-me algumas palavras e derramem algumas lágrimas.
Para qúe as lágrimas virem uma fonte fresca, um lago, um ocenao e corram para o mundo subterrâneo;
para que os sujos possam se lavar, e os sedenteos possam beber;
para que as boas donas de casa possam amassar e assar o pãp;
para que os belos rapazes possam pentear e repartir os cabelos.
Segundo Danforth, a água tem uma grande força metafórica no interior árido da Grécia. A umidade sugere fertilidade e vida, a secura, aridez e morte. Infiltrando-se na terra seca dos cemitérios, a água reanimaria os mortos. As viúvas vertem água nos túmulos dos maridos e se dizem abrasadas pela dor: por isso o negro das roupas e o "veneno" das lágrimas, mas as lágrimas também correm como água para os mortos. Eles reúnem os atributos da água e do veneno, e assim intermedeiam a oposição entre a vida e a morte. A mediação assume a forma de uma série escalonada de oposições binárias, que se tornam cada vez mais brandas até se fundirem do símbolo das lágrimas.
Vida
Úmido
Água
lágrimas
Veneno
Sexo
Morte
Figura 1
Se a poesia não é capaz de dissolver a morte, ela pode eliminar seu agulhão, pelo menos durante alguns momentos de suspensão da descrença. Não estabelecendo "relações de representação" mecânica e fazendo as coisas fluírem entre si, ultrapassando as fronteiras que as separam no mundo prosaico. Os historiadores se sentem mais à vontade na prosa. Ordenam as coisas em seqüência e raciocinam dos efeitos para as causas.
Como Danforth, Hizinga insiste em que o simbolismo funciona como um modo de participação ontológica, e não como uma relação de representação. Em vez de representarem as virgens e os mártires, as rosas são elas, com eles pertencem à mesma ordem do ser.
Victor Turner concluiu que os sentidos ligados à árvore compunham todo um espectro, que ia do normativo ao sensorial.
Os símbolos não representam equivalências fixas, mas análogo contextualmente compreensíveis. Explicaria essa frase da seguinte forma.
Os símbolos não são mostrados de uma forma única e eterna, pois ao passar dos tempos a cultura na qual os seres humanos estão inseridos se modifica cada vez mais, ou seja, aquilo que simbolizava valor (o gato) hone é interpretado como a má sorte ou azar.
Enfim o que se faz aqui é uma semelhança que seja clara às nossa lentes humanas.
"O que quero dizer é algo mais simples: nós pensamos no mundo da mesma maneira que falamos sobre ele estabelecendo relações metafóricas".
As relações metafóricas envolvem signos, ícones, índices, emtonímias, sinédoques e todos os outros recursos da maleta de truques do retórico. Os filósofos e os lingüistas classifiacm os truques em definições e esquemas diferentes. De minha parte, hesito e m assinar embaixo de um sistema ao invés de outro, e prefiro utilizar o termo símbolo de maneira ampla, ligado a quanquer ato que transmita um sentido, seja por som, ima gem ou gesto. A distinção entre simbólicos e não-simbólicos pode ser tão tênue quanto a diferença entre um pestanejo e uma piscadela, ams é fundamental para entender a comunicação e interpretar a cultura. Assim, os historiadores da cultura talvez tenham a ganhar se deixarem de lado a idéia do simbolismo como leãp=valor, e pensarem nos símbolos como polissêmicos, fluidos e complexos.
Lévi-Strauss diz que algumas coisas são boas para comer, outras são "boas para pensar". As pessoa podem expressar o pensamento manipulando coisas em lugar de abstrações - servindo certos pedaços de carne a certos membros da tribo, arrumando a areia em certos desenhos no chão da cabana navaja, ficando ao pé da árvore mudyi, matando gatos. Esses gestos veiculam relações metafóricas. Eles mostram que uma determinada coisa tem uma afinidade com uma outra coisa, em virtude de sua cor, sua forma ou de suas posições comuns em relação a outras coisas mais.
