OS OITENTA ANOS DE SAFIRA TORRES DE MENEZES

Meus amigos, é com júbilo que nos reunimos nesta noite para homenagear D. Safira. Confesso, que para mim é um orgulho poder falar sobre pessoa tão especial.

Representar meus irmãos, no aniversário de 80 anos de nossa mãe, é um honra muito grande, pelo que ela representa para todos nós filhos, netos, bisnetos e amigos.

Hoje, somos todos, só felicidade!

D. SAFIRA, nossa querida mãe, filha de Juvenal e Áurea Torres, teve a graça de aprender com seus pais que a humildade e o respeito à pessoa humana são princípios básicos que devem nortear a vida, princípios que procurou transmitir, logo cedo, para os seus filhos.

Nasceu em Canhoba, em 21 de abril de 1929, onde viveu a sua infância e lá conheceu a boneca de pano, as brincadeiras de roda, o pular corda e os animais de pedra e de capuco de milho, com que brincava juntamente com as meninas de sua idade, imitando a condução dos animais de verdade pelos adultos.

Tempo bom, quando a inocência fala mais alto, e a vida é muito mais simples.

Iniciou os estudos em escola simples de sua cidade e até hoje recorda, com muito orgulho, de sua primeira professora DALILA, que a ensinou o ABC, a TABUADA e a CARTILHA, passos primordiais para vencer na vida.

Daí para frente, outras professoras, os quadros de dissertação e a CRESTOMATIA livro importante para o crescimento cultural dos alunos daquela época.

Aprendeu corte e costura e recebeu ensinamento de culinária,

como toda menina de seu tempo.

Cresceu estudando e orientando os seus irmãos mais novos e, nas horas vagas, ajudava aos seus pais nos trabalhos na bodega e tornou-se uma pessoa muito querida por todos.

A menina sábia, de roupinha de chita, cresce e vai se transformando numa linda moça, de cabelos lisos, pele morena-claro, e rosto de princesa.

As brincadeiras mudam, os desejos próprios da juventude afloram, o mundo em que vive já é pequeno.

Agora a bela menina sonha um vôo, sonha a liberdade e se acha preparada para enfrentar a ausência da certeza, porque tinha coragem, tenacidade e fé.

O sol brilha mais forte em seu caminho. Alguém, um desconhecido, homem dito por ela bonito e muito disposto, surge na pequena CANHOBA.

E o sonho, o vôo para enfrentar o terror do vazio, é presença em SAFIRA, que aos 17 anos de idade age de acordo com o que diz seu coração.

EURIPEDES é, agora, o seu vôo sonhado, é o caminho para o desconhecido, é o seu escolhido. Ele é o seu esposo.

Citando Willian Blake: “Aquilo que a memória ama fica eterno”

Parte SAFIRA para uma vida nova, para sonhar novos vôos e empreender novas conquistas. Agora, não mais sozinha, centrada em seu mundo, mas em um mundo compartilhado com aquele que por ela se apaixonou loucamente.

O destino é Aracaju, cidade ainda provinciana com carroças, burros e cães soltos nas ruas, mas que tinha energia elétrica e até bonde para o transporte das pessoas.

Tudo era muito diferente. Era realmente um verdadeiro desafio, para uma agora senhora de apenas 17 anos.

“O BERÇO FAZ A PESSOA”, eis o que aprendeu com seus pais.

Inteligente e perspicaz, logo conquistou a simpatia de seu sogro, João Teles, de sua sogra, Horonita e seus cunhados, amando-os e sendo amada por todos.

A harmonia familiar vai se realizando. Poucos recursos, muitas dificuldades, muito trabalho.

Um filho todo ano, cuidar da casa, lavar, passar, costurar enfim, dar o tom à música para a dança do dia-a-dia.

Não foi fácil, mas era espiritual. A criatividade a torna sensível. E é aí onde a beleza se encontra!

Aos olhos de seu marido SAFIRA sempre foi a MAIS BELA, e ao coração dele, O AMOR que ele sempre quis encontrar.

Ao seu CORAÇÃO, EURIPEDES sempre foi O GRANDE AMOR DE SUA VIDA, sentimento que faz questão afirmar no seu dia-a-dia.

E, este amor se revela mais forte, quando seu esposo EURIPEDES, idealista e estudioso das questões sociais, vê-se perseguido e na iminência de ser preso, porque tinha ideais progressistas. Estamos falando de agosto de 1.952.

EURIPEDES teve que abandonar o emprego e deixar para traz esposa e filhos. E D. SAFIRA, esposa e confidente leal, acompanha com discrição a caminhada de seu marido, mantendo-o informado das ocorrências e visitando-o sempre que as condições e oportunidades permitiam.

Tempos amargos que fazem da senhora uma HEROINA.

Passadas as perseguições políticas a vida volta ao normal, novos filhos - 14 ao todo – muito trabalho, muitos sonhos a realizar.

Foram 21 anos de amor, que a senhora faz questão de revelar para todos seus filhos, netos e bisnetos.

Nem mesmo o abalo de haver perdido precocemente o seu esposo querido, quando completavam 21 anos de casados, fez com que o sonho de ver seus filhos educados fosse perdido.

Uniu-se a muitos amigos, e quantos bons amigos se associaram a esta causa.

Mãe que nos deu o duplo carinho de que necessitávamos, mostrou-nos com seu exemplo que a vida se vence com estudo, trabalho, respeito ao ser humano e, acima de tudo FÉ.

Fé em um ser maior, que nos colocou aqui na terra e que nos ampara.

A Mãe que nos recebe sempre com um cantar, quando acionamos a campanhia de seu apartamento. Uma melodia que sai do seu coração e que nos diz: estou alegre, estou feliz por vê-los.

A mãe presente, o ouvido atento para as nossas queixas, as nossas angústias e as nossas dúvidas.

A mãe que compreende e que sabe, acima de tudo, perdoar.

A senhora nos ensinou o que é ser mãe e ser pai. E, com seu exemplo, arrastou seus filhos para o caminho do bem, para o amor!

Somos felizes por ter a senhora como nossa mãe!