A Inclusão da Exclusão

Inclusão da Exclusão

por: Leandro Villela de Azevedo

Inclusão nas escolas não é algo novo. Lembro-me muito bem que há 8 anos tive o meu primeiro aluno de inclusão. Não nos foi explicado muita coisa, a não ser que ele tinha algum tipo de deficiência mental e que a ele não se aplicavam as mesmas regras dos outros alunos. O discurso foi rápido e simples: “pela nova política do governo somos obrigados a aceitar alunos com deficiência mental, ele está aqui mais para aprender convívio humano. Ele não tem a capacidade de aprender como os outros, deve participar de todas as atividades que os outros participam, mas ele nunca reprovará, nem receberá errado em nenhuma questão, simplesmente o deixem na sala e garantam que os outros alunos convivam bem com ele”.

Como naquela época inclusão era novidade, os professores ficaram um pouco chocados com a notícia, alguns apoiavam em gênero número e grau a atitude do governo de incluir, outros defendiam em alta voz que aquilo era um absurdo, mas a maioria, como eu, apenas esperava, meio aturdidos, sem saber o que fazer, mais instruções ou orientações de como lidar com o menino, demonstrando sim receio de não dar contra de algo tão diferente em sala, ao mesmo tempo que, como devia ser natural dos professores, com certo gostinho de desafio pela frente. No meu caso o desafio seria provar que o menino não era tão incapaz quanto diziam.

Hoje inclusão não é mais novidade. Mas em 99% das escolas ainda parece ser. O número de alunos considerados de inclusão aumentou drasticamente. Ao menos nas escolas particulares aqui de SP, é raro achar um professor que nunca tenha tido ao menos um aluno nessas condições. Algumas instituições, inclusive, parecem ter virado máquinas de produção de laudos de algumas daquelas famosas siglas que geram "inclusão", mas, na maior parte dos casos alunos continuam sendo entregues como aquele: "esse é um aluno de inclusão" ... e ponto final. A diferença é que os professores não acham mais tão estranho, os embates são menos acalourados, e especialmente, ninguém espera mais receber auxílio e treinamento de como lidar com esses casos, pois simplesmente esperaram por muito tempo que alguém viesse ao seu auxílio, e nada. É certo que algumas escolas são excessão e que alguns professores, independente de sua instituição, também são excessão, por aceitar pagar do próprio bolso, e dispender de seu próprio tempo (pois só sendo professor para entender o porquê do tempo do bom professor ser tão escasso) e fazer um dos raros cursos sérios por contra própria.

Quando ouvi falar a primeira vez sobre inclusão, ouvi que haviam alunos cegos com profissionais que lhes auxiliavam no braile durante as aulas, alunos surdo-mudos que tinham um "tradutor" de LIBRAS (linguagem de sinais) em sala de aula. Aquilo parecia fantástico, imaginem o quanto aprenderíamos com um desses profissionais quando o aluno de inclusão viesse acompanhado desse apoio. Estranhamente, nesses 8 anos, tive um total de 18 alunos de inclusão, que estavam “incluídos” em escolas “normais”, mas nunca tivemos um único profissional, nem que fosse por 5 minutos, especializado naquela doença, para nos orientar. Ainda porque, a deficiência desses alunos era mental, e não deficiência auditiva ou visual.

Uma dessas escolas sempre se esforçou muito com cursos, leituras e reflexões sobre essa dificuldade, e isso faz toda a diferença; mas a não ser esse esforço de uma entidade em particular, nunca vi um apoio real vindo com a tal lei da inclusão.

Mas isso em si não seria o pior problema, como eu disse, parece de certa forma natural que professores gostem de desafio. Mas é necessário saber medir o seu desempenho, e em especial, ter claro os objetivos por traz da ação. Aquele primeiro aluno, no princípio, conseguiu até que com relativa facilidade lidar com a inclusão. A sala achava engraçada a sua forma de agir e parece que ele gostava de ver que estava despertando riso nos colegas.

Mas quando o riso de brincadeira se torna chacota (e é muito tênue a linha que separa uma coisa da outra) a pessoa que não sabe se expressar por palavras usa a violência. Acontece que por ser de "inclusão", não havia o que se pudesse fazer com o menino, nem tirá-lo da sala, e parece que ele se divertia muito mais em causar dor do que risos.

Se já é difícil lidar com crianças, imagine quando um lado se sente diminuído ao ver que o colega bate nos outros, e nada acontece com ele, ao mesmo tempo aqueles que fazem qualquer brincadeira com ele recebem punição dobrada. Por que ele não faz prova como os outros, só pinta desenhos? Por que quando ele picou a prova dele e de outro aluno nada ocorreu com ele?

A falta de informação dada aos alunos só deixava a inclusão cada vez um nome mais cruel para o que realmente estava ocorrendo aos que o excluíam de todas as formas possíveis. Resolveram então abrir o jogo com a sala, e a situação se tornou ainda pior, muitos alunos começam a querer se tornar de "inclusão", afinal, alguns deles tinham problemas de nota e de certa forma realmente tinham alguma dificuldade, ainda que não pudesse ser incluída na categoria "inclusão.

8 anos se passaram. Também se passaram várias escolas do minha vida, inclusive em uma destas tive uma maravilhosa e triste experiência que relato em "quando raciocínio vira BigBrother" Mas é certo que as escolas ainda não estão nem um pouco "inclusivas". Algumas simplesmente por falta de qualquer vontade em se adaptar, afinal é cômodo "jogar" um aluno pagante sobre o qual não há qualquer necessidade de olhar especial, apenas instruindo os professores a "ele não vai fazer nada e vai ser aprovado". Mas a questão é que mesmo as escolas mais esforçadas neste aspecto, e graças a Deus atualmente estou em uma dessas, mesmo estas muitas vezes precisam se desdobrar para achar profissionais especializados que possa instruir os professores, enviar seus professores a cursos em raras instituições que se dedicam a isso. Normalmente as associações que dão os laudos de inclusão não se preocupam em instruir como lidar com aquele aluno. E quando existe alguma comunicação, é por esforço individual.

Será que uma questão tão moderna como a inclusão, colocada de cima pra baixo pelo governo, não precisaria de uma igual estrutura governamental para que funcionasse na prática? Ou será que assim como computadores apodrecem após serem comprados e instalados nas escolas, por questões burocráticas, também os nossos alunos e professores precisarão apodrecer para alguém comece a pensar o que fazer com eles?