DISCURSO NO ENCONTRO ZERO DA LUSOFONIA EM MURÇA – PORTUGAL

DISCURSO NO ENCONTRO ZERO DA LUSOFONIA EM MURÇA – PORTUGAL DE 1 A 3 DE JULHO DE 2006

(este discurso foi apresentado e lido pela poeta Carmo Vasconcelos, uma da organizadoras do evento no Encontro Zero da Lusofonia em Murça Portugal, em Julho.2006 por ausência do declamante Victor Jerónimo.)

Ex.ma Comissão Organizadora do Encontro Zero da Lusofonia, caros amigos e confrades.

Como fundador do Grupo Ecos da Poesia, venho desejar a todos vós que este encontro seja pleno de amizade e companheirismo para o bem das letras e das artes, em manifestação plena ao reencontro das letras dos nossos dois povos, Portugal e Brasil.

É na humildade que nascem os grandes nomes das letras e assim o foi com Miguel Torga, filho de gente humilde, nascido numa terra bem longe da capital e que teve que partir em demanda do Brasil e lutar por um sonho, mas que no seu regresso com o seu querer e força de vontade nos trouxe todas as belas obras que todos vós de certeza aqui comentasteis e estudasteis.

Quero deixar-vos apenas um pequeno comentário e dois poemas, para vossa meditação.

Os Gregos ouviam aedos e rapsodos cantos epicos e liricos, na sua linda voz melodiosa e isto muito antes de haver escrita. As feras eram amansadas por Orfeu, com acordes da voz e da lira.

Sao tantos os generos da literatura sem escrita vindas a maior parte de gente primitiva, mas com um celestial e harmonioso dom, que esta nos cativa e enobrece as nossas almas.

Sentir a genese e o misterio da criação artistica do poeta que o é por dom é sentir o misterio da dor ou alegria é sentir a ordem da natureza em belo ritmo é sermos parte dele com o que sentimos dentro de nós.

Tal qual me sucede a mim

em ter vulto sem ter voz,

Vive qualquer coisa em nós

que manda fazer assim.

A arte é força imanente,

Não se ensina, não se aprende,

Não se compra, não se vende,

Nasce e morre com a gente.

Um poeta de verdade,

Se souber compreender,

Não deve ter vaidade

De o ser, porque é sem querer.

(António Aleixo)

Somos nós

As humanas cigarras!

Nós,

Desde os tempos de Esopo conhecidos.

Nós,

Preguiçosos insectos perseguidos.

Somos nós os ridículos comparsas

Da fábula burguesa da formiga.

Nós, a tribo faminta de ciganos

Que se abriga

Ao luar.

Nós, que nunca passamos

A passar!...

Somos nós, e só nós podemos ter

Asas sonoras,

Asas que em certas horas

Palpitam,

Asas que morrem, mas que ressuscitam

Da sepultura!

E que da planura

Da seara

Erguem a um campo de maior altura

A mão que só altura semeara.

Por isso a vós, Poetas, eu levanto

A taça fraternal deste meu canto,

E bebo em vossa honra o doce vinho

Da amizade e da paz!

Vinho que não é meu,

mas sim do mosto que a beleza traz!

E vos digo e conjuro que canteis!

Que sejais menestreis

De uma gesta de amor universal!

Duma epopeia que não tenha reis,

Mas homens de tamanho natural!

Homens de toda a terra sem fronteiras!

De todos os feitios e maneiras,

Da cor que o sol lhes deu à flor da pele!

Crias de Adão e Eva verdadeiras!

Homens da torre de Babel!

Homens do dia a dia

Que levantem paredes de ilusão!

Homens de pés no chão,

Que se calcem de sonho e de poesia

Pela graça infantil da vossa mão!

(Miguel Torga)

Bem-haja por me haverdes dado este momento

Victor Jeronimo

Um Português no Recife/Brasil

http://www.ecosdapoesia.net/noticias/lusofonia.htm

Victor Jerónimo
Enviado por Victor Jerónimo em 27/08/2006
Código do texto: T226144
Classificação de conteúdo: seguro