COMPULSÃO A REPETIÇÃO; O CASO DA SENHORA X

“Você ja observou que, aquela vizinha, sim, aquela do ap.415 , acabou de se separar pela quarta vez, pelo mesmo motivo, ou seja, mais uma vez, mais um parceiro chegou em casa bêbado e lhe aplicou uma bela surra. Pois é coitada, que sina!”

Bom, precisei contar essa historinha para entrar num tema que me desperta bastante interesse: A COMPULSÃO A REPETIÇÃO.

Segundo Freud, a compulsão a repetição é um processo incoercível e de origem inconsciente, pelo qual o sujeito se coloca ativamente em situações penosas, repetindo assim experiências antigas sem se recordar do protótipo e tendo, pelo contrário, a impressão muito viva de que se trata de algo plenamente motivado na atualidade. A compulsão à repetição na elaboração teórica de Freud é considerada um fator autônomo, irredutível, em última análise, a uma dinâmica conflitual onde só entrasse o jogo conjugado do princípio de prazer e do princípio de realidade. É referida fundamentalmente ao caráter mais geral das pulsões: o seu caráter conservador.

Para esclarecer o tema, vamos até o meu consultório. A seguir vamos acompanhar o caso da senhora X. Ela tem praticamente cinquenta anos, divorciada, mãe de quatro moças. A sua queixa principal é: ” Mais uma vez fui explorada”. A senhora X esta dizendo que, pela terceira vez após a separação, que ocorreu porque o marido e depois também sócio de um pequeno comércio tinha o hábito de fazer “caixa dois” para manter a outra família, fato que a senhora X só soube na véspera da separação. Bom, assim que se separou a senhora X teve mais dois relacionamentos. O primeiro após a separação se deu com um advogado de mais ou menos 33 anos que a sra X conheceu em uma badalada boate quando acompanhava as filhas numa “balada”. Com esse rapaz ela manteve um relacionamento que durou pouco mais de um ano. O motivo do fim do relacionamento foi um tanto quanto suspeito. Tudo começou a dar errado quando a Sra X, não contente em encontrar o seu namorado apenas em casa, o pediu para trabalhar com ela na empresa, assumindo junto a ela o comando desse comércio que estava num processo de ascensão naquele momento. No começo tudo parecia ser mágico, até que a sra X teve uma “idéia”. Ela pensou: ” já que ele esta aqui comigo não farei mal de dar a ele um documento onde possa apoderar-se da empresa enquanto eu relaxo um pouco.” Bom, mais uma vez, a Sra X repetiu aquela mesma história do passado, ou seja, trocou um relacionamento amoroso por um relacionamento de negócios. E o negócio foi por “água abaixo”. Ela foi “roubada” e teve que brigar na justiça para recuperar, mais uma vez o que lhe pertencia.

Bom, nem precisa dizer o que aconteceu com a Sra X quando se envolveu com seu próximo pretendente. Um rapaz de 24 anos, que trabalhava de recepcionista na sua empresa.

A compulsão a repetição é um processo de auto-sabotagem. A pessoa repete e repete, repete situações que a levam a um mesmo final.

Depois de um certo tempo de terapia, esse “impulso” de auto-sabotagem da Sra X pode ser trabalhado, através da análise das situações, da análise dos comportamentos, e da clarificação desse processo que deu tanto sofrimento a essa mulher. Hoje a sra X esta casada novamente com um empresário do setor alimentício. Ela deixou o seu comércio para uma das filhas cuidar e se sente mais feliz, sabendo que, aquele buraco que ela caia sempre não fazia parte do seu caminho, não era uma sina. Aquele buraco era cavado com as suas próprias mãos. Eles ainda continuam lá, mas ela, aprendeu a contorná-los.

Angelo Gustavo Venâncio de Lima

Psicólogo Angelo Gustavo Venâncio de Lima
Enviado por Psicólogo Angelo Gustavo Venâncio de Lima em 09/05/2010
Código do texto: T2245734
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