Quem é Cícero?
Quem é Cícero?
Como explicar que Cícero, um dos maiores nomes de cultura universal, expoente do ecletismo romano, jurista, literato e político importante pudesse ter seu nome maculado por ter executado os conspiradores de catilina, sem qualquer julgamento. Como Cônsul em 63 a.C., superou Catilina e seus correligionários; por essas execuções foi exilado de Roma, só retornando em 57 a.C., sendo recebido por aclamação popular. Por que Cícero foi aclamado em seu retorno? Por ter executado os adversários sem julgamento ou por seus méritos de jurista e político? Certamente, por seus dotes de oratória, pela qual era fascinado. Como filósofo, Cícero não foi tão ilustre como político e orador; como descreve Padovani em sua História da Filosofia, "O maior expoente do ecletismo romano, não foi tão ilustre em filosofia, que ele descreve numa forma de pragmatismo eclético, em que o critério da verdade é a utilidade moral. Seu maior mérito foi ter divulgado em Roma o pensamento grego, ter composto o vocabulário latino e ter transmitido uma grande quantidade de notícias sobre o pensamento grego”.
Marcus Tullius Cícero, nasceu em Arpinum, na Itália no ano 106 a.C.; em Roma estudou Direito, Oratória, Literatura e Filosofia; tornou-se o maior orador de Roma; procurou aperfeiçoar seus dotes oratórios, convivendo com os maiores advogados da época e freqüentando o Fórum, onde debatiam os grandes mestres da oratória jurídica
Corria o ano de 81 a.C., quando aos 25 anos Cícero debateu com o Hortensius, que era considerado o melhor orador daquela época, obtendo notável êxito.
Viajou para a Grécia e Ásia, onde continuou seus estudos entrando em contato com mestres da eloqüência. Retornou a Roma em 77 AC, iniciando uma carreira política, elegendo-se para o Senado em 74 AC; embora sua família não pertencesse à aristocracia, foi apoiado e financiado pelos romanos ricos e poderosos na disputa pelo Consulado em 63 a.C.; esses romanos desconfiavam de seu rival aristocrata e pouco respeitável - Lucius Catilina. Cícero foi eleito. Foi a fase mais brilhante de sua vida, tornando-se o 1º advogado de Roma. Durante sua administração, Catilina organizou uma trama para lhe tomar o Governo; Cícero reprimiu a conspiração e vários membros do grupo foram executados.A repressão à Catilina consagra-o por um momento como grande homem de Estado.
Julio César e outros senadores romanos consideraram, que Cícero agiu de modo despótico, não dando aos conspiradores o direito de defesa nos processos; como resultado, Cícero foi exilado em 58 AC.
Longe de Roma, sente-se desanimado; sua situação torna-se trágica e precária. Em pouco tempo precipita-se da mais alta posição da vida romana para a ruína total. O antigo chefe da república era um foragido, sem meta, sem recursos e sem esperança. As cartas à mulher e filhos e raros amigos são muito comoventes; sofria com estilo, é claro. Depois de um ano na Macedônia, foi chamado pelo General romano, Pompeu o Grande, com quem teve um compromisso de fidelidade.
Cícero se ocupou da literatura até 51 AC, quando aceitou ser Proconsul da província romana da Sicília. Retornou a Roma em 50 AC, unindo-se a Pompeu, que se tinha tornado inimigo de César. Após a derrota de Pompeu em 48 AC, Cícero aceitou a amizade de César, ao perceber ser a resistência inútil; enquanto César era um notável ditador em Roma, Cícero vivia como um cidadão comum, tendo escrito bastante. Produziu grande parte de seus tratados filosóficos naquela época. Depois do assassinato de César, em 44 AC, Cícero retornou à política; Esperava uma restauração da república, apóia o filho adotivo de César, Otaviano, último imperador dos Augustus, na luta pelo poder com o Cônsul romano Marco Antonio; Cícero atacou Marco Antonio em suas Orações Filípicas - Philippicae.
Otaviano e Marco Antonio se reconciliaram sendo Cícero executado como inimigo do Estado em 43 AC.
Cícero criou um rico estilo em prosa, que combina clareza e eloqüência, que se tornou padrão da prosa latina; seus escritos abrangem diversos assuntos de interesse intelectual e, quase todos, seus trabalhos filosóficos foram retirados de fontes gregas; além do mérito intrínseco, esses trabalhos são de grande valor na preservação da filosofia grega, impedindo que ficasse no esquecimento. Seus tratados mais famosos são os quatro contra Catilina e os 14, também, chamados Philippcae, contra Marco Antônio. Cícero, contemporâneo de Júlio César, o da ficção do alea jacta est, de 78 a 44 AC e de Catulo, o poeta, de 78 a 54. Um homem daquele nível, jamais poderia ser executado!
Antes da influência da Grécia, registra-se o aparecimento de uma prosa rudimentar, uma poesia com ritmos mal definidos. Essas manifestações primitivas, seguindo um desenvolvimento normal, desabrochariam em uma literatura.
O contato com os gregos intensificados a partir do século II, vai colocar os romanos diante de uma literatura completa, rica, brilhante, com os gêneros literários, não apenas desenvolvidos, mas no apogeu. A partir daí, ocorre uma verdadeira revolução espiritual sob o signo do helenismo. Inicialmente, a literatura latina é uma literatura de tradução, sem evolução, adulta desde logo. Os gêneros da poesia, epopéia, lírico, drama aparecem todos de uma vez Não é uma cópia ou imitação grega, mas uma assimilação com um caráter nacional. As escolas de filosofia e retórica de Atenas e Rodes eram freqüentadas por romanos ávidos de saber entre os quais o próprio Cícero. Para esses estudos era necessário o conhecimento do grego, que era patrimônio intelectual de todo romano culto. Com Cícero, o prestígio da língua e da literatura gregas, em Roma, atinge o apogeu. O maior orador romano utilizou, muitas vezes, o grego em sua correspondência particular. Podemos avaliar o prestígio do homem de letras daquela época, pelas palavras de César a Cícero: “É mais glorioso estender as fronteiras do espírito humano que as do Império". César admirava Cícero.
Inspirando-se nas letras gregas, mas imprimindo em suas obras um tom peculiar, sua originalidade, os romanos criaram uma bela literatura com uma missão de civilização do mundo; o alcance universal da literatura latina com escritores não somente italianos, mas gauleses, espanhóis e africanos.
Na época de ouro, uma das características essenciais era a liberdade política, o que explica a predominância dos gêneros em prosa: eloqüência e história. Romanos ilustres se dedicam à atividade escrita, enquanto no período anterior os homens de letra eram de origem modesta. Os romanos escreviam e divulgavam suas obras em papiros e pergaminhos; existiam grandes depósitos de papiro e estabelecimentos que os produziam eram chamados officina. O pergaminho era fabricado de peles de animais, especialmente de ovelhas, e custava mais caro que o papiro, e os romanos ricos mandavam escravos especializados copiar livros.