A linguagem nos dá nosso crivo mais básico. Ao nomear as coisasa, nós as inserimos em categorias lingüísticas que nos auxiliam a ordenar o mundo. Dizemos que esta coisa é um peixe e aquela uma ave, e aí ficamos satisfeitos por saber do que estamos falando. Nomear é saber - é encaixar alguma coisa num sistema taxonômico de classificação. As cobras não são peixes, nem aves. Deslizam pelo chão, não são de comer, mas são boas para comentários maliciosos: "Stephen é traiçoeiro como uma cobra".
Os antropólogos têm encontrado tabus no mundo inteiro. Para os judeus, a dieta funcionava como uma maneira de adorar a seu Deus e preservar sua cosmologia, e os porcos, sendo ruins para comer, eram bons para pensar.
Na taxonomia tailandesa, o búfalo convive com todos os tipos de animais, alguns bons para comer (o rato da floresta, que pertence inequivocamente ao reino selvagem), alguns não (a lontra, que vai e vem entre a terra e a água). Tambiah faz um levantamento de todos eles, mapeia o espaço do lar e percorre as regras de etiqueta e casamento. Em seguida, arruma os dados num diagrama, que pode ser lido na horizontal e na vertical, para ter as homologias. O diagrama mostra que os tabus formam uma série coerente: o incesto corresponde a uma passagem do genro para a área do dormitório dos pais, e a um búfalo chafurdando embaixo do lavatório. A série pode ser transposta em equivalências positivas: o casamento recomendado corresponde a entreter os parentes na sala de visitas e a banquetear o búfalo criado por uma outra família. As regras espaciais, sexuais e alimentares fazem parte do mesmo sistema de relações, e o diagrama funciona como uma grade natural.
"O que quero dizer é algo mais simples: nós pensamos no mundo da mesma maneira que falamos sobre ele estabelecendo relações metafóricas".
Ao meu ver esta frase é em correta, pois tanto nas poesias quanto ao falarmos uns com os outros no nosso dia a dia como por exemplo ao dizer à alguém "você é um anjo". "Nossa! você é um doce", "Você é um amor". Por fim fazemos similaridades entre algo concreto e abstrato, pois refletivo no mundo do mesmo modo que expomos nossos ideais diante dele.
Segundo ele, o simbolismo supõe uma relação de representação direta entre o significante e o significado.
Ou melhor dizendo com um exemplo que citarei é o seguinte:
A casa tem um significado ligado ao significante, a imagem acústica quando ouço a palavra em si remete ao meu cérebro todo uma série de formas desenhos referentes a essa casa, pois eu tenho a noção do que é esse determinado objeto. Portanto, o significante é de natureza auditivo desenvolve-se no tempo e o significado estende-se aos conceitos propriamente ditos.
O significado do termo símbolo oferecido pelo autor é que os símbolos funcionam não só por causa de seu poder metafórico, mas também devido à sua posição dentro de um quadro natural.
Essas considerações - o caráter polissêmico dos símbolos, o valor ritual dos animais e o quadro cultural que dá sentido aos s´´imbolos e aos animais, nos ajudam a entender o episódio do massacre ritual dos gatos por trabalhadores numa gráfica em Paris, por volta de 1730. Os rapazes conseguiram jogar com todas essas variações dos temas culturais correntes e tiveram uma encenação de virtuoses: simbolismo polissêmico junto com um ritualismo polifórmico. Os símbolos fizeram ressoar toda uma cadeia de associações, de cima a baixo - dos gatos à dona da casa, ao mestre e a todo o sistema de justiça e ordem social parodiado no julgamento. Eles jogaram com as cerimônias da mesma forma como jogaram com os símbolos, e, para entender seus malabarismos, não podemos ser muito esquemáticos nem muito literais para captar o sentido da brincadeira.
