Monólogo de sentimentos abruptos
Oi, meu nome é Cláudia e essa aqui é minha mão.
Minha mão é minha virtuosa companheira. Com ela faço, pinto e espremo. E com ela enxugo minhas lágrimas. As incessantes e irritantes. Vem cá que quero te ouvir!
Está bem assim? Eu gostei do resultado, ficou bem apropriado para as crianças!
Meus pensamentos nunca silenciam a não ser com os ventos.
Ah! A brisa leve me acalma... Às vezes quero ser levada como uma folha no outono... Que desmancha quando alguém toca...
É que eu adoro o outono! É minha estação preferida!
Me lembro sempre de quando tinha oito anos, e assisti um filme de outono no Natal... Foi muito bom, porque tudo que queria na época era um coelhinho! Minhas memórias me despencam se as deixo livres.
Me sinto tão cansada de repente. E a Júlia que não chega! Essa garota ainda me mata!
Minha filha é tudo pra mim. Claro! Todas as mães são assim... Dá até pra fantasiar o porquê da sua mãe ter sido daquele jeito! Mas você nunca sabe de fato! E o pior é que mesmo ela se dedicando cem por cento a essa função, você se esquece de confiar. Tem medo de se revelar frágil e, por bobagens, acaba necessitada de um... - ia dizer um abraço, mas acho melhor riscar essa palavra de você - “um” não! UMA palavra que te livre da aflição!
Eu acho que o que eu quero realmente dizer é que sofro com uma angústia aqui dentro há anos! Acho que é mais remorso por ter decepcionado meu professor na faculdade! - meu choque é triste, não se deixe levar - Entende?, não é de fato necessário. Você desiste... Apesar de todo o potencial, sei lá, você simplesmente deixa pra lá...
Não quero falar sobre isso. Me deixa, por favor!
É por isso que temo tanto por minha filha, ela é tão igual a mim...
Mas me trava conversar sobre isso com ela, eu quero que ela consiga se virar sozinha! Eu sei que ela vai escolher os caminhos certos! Por Deus, torço que ela saiba aproveitar esse tempo de juventude ao máximo! - eu sei o que é abusar da redundância, se me permite; convívio é fogo! Que dó que me dá nos seus dias de depressão, nas suas palavras chochas, no seu mau humor de manhã!
Queria poder pintar de novo, mas agora não dá! Não dá!
Agora não dá...
Eu sei quem sou e sei das minhas responsabilidades.
Eu acho que é ela que está vindo aí!
Ela é tão linda... Queria que você a visse...(meus lábios gostam de se esticar quando estão felizes; são indiferentes à feiura do meu sorriso)
Ela é a cópia da minha mãe!
Eu sei porque meu pai tinha uma belíssima pintura da minha mãe quando jovem! Mamãe nunca soube que ele ainda tinha... Ficava na última gaveta da escrivaninha, e quando papai faleceu, roubei pra mim... Que vergonha me dá ser criança!
Olho todos os dias pra lembrar os traços. (minhas mãos falam de novo)
Fico tentando adivinhar o que se passava na cabecinha daquela garota, mas é tão difícil... Olho também pra lembrar da Júlia! E já já ela chega por essa porta.
E quase sempre me faz lembrar o tal filme de outono... - que surpresa! não recordava desse filme... Belíssima pintura!
Com licença, vou ver minha filha!
(Minha educação não busca lágrimas ao vivo; deixem-nas gravadas.)