DEBATE - CRIME DA 'CAÇAMBADA' (Rondônia - 1962)
Prezado 'Berla' e nosso amigo (sumido) 'Basinho':
Vejo que o 'Basinho' - como sempre - não deixou de ser aquele sujeito aberto ao debate e sobretudo intenso conector entre a atualidade e as 'bravatas' políticas que se incorporaram na história de nosso País, tanto que hoje volve fichários e arquivos amarelados em busca de uma explicação que a meu ver, está esbranquiçada pelo esquecimento e pelas cinzas de um corpo que desencarnou e por cicatrizes que foram deixadas num momento áureo da história política de Rondônia. Pelo pouco que me foi passado como informação nos e-mail do Berla, trata-se de um fato conhecido como "Caçambada" ocorrido no ano de 1962. Eu era um menino que usava fraldas e, evidentemente, alheio a tal episódio, embora ele deva renascer em nós - que somos saudosistas - como um elemento de história que se repede na atualidade, pois não raras vezes observamos alhures alