Pronunciamento por ocasião da Colação de Grau                             dos graduados da UVA.

         Queridos (as) afilhados(as),

        É grande a minha emoção em receber tamanha honraria. O mundo consumista e ganancioso só valoriza o poder e o prazer além do TER. O SER sempre lhe é indiferente se não acompanhado destes valores qua às vezes se transformam em contra valores.

        Eu sou uma simples professora aposentada. Alguém que procurou ser sempre luz nas instituições por onde passou, doando sua vida por vocação e amor, no trabalho do dia-a-dia. E me sinto gratificada em ser, apesar da minha simplicidade, convidada para hoje, paraninfar uma turma de graduados da Universidade do Vale do Acaraú - UVA, especialmente quando esta é batizada pelo nome de “Coragem e Desafio”.

        Sou pós-graduada por esta universidade que tanto tem contribuído com a educação e a cultura de Brejo Santo. Agradeço aos que fa azem, desde seu princípio, a todos os atuais professores que sem medir esforços, têm se deslocado para cá e sido luzes em nossa terra. E especialmente aos formandos: muitos, meus ex-alunos; alguns, amigos e parentes queridos, que tiveram a coragem de reconhecer que aqueles que são simples amantes da cultura da sua terra, também constroem a sua história e merecem carinho e gratidão.

         Quem sou eu?
         Sou aquela menina que nasceu na rua da matriz, há quase 60 anos; cresceu na vizinhança do padre Pedro, da Família Viana Arrais e da matriz do Sagrado Coração de Jesus, ouvindo o som do órgão que vinha do coro, nas celebrações festivas;  viveu brincando no coreto da Praça Velha, à sombra dos pés de barriguda e de Japão, no quadro do comércio velho, na escada do Paço Municipal, na ponte de madeira da Taboqueira, na Cacimba do boi, na cacimba de madrinha Luzia, no Riacho Barrocão, no sítio de Mariquinha Nicodemos, no Serrote, no Sítio do Padre Pedro, na Várzea, na Cacimbinha e no Engenho da Nascença, onde viveram meus antepassados, entre eles minha hexavó Theodora Maria da Conceição e meu bisavô Coronel Basílio. Eu sou aquela adolescente que iniciou seu magistério, ainda aluna, para contribuir com a educação de sua terra, aprendendo matemática enquanto ensinava a alunos da sua mesma faixa etária no Ginásio Padre Abath e no Colégio Padre Viana, e mais tarde no Colégio Balbina Viana Arrais. Sou a normalista que lecionava matemática nas 5ª,6ª e 7ª séries ginasiais. Sou a professora do curso de admissão ao Ginásio das escolas estaduais José Matias Sampaio e Joaquim Gomes da Silva Basílio. Sou a Vice-Diretora da Escola Joaquim Basílio e da Padre Pedro Inácio Ribeiro. Sou a Diretora da Escola Municipal Pedro Gomes da Silva Basílio, a primeira conveniada em contrapartida com a SEDUC, e da Associação Comunitária de Brejo Santo(ACOBRESA), instituição Filantrópica que mais tarde celebrou também convênio de contrapartida com o Estado.Sou a Secretária de Educação e Cultura do município que teve a felicidade de de entregar diplomas das primeiras turmas de professores leigos qualificados através dos cursos de habilitação do PRORIRAL e LOGOS II; que teve a graça de construir as maiores escolas da Zona Rural e equipar as salas de aula que funcionavam na casa do professor, acompanhando com uma equipe de supervisores o planejamento mensal, com visitas in loco, realizando reuniões com pais e comunidades e celebrações da primeira Eucaristia em missas , na sede das escolas.

         Eu sou descendente de Lourença Barbosa de Melo, proprietária das terras do sítio Brejo, onde residiu Francisco Pereira Lima(seu genro) e Theodora Maria da Conceição(sua filha), na década de 1760. Daquela que denominou este torrão de Brejo da Barbosa, e provavelmente teve seu nome deturpado para Maria Barbosa, a tão conhecida figura lendária que através da tradição oral e escrita aparece como pioneira desta gleba. Eu sou parte desta terra ,onde nasceu minha bisavó Conceição, a tetraneta do casal luso-baiano o alferes Gonçalo Coelho Sampaio e Lourença Barbosa de Melo, um dos primeiros povoadores do Vale do Cariri.

         Eu sou testemunha presente de um passado que teve seu patrimônio arquitetônico demolido em nome de um futuro progressista.

         Eu, além dos meus valores e da minha família, nada tenho. Eu apenas SOU. Eu sou Marineusa, a criança saudosista, a adolescente trabalhadora, a adulta consciente da missão de esposa, de mãe, de avó, de educadora, de amiga da escola, de cristã, de leiga engajada, de voluntária, de Brejo-Santense responsável pela tradição e pela cultura da minha terra, dentro das minhas limitações.

         Eu sou uma filha de Deus a seu serviço e por isso louvo, agradeço e bendigo por minha vida e pelas vidas de todos vocês que me convidaram para hoje partilhar convoco desta vitória.

       A todos vocês meus sinceros parabéns, votos de sucesso na profissão escolhida, e, obrigada por me fazerem feliz.


Brejo santo,03 de maio de 2005
Maria Santana Leite
Marineusa

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