Discurso da Vitória

Minhas primeiras palavras são: faltam-me palavras.

Ainda assim, não posso deixar de dizer algo sobre este que foi (até agora) o maior desafio da minha vida, pois há muitas pessoas envolvidas direta e indiretamente: as que incentivaram e as que duvidaram; as que ajudaram e as que sabotaram; as que competiram e as que colaboraram... todas têm sua parcela de influência.

Quem duvida oferece uma injeção de ânimo diária, porque não existe algo mais instigante do que ouvir um “você não vai conseguir” ou um “é difícil demais”. Muitas vezes, o fato de dizerem que não se pode ter uma coisa é justamente o que a torna mais atraente e digna de ser perseguida. Portanto, aos que duvidaram: obrigado!

Por outro lado, os estímulos devem ser igualmente valorizados. Cada “confio em você”, “você vai conseguir” e outros semelhantes talvez sejam pouco ou nada pra quem os diz; uma pequena gota, às vezes, diante do rio de dificuldades enfrentadas por quem ouve. Deve-se lembrar, entretanto, que todo rio é também formado por gotas. A diferença é que, nesta vida, aqueles contra os quais temos que nadar já vêm prontos e poderosos, enquanto as correntes favoráveis devem ser formadas com a união de cada uma daquelas pequenas gotas de encorajamento. Os incentivos, por menores que sejam, constituem a correnteza que ajuda o nadador cansado a continuar seguindo em frente quando seus braços já estão extenuados demais pra se movimentar com o vigor necessário. Portanto, aos que incentivaram: obrigado!

Quando vi os 27mil inscritos pra 36 vagas iniciais, lembrei-me de uma profecia da Bíblia: “Mil cairão a tua esquerda, dez mil a tua direita”. Embora eu seja ateu, acredito na profecia. Ela é possível, porém o que irá realizá-la não será um poder alheio que você espera dos céus, mas uma potência meramente humana e sua; não a força divina, e sim a força de vontade.

Talvez pensem que estou fazendo tempestade em copo d’água. Afinal, é só uma prova... só um cargo... que ainda por cima não é dos melhores. Mas o mero espectador da guerra nunca verá na vitória de um exército as mesmas coisas que enxerga o soldado vencedor. Aquele que apenas vê, mede o tamanho da vitória somente pela qualidade ou grandeza da recompensa. Quem realmente participa, mede o triunfo pela dificuldade da batalha. Pra quem está de fora, o final do combate é apenas isto: um punhado de homens vivos de um lado, um tanto de mortos do outro, vencedores e vencidos. Na cabeça do soldado, todavia, a imagem externa e real se une à interna, mental: um filme que passa em sua cabeça com a retrospectiva de cada treinamento desgastante, cada noite de sono ruim e dia de despertar pior. Ele carrega nas costas o peso de cada hora despendida na preparação e de cada momento de receio diante da quantidade de inimigos que se deve enfrentar, de incerteza frente ao tamanho do desafio e de dúvida em relação à própria capacidade de suportar tudo isso. A dimensão da vitória, para ele, não está na magnitude da recompensa. Está no tamanho do sacrifício.

O soldado divide-se entre o olhar pra frente com orgulho, face aos milhares de inimigos vencidos, e o olhar pra trás, com a lamentação de se lembrar de alguns companheiros que gostaria que estivessem vencendo com ele — mas que ficaram pelo caminho, fulminados. Hoje, eu sou esse soldado.

Talvez o texto tenha ficado grande demais, a ponto de não valer o tempo gasto pra lê-lo; mas não importa: o objetivo dele não foi ser lido. Foi apenas ser escrito.

Como disse, na ficção, o Padre a Augusto Matraga: “Cada um tem sua hora e sua vez: você há de ter a sua!”.

Essa é minha hora, minha vez. Deixe-me aproveitá-la e espere a sua.