DISCURSO AOS FORMANDOS DE BIOLOGIA DA FATEA – 2009
DISCURSO AOS FORMANDOS DE BIOLOGIA DA FATEA – 2009
Luiz Eduardo Corrêa Lima
(Professor Titular da FATEA/Lorena/SP)
Minha Prezada Irmã Olga de Sá, Diretora das Faculdades Integradas Teresa D’Ávila, em nome de quem saúdo todos os presentes à mesa, meus Amigos e meus Alunos, de hoje e do passado, minhas Senhoras e meus Senhores, nós estamos aqui para comemorar mais uma Formatura do Curso de Biologia da FATEA, nossa Quinta Turma de Biólogos formados aqui em Lorena.
Mais uma vez, graças à bondade e à gentileza dos meus alunos, eu tenho o prazer de ser escolhido como Paraninfo da Turma. Obviamente, eu só posso agradecer muito, por mais esta homenagem para esse “velho mestre”. Muito obrigado a todos vocês. Quero deixar aqui também, desde já, os meus votos de parabéns e felicidades a todos na carreira que agora se inicia. Mas, por outro lado, eu ainda quero aproveitar o momento para dizer algumas coisinhas, que embora possam aparentemente ser simples e sem muito significado para a maioria das pessoas, eu acredito que sejam efetivamente importantes, principalmente para esta nova plêiade de Biólogos e de Professores de Biologia que nessa noite se efetiva.
Nós Biólogos temos um jeito de ser e de pensar que é diferente da maioria das pessoas. Realmente temos esse jeito estranho, que já virou até motivo de chacota, de piada e que nos criou algumas alcunhas, por vezes até pejorativas, mas é exatamente essa “coisa” que nos destaca e nos torna, ao menos profissionalmente, seres humanos diferenciados, especiais e me atrevo a dizer, quem sabe até um pouco mais interessantes que os demais seres humanos. Obviamente nós não temos super poderes e tampouco possuímos algo de anormal, do ponto de vista anatômico, fisiológico ou mesmo comportamental, mas temos “algo mais”.
Nós certamente não temos o poder e a solidez das Montanhas, a força e a capacidade dos Ventos, a grandiosidade e a majestade dos Oceanos, a exuberância e a beleza das Florestas Tropicais. Muito menos temos a sensibilidade química dos Esqualídeos, a sensibilidade calórica dos Ofídeos, a visão aprofundada dos Falconídeos, a capacidade auditiva dos Canídeos. Entretanto, talvez nós sejamos os únicos seres humanos capazes de perceber o valor dessas peculiaridades de uma maneira esplendorosa, porque temos de forma inata, o juízo natural sobre a importância da vida e do planeta, além de possuirmos o prazer em buscar o entendimento e a compreensão maior dessas coisas e os respectivos relacionamentos que cada uma delas tem conosco.
Como disse anteriormente, é por todos esses detalhes que somos mesmo “seres humanos realmente especiais”. É exatamente essa condição especial nos coloca em posição geralmente contrária a maioria dos demais humanos, porque nós percebemos e sofremos com os problemas planetários muito mais do que os outros e por causa dessa nossa sensibilidade maior, nós queremos resolver rapidamente todos os problemas terrestres. Infelizmente, às vezes nós paramos para refletir e, nesse momento, descobrimos que não temos tanto poder assim e que a resolução dos problemas é algo que está muito acima de nós. Embora nem sempre pareça, na realidade, temos certeza de que somos humanos também, mas, ainda assim, só nós sabemos como é bom pensar diferente da maioria das pessoas, pois nossa dimensão de mundo é outra e as nossas preocupações estão muito acima do casualmente ambiental, ou do puramente social, ou ainda do estritamente econômico. Acredito que nossa natureza, no sentido literal da palavra, é mais forte, mais verdadeira e mais vigorosa que das demais pessoas.
Pois então, meus amigos, sendo assim aproveitem bem esse dom, essa sensação especial, esse algo mais que cada um de vocês possui e que lhes permitiu fazer um curso de Graduação em Biologia e estarem aqui hoje, para receber o Diploma de Biólogo. O Mundo precisa de mais gente especial como nós, porque somente pessoas como nós é que poderemos tentar convencer as demais pessoas do planeta a pensar da mesma maneira que pensamos. Sozinhos certamente não resolveremos nada, mas se conseguirmos unir o mundo com as mesmas idéias que nós temos, obviamente nossa espécie e muitas outras ainda continuarão vivas no planeta e passaremos a ter um mundo ambientalmente muito melhor, socialmente mais justo e economicamente bem equilibrado em futuro próximo.