Se insistirmos em procurar um charivari completo ou um processo inteiro por feitiçaria no texto de Contat, o significado do episódio nos escapará, pois Contatmostrou que os trabalhadores lançavam mão de pedaços e trechos de rituais, em medida suficiente para transmitir a mensagem e explorar todo o leque de sentidos, associando uma e outra forma tradicional. O massacre foi engraçado porque virou um jogo de trocadilhos rituais. Vai contra o feitio da profissão dos historiadores afirmar que os símbolos podem significar muitas coisas do mesmo tempo, que eles podem ocultar e simultaneamente revelar seus sentidos, que os rituais podem se reunir uns nos outros, e que os trabalhadores podem citá-los, jogando com os gestos da mesma maneira que os poetas jogam com as palavras. Provavelmente alguns se divertiam com as pancadarias nos gatos e ficavam por aí mesmo, outros liam nela todos os tipos de significados. O massacre dos gatos pode ser interpretado de maneiras diferentes pelas diferentes pessoas, atores e igualmente expectadores, mas não poderia significar tudo e qualquer coisa , da mesma forma como The Wizard of Oz não pode transmitir toda a gama de idéias e emoções de King Lear. Apesar de toda a sua multivocidade, os rituais encerra, restrições internas. Baseiam-se em modelos estabelecidos de comportamento e num leque dado de sentidos. O historiador pode explorar esse leuqe e mapeá-lo com uma certa precisão, mesmo que não tenha como saber exatamente quais os usos feitos deles. Para se obter uma interpretação rigorosa, temos de avançar dos detalhes para o quadro cultural que lhes conferia sentido, reunindo a análise formal e o material etnográfico.
Os símbolos transmitem múltiplos sentidos, e que o sentido é interpretado de diferentes maneiras por diferentes pessoas.
A relação entre o "massacre dos gatos" com a sociedade francesa do século XVIII é que a matança ritual dos gatos teve uma graça hilariante para um grupo de oficiais gráficos em Paris, por volta de 1730. O relato de Contat sobre o massacre toma como ponto de partida as misères dos dois aprendizes, Jérôme (o equivalente ficional de Contat) e Léveillé. O mestre os explora, dormem num telheiro frio e visguento no pátio da oficina, e dá-lhes de comer uma comida tão podre e rançosa que nem os gatos comem, o tom é mais humorado do que zangado. Os aprendizes eram alvo de brincadeiras e maus tratos, uma espécie de trote tido como apropriado para a posição deles entre a infância e a idade adulta. Inicialmente, Conatat invoca um passado místico, quando as gráficas eram "repúblicas" onde os mestres e oficiais viviam juntos como iguais, dividindo a mesma comida e o mesmo trabalho. Num passado recente, porém, os bourgeois, tinham excluído os oficiais dos cargos de mestre e diminuíram seus salários contratando trabalhadores semiqualificados (alloués). A posição dos oficiais se deteriorou entre o final do século XVII e o começo do século XVIII. Contat mostra que os oficiais faziam todo o serviço enquanto o mestre dormia até tarde, ceava com extravagãncias, adotava ares de falsa fidalguia, tupi burguês.
Os gatos sintetizam essa ruptura dos costumes populares. Para os burgeois, eram bichinhos de estimação. Os mestres das oficinas gráficas criavam gatos, dando-lhe os petiscos mais finos de sua mesa e mandara pintar seus retratos. Para os trabalhadores, gatos não eram bichos de estimação, eram gatos dos becos, bons para matar em ocasiões de festa como dia de São João, quando eram queimados aos sacos, ou durante os charivaris, quando lhes arrancavam os membros. Os gatos possuíam uma qualidade satânica. Passeavam à noite como amigo das bruxas e copulavam medonhamente nos sabás noturnos das feitiçarias.
Quando o gato cruzava o caminho de alguém, era comum que a pessoa o mutilasse com um cacete.
No dia seguinte veria uma velha megera com um membro quebrado ou cheia de contusões, os gatos estavam relacionados com os lares, principalmente com a dona da casa, e especificamente com seus órgãos genitais.
Uma moça que engravidasse tinha "deixado que o gato fosse até o queijo". E os homens que gostavam de gatos tinham um jeito especial com as mulheres: "Se ela ama o seu gato, ama sua mulher". Contat deixa explícita a ligação com a feitiçaria, relaciona os cuidados com la grise ao "respeito pela casa" e dá a entender que existe um elemento sexual na identificação da dona da casa com seu gato. Ela surge como uma mulher luxuriosa que conjuga uma "paixão por gatos" a um gosto em trair o marido. Tendo os aprendizes matado la grise, Contat explica o que o "assassinato" significou para o marido e a mulher: " Para ela, eles haviam lhe tirado uma gata sem igual, que ela amava até a loucura, e para ele, eles tinham tentado manchar sua reputação". O episódio todo mostrava que os gatos eram ótimos para pensar. O massacre começou com uma brincadeira típica, que os aprendizes inventaram em resposta a uma misère igualmente típica: a falta de sono. Eles têm de se levantar cedo para abrir o portão para os primeiros oficiais que chegam ao trabalho. E sentem uma grande dificuldade em dormir à noite, pois um bando de gatos de rua ficam miando perto de seu dormitório miserável. O bourgeois, dorme a noite inteira. Os rapazes resolvem tirar uma desforra Léveillé, dispara como um gato força do lado de fora da janela do mestre que o velho não consegue mais dormir.
