SUCEDENDO A LUIZ BANDEIRA - NOS DEIXOU EM 22.02.1998
Ilma. Sra. Leny de Amorim Silva
Presidente da Academia Pernambucana de Música
Prezados amigos e Membros deste Sodalício
Autoridades presentes e aqui representadas
Minhas Senhoras Meus Senhores,
Nesta noite em que tomo posse na Cadeira n.17 da Academia Pernambucana de Música, sinto-me tal qual um acorde rotineiramente empregado ao longo dos pentagramas – diminuto.
Diminuto,ao iniciar o convívio com tantos talentos que para mim, reveste-se de um orgulho muito especial, além de constituir-se em uma oportunidade de aprender cada vez mais, ao lado dessa plêiade.
Diminuto, também, por quanto, tenho como escopo suceder a um dos maiores baluartes da nossa música popular, LUIZ BANDEIRA, cuja obra dignifica a todos os brasileiros, em particular a nós pernambucanos – sem falar em LUIZ GONZAGA, Patrono dessa Cadeira, outro extraordinário expoente da nossa música.
Encontro-me diante de um grande desafio. Para falar em Luiz Bandeira, é preciso ter veia poética, muito tempo, e acima de tudo, talento e competência para discorrer sobre sua genialidade musical.
Esses predicados não deságuam em mim, mas, está lançada a difícil missão para um eterno discípulo do tempo e dos Mestres, que o destino e a bondade de muitos pretendem imortalizar.
LUIZ BANDEIRA – Nasceu em 25 de dezembro de 1923. Vir ao mundo no dia de Natal já é motivo de glória! Encantou-se em pleno carnaval, época de festa, alegria, euforia, mas, naquele dia, prevaleceu a tristeza, tristeza dessa grande ausência , onde o silêncio falou bem alto em nossos corações.
BANDEIRA – palavra com inúmeros significados, entre eles:
INSIGNIA de uma Nação, Corporação ou Partido
IDÉIA QUE SERVE DE GUIA – entre tantos significados, escolhi esta frase para simbolizar a passagem de LUIZ BANDEIRA nesta vida, e por mais que ele aqui permanecesse, o que seria motivo de felicidade para todos nós, não conseguiríamos aprender o tudo quanto ele poderia transmitir, pois, a sua obra é tal qual um poço interminável de talento.
Sua partida deixou Recife mais pobre, pois, perdemos um dos mais ilustres filhos da nossa terra, terra esta, que lê amou e cantou intensamente, demonstrando por onde andava que aqui era o seu lugar. Ficou, assim, o vazio, uma lacuna irreparável para seus inúmeros amigos, e para a nossa música.
LUIZ BANDEIRA, escol dentre tantos valores que integram a Academia Pernambucana de Música, honrou de maneira singular a Cadeira que hoje assumo, distinguindo Pernambuco no cenário musical desse imenso Brasil.
Imaginemos sua alegria ao ouvir o povo cantando Na Cadência do Samba,, hino do nosso futebol, não pertencendo a nenhum time ou Federação e sim ao povo, e que nesta Copa do Mundo não nos cansamos de ouvir, cantar e lembrar desse saudoso compositor.
Sua musicalidade era impar, sua capacidade criativa extraordinária. Abrangia - frevo, samba, baião, xote, forro, bolero, choro – encantando-nos sobremaneira, quer pela beleza das melodias, quer pela singeleza de suas poesias que pareciam dizer aquilo que já sabíamos, mas que faltava alguém “transformar”, “codificar” em versos musicais, para serem aceitos pelos nossos ouvidos, encantando nossos corações.
Como afirma o Maestro José Menezes, meu professor
” difícil é fazer fácil e bonito...“. Pois esse foi o perfil de LUIZ BANDEIRA.
Apaixonado pelo Recife, daqui saiu para brilhar noutras praças, mas, jamais afastou seu coração desta terra querida. Como disse o grande amigo Fernando da Câmara Cascudo em noite memorável em que LUIZ BANDEIRA foi homenageado: “Bandeira era uma unanimidade...”. Suas canções ecoaram Brasil afora, como que uma bandeira agitada, tremulando ávida por novos horizontes...
Se nos debruçarmos nas letras de suas músicas, encontraremos aquele gosto de saudade do reencontro, poesia viva que ele sempre trazia no coração.
Simples no gesto, no olhar, externava um ar de contemplação, de calma, de paz, e esse “estado de espírito” ele transformava para a música, mercê do talento que Deus lhe brindou.
Meu convívio com ele não foi grande, o que lamento, mas o pouco tempo em que conheci mais de perto foi o bastante para admirá-lo profundamente como ser humano, já que o fazia pela sua obra musical.
O homem eterniza-se ao planar uma árvore, ao escrever um livro, ao compor uma música – mas ele o fez diferente: fincou uma bandeira. Bandeira do ideal, da virtude, do talento – que sempre esteve fecunda, imortalizada que foi pelo povo, tendo o justo e merecido “referendum” desta Academia que lhe outorgou por mérito o direito de ocupar a Cadeira n.17, no lugar de Luiz Gonzaga.
Ele deixou um acervo musical invejável, cuja lição devemos seguir, procurando enaltecer as nossas raízes culturais tão ricas em qualidade e quantidade, mas, tão pobres pelo tanto que não se faz em divulga-las Brasil afora, e que precisa nos dias de hoje de um efetivo revigoramento.
Quem não se lembra, canta e aplaude Maria Joana, Onde Tu Tá Neném, Dina,, É de Fazer Chorar, Voltei Recife, Novamente - músicas consagradas na discografia nacional, verdadeiro tesouro que nos deleita a cada vez que ouvimos. E o frevo de rua CARABINA – que já nasceu predestinado, pois, permanece moderno harmônica e melodicamente, sendo já no nascedouro uma obra antológica.
Ao longo de sua trajetória musical cantou o Recife que tanto amou e encantou o Brasil, fazendo sucesso com suas inesquecíveis canções.
Sua via musical era interminável e muito ainda faria pela nossa música popular, mas DEUS o requisitou, com certeza, para terminar sua missão lá no alto. Agora, está fazendo feliz a tantos que já partiram e que dele sentem saudades, restando a nós que aqui ficamos reverenciarmos sua memória, exaltando a todo o momento suas qualidades e o acervo que ele nos legou.
Para mim, além da saudade, foi concedida a imensa honra de sucedê-lo na Cadeira n.17, nobre e difícil missão, pois, ele a ocupou exemplarmente, notabilizando-se pela sua obra magistral, levantando bem alto a bandeira da nossa música.
Luiz Guimarães Gomes de Sá
22 de setembro de 1998.