Nossas idéias de sustentabilidade e qualidade de vida precisam ser multiplicadas, precisamos fazer o mundo pensar assim e agora que vocês são verdadeiramente Biólogos e conseguem entender um pouco mais sobre essa questão, acho que está na hora de vocês efetivamente mostrarem que podem ser mais “loucos” do que a maioria das pessoas pensa e demonstrarem que suas “loucuras” fazem sentido. Agora vocês têm direito a um Diploma que lhes permitirá cometer oficialmente muitas “loucuras”. “Loucuras” daquelas que, por enquanto, só nós entendemos, mas que certamente são necessárias para a salvação da vida humana, de muitas outras criaturas vivas e quiçá do próprio planeta.
Posso estar enganado, mas para mim, “os loucos são pessoas normais que estão momentaneamente no tempo e no local errado”. Em geral essas pessoas taxadas de “loucas” são vanguardistas e precursoras de idéias novas e diferentes, elas pensam e agem muito antes das demais. Recordo que, há 30 anos, quando cheguei aqui no Vale do Paraíba, para ministrar aulas de Zoologia na Universidade de Taubaté, achavam que eu era “louco”, porque resolvi ministrar provas em duplas para acabar com a famigerada cola. Além disso, me atrevi a permitir provas em grupos e com consultas e ainda consenti que os alunos levassem as provas para fazer em casa. Lembro também, que nessa mesma época ninguém ainda falava sobre Meio Ambiente e muito menos sobre Educação Ambiental, mas eu já ministrava aulas no jardim das escolas, fazia excursões de campo, evitava matar animais à toa e principalmente já visitava escolas de ensino fundamental e médio, proferindo palestras às crianças e aos jovens estudantes sobre a fauna e a importância da preservação da natureza e do tratamento do ambiente, qualquer que fosse esse ambiente. Cheguei mesmo a ser chamado à atenção pelas minhas “loucuras”, que hoje são extremamente comuns e estão dentro da normalidade escolar.
Tenho certeza de que fui escolhido como Paraninfo de vocês, porque cometi e tentei ensinar a vocês muitas dessas “loucuras”, as quais jamais serão esquecidas e, quero confessar que a idéia essa era essa mesmo. Isto é, meu interesse era passar um pouco da minha “loucura” para vocês e acho que consegui. Assim, como eu já fiz a minha parte com vocês e muitos outros que lhes antecederam, alguns dos quais estão aqui presentes, agora é o tempo e a vez de vocês continuarem essa história. Sejam “loucos” também, cometam inúmeras dessas “loucuras” sadias pelas suas respectivas vidas profissionais e passem suas “loucuras” adiante, principalmente para os seus futuros alunos.
Para terminar quero lembrar que, além de “loucos” doravante vocês serão realmente Professores de Biologia e Cientistas Naturais e que há quatro coisas fundamentais e prioritárias para a efetivação de um cientista natural, professor e biólogo:
1 – “A Ciência tenta ser a expressão real da verdade”, portanto sem dizer a verdade não se ensina Ciência Natural. Assim, diga a verdade sempre.
2 – “A vergonha não está em não saber algo, mas sim em não perguntar, não questionar, não discutir, não tergiversar e assim continuar não sabendo”, portanto estude muito e converse sempre com outras pessoas para aprender cada vez mais.
3 – “As dificuldades estão em fazer perguntas certas e não nas respostas dadas a essa perguntas”, por isso estimule o seu aluno a fazer perguntas e nunca sonegue nenhuma informação a ele, mas quando não souber a resposta de uma pergunta, diga claramente: Eu não sei! Até porque, você é um exemplo e seu aluno precisa saber que você, embora especial, é um ser humano como outro qualquer e não pode e nem é obrigado a saber tudo.
4 – “Todo mundo tem o seu tempo de “Tia Teté”, mas ninguém merece e tampouco deve ser “Tia Teté” por toda vida”, assim, lembre-se que só o conhecimento pode transformar a pessoa e você, além de ser uma pessoa especial e diferente, de fazer “loucuras”, de não mentir e de estimular, por favor, procure sempre evoluir e diversificar, assim como a vida tem feito aqui na Terra.
No mais, meus amigos, contem sempre com este “velho mestre”, sejam felizes e continuem a nossa “loucura” e a nossa luta pela vida e por um planeta melhor.
Parabéns, abraços a todos e mais uma vez, muito obrigado.
Lorena, 15 de dezembro de 2009
Luiz Eduardo Corrêa Lima
Luiz Eduardo Corrêa Lima (53) é Biólogo (Zoólogo), Professor, Escritor e Ambientalista;
Membro da Academia de Letras de Caçapava, ocupando a Cadeira 25;
Membro associado do Instituto de Estudos Valeparaibanos – IEV;
Ex-Coordenador do Curso de Licenciatura Plena em Biologia da FATEA
Ex-Vereador e Presidente da Câmara Municipal de Caçapava.