O mestre é tão supersticioso em termos religiosos quão despótico na direção de sua oficina e conclui que algumas feitiçarias lançaram um sortilégio e encarrega os rapazes de acabarem com os "animais malignos". Jérôme e Léveillé comandam os trabalhadores numa alegre caça aos gatos armados com barras dos prelos e outras ferramentas do ofício. A dona da casa lhes recomenda que não assustem la grise, e por isso ela é liquidada em primeiro lugar. Os gatos são enforcados e os trabalhadores riem.
Chega os bourgeois e reclama que ao invés deles trabalharem, estão matando gatos. Madame Monsieur". Estes homens maus não podem matar os mestres, então mataram minha gatinha".
Enquanto os trabalhadores riem, o mestre e a senhora se retiram humilhados, ele reclama o tempo de trabalho perdido, ela lamenta sua chatte perdida.
Os bourgeois é o alvo da brincadeira, arranjaram um jeito de enfurecê-lo. E multiplicam a animação transformando o carnaval numa caça às bruxas. O mutilamento dos gatos é para se defender contra a feitiçaria. Ao espancarem seru animalzinho da intimidade, eles a acusam de ser uma bruxa, e então completam o insulto jogando com as associações sexuais da chatte - um caso de estupro metonímico, o equivalente simbólico do assassinato, ainda que ela não possa acusá-los senão de grosseria, pois eles disfarçaram suas intenções sob a metáfora.
A metáfora refprçou essas intenções, e transmitiu mensagens diferentes para diferentes pessoas. Contat relata o massacre do ponto de vista dos trabalhadores, e assim ele aparece basicamente como uma humilhação do burgeois. Para eles, nada poderia ser mais insultante para o patrão do que um ataque a seu bem mais querido, la chatte de sua mulher. A reação da mulher dá a entender que ela percebeu que a agressão passou de sua gata para sua pessoa e seu marido. Daí seu comentário, que de outra forma seria uma inferêncua falsa: "Esses homens maus não podem matar os mestres, então mataram ma chatte", mas o mestre era obtuso demais para perceber onde fora logrado, e apenas se enfureceu com a perda de trabalho provocada pela bufonaria. Os rituais se encaixam entre si, de forma que os trabalhadores poiam ir e vir entre quatro modelos básicos. Converteram um rodeio de gatos numa caça às bruxas, numa festa de carnaval, num julgamento e numa variedade lasciva de teatro de rua. É verdade que não executaram nenhum desses rituais em seus detalhes completos. Isso incluíria a possibilidade de invocar os demais. Se tivessem queimado os gatos, teriam ficado mais próximos da tradição festiva do Mardi Gras e da festa de São João,mas teriam sacrificado o legalismo cerimonial ligado aos processos penais e à festa de São Martinho. Se tivessem deixado de lado as músicas grosseiras, teriam criado um clima de tribunal mais autêntico, mas não teriam conseguido exprimir a idéia de enfurecer o mestre e transformar a oficina num teatro.
A narrativa e Contat relacionam os gatos com a feitiçaria, a domesticidade e a sexualidade, e que podem ser confirmadas numa série de outras fontes. Essas conexões fazem parte de um sistema de relações ou, se ainda se pode empregar o termo, de uma estrutura. A estrutura dá o quadro para cada narrativa e se mantém constante, ao passo que os detalhes variam em cada relato, da mesma exata maneira que ocorre nas narrações de contos populares e nas encenações dos rituais entre os camponeses gregos, os moradores das florestas africanas, os aldeões tailandeses e os montanheses da Nova Guiné. O relato diz respeito a um conjunto de oposições - entre homens e animais, patrões e empregados, vida doméstica e vida selvagem, cultura e natureza. Neste esquema, os aprendizes e os gatos domésticos são termos intermediários. Os aprendizes operam na fronteira entre a oficina e o mundo interior. Como encarregados do portão, eles deixam entrar os trabalhadores que vêm da rua, e, como rapazes errantes, batem perna pela cidade de dia, mas dormem na casa à noite. Sob alguns aspectos, são tratados como crianças, mas em outros como trabalhadores, pois são criaturas no limiar entre a infância e a idade adulta. Os gatos de estimação pertencem parcialmente ao mundo exterior, à esfera dos gatos de rua e da animalidade, e, no entanto vivem dentro de casa e são tratados com mais humanidade do que os rapazes . Como uma criatura intermediária de especial importância e favorita de sua dona, la grise é um tabu todo especial. A dona da casa recomenda aos rapazes que se mantenham à distância dela, e Contat se refere à eliminação como um "assassinato". Ela ocupa um espaço ambíguo, como o de muitos animais ritualmente poderosos em diversos diagramas etnográficos.
gatos domésticos
humano animal
Os aprendizes ocupam o mesmo espaço. É um território disputado, pois a narrativa inicia com a rivalidade entre os rapazes e os gatos. Competem pela comida e também por uma posição próxima do mestre e da patroa dentro do lar. Abstraídas da narrativa e dispostas em diagramas, as posições equivalem às da figura abaixo.
Mestre-Dona de casa - Aprendizes - Gatos domésticos
humano + humano + animal -
comida humana+ comida animal - comida humana +
Gatos vira-latas
animal
comida animal -
Na verdade, os gatos substituíram os rapazes na posição privilegiada junto ao mestre e à dona da casa. Na velha "república" do ofício gráfico, os aprendizes teriam partilhado a mesa do mestre, mas agora foram encostados para a cozinha, ao passo que os gatos de estimação gozam de um livre acesso à sala de jantar. Essa inversão dos comensais foi a injustiça que armou o palco para o massacre. Ao enforcar os gatos (um castigo humano aplicado aos animais), os rapazes inverteram a situação e restauraram o risco de confundir as categorias.
O pequeno drama doméstico assumiu um grande peso simbólico porque veio a se vincular à questão séria das relações de trabalho, que os trabalhadores também expressavam numa linguagem simbólica. Contat registrou usos que podem ser comprovados em muitos manuais do ofício gráfico. Os trabalhadores aplicavam termos animais a si próprios: os impressores (ursos), os compositores (macacos) . Ai fazerem músicas grosseiras, baliam como cabras. E ao brigarem, empinavam-se para trás e soltavam "béés" de desafio e atracavam-se como bodes. Os trabalhadores faziam parte do mundo bravio das ruas, o mundo habitado pelos gatos dos becos, que representavam os animais em sua forma mais crua, uma animalidade de cópulas e berreiros próprios do cio, que comparece no relato como a antítesed da ordem doméstica do lar burguês. Assim, o drama pôs em movimento um sistema de relações que pode ser reduzido a um diagrama final.
Doméstico
(Lar)
Mestre.......................................Dona da casa
Cultura Aprendiz.........................Gato doméstico Natureza
(Trabalho) (Sexo)
Trabalhador................................Gato vira-lata
Selvagem
(Vida de rua)
Na horizontal, o diagrama traça as relações de identidade;lido na vertical, traça relações de oposição. Os aprendizes e os bichos de estimação ainda operam como termos intermediários, mas ocupam um campo maior de categorias contraditórias: o mundo doméstico ou caseiro versus o mundo da selvageria e da vida de rua, a esfera da natureza e do sexo. Os cantos do diagrama definem posições onde as dimensões se reúnem. O mestre fica na junção entre trabalho e domesticidade, a dona da casa na junção entre domesticidade e sexualidade, os gatos de rua na junção entre sexo e selvageria, os trabalhadores na junção entre selvageria e trabalho. Devido ao risco de insubordinação aberta, os trabalhadores canalizavam sua agressão pela rota maus tortuosa: atacaram a patroa através dos gatos, e o mestre através da patroa, mas, com isso, mobilizaram todos os elementos de seu mundo. Não se limitaram a puxar o nariz do patrão. Encenaram um levante geral - dos trabalhadores contra os mestres e de toda a esfera da natureza violenta, desenfreada e libidinal contra a ordem disciplinada do trabalho, da cultura e da domesticidade.
Os diagramas podem revelar a estrutura,e, querendo carve e sangue, podemos voltar ao relato ou tentar imaginar o massacre como foi realmente, com todas as pelagens e coágulos, gritos e gargalhadas. Neste caso, entretanto, só podemos recorrer à nossa imaginação e à narrativa de Contat.
E se toda essa caça aos símbolos leva a um beco sem saída, o historiador etnográfico pode se consolar com a idéia de escapar para um trabalho de campo em pastos mais verdejantes: "Fiji $ 499".
Na velha república do ofício gráfico, os aprendizes partilhavam à mesa do mestre, mas agora comem na cozinha, e os gatos na sala de jantar. Essa que foi a injustiça, segundo eles que armou o massacre. ESsa inversão de valores de devido a insubordinação, os trabalhadores atacaram a patroa e aproveitaram a superstição do mestre, quando Levéille sobe no telhado e fica uivando para o mestre não dormir e o mestre acreditando que fosse um sortilégio que algumas feiticeiras lançaram, encarrega os rapazes de acabarem com os animais malignos" e a dona da casa ainda pede que não assustem la grise e ela é liquidada em primeiro lugar.
Para mim, havia outros meios dos trabalhadores lutarem pelos seus direitos, se é que eles tinham algum, fizessem greve, reivindicassem melhores condições de trabalho, de alimentação e não aproveitar-se do fanatismo religioso e superstição do mestre, que era normal naquela época, o mundo das trevas, como era conhecido, a ignorância do povo em relação aos gatos, acreditavam que a mulher que tinha um gato preto e não era casada, era bruxa e tinha que ser queimada viva na fogueira ou que a mulher que possuía mais inteligência que o homem era bruxa também. Quantos gatos não eram presos em gaiolas e queimados vivos por causa de uma falsa crença e fanatismo de um povo pela Igreja católica Apostólica Romana, que ao meu ver, o Deus deles seria o próprio Lúcifer. A Igreja sempre quis comandar o povo. Tive um professor de história no ginásio, que disse que a religião fora inventada pelo próprio homem com o intuito de acabar com o próprio homem , no sentido de gerar guerras entre eles, como acontece com o povo muçulmano, judeus e até mesmo aqui no Brasil. Quantas pessoas também não foram queimadas na Inquisição por transgredirem os falsos valores que a Igreja Católica queria transmitir.
A relação entre o "Massacre dos gatos" com a Sociedade Francesa se dá pela seguinte razão:
O gato era símbolo de valor luxúria no qual vivera como rei juntamente com suas donas.
Fato esse que revoltava a classe trabalhadora que via toda aquela esbanjação, pois a situação, na qual se encontravam não era a das melhores.
E por esse motivo cometeram aquele ato de vingança. E é nesse fato que me relembra aquela festa. Na qual uma socialite carioca dera para seu cachorro. E que fez muito bem. Amo os cachorros. E eu penso que devemos gastar o nosso dinheiro com coisas que nos dê prazer. Agora, se imaginarmos bem e compararmos os fatos, se houvessem pessoas como esses trabalhadores aqui no Brasil, concluiriam o Massacre aos cães que algumas pessoas até defenderiam, pois se revoltariam, vendo os ricos desperdiçarem dinheiro com coisas tão absurdas sob o ponto de vista deles e não meu, sabendo que existem muitos nas rua passando fome, morrendo de frio, mas observamos coisas piores neste mundo.
Sob outro ponto de vista existem pessoas que acreditam que cuidar bem do seu animalzinho, dar carinho e atenção é o suficiente porque do que adiantaria uma festa para um ser que não tem capacidade racional para pensar assim como o homem, graças a Deus que os animais não pensam como o homem, senão haveria massacre não de gatos, nem de cães e sim "Massacre de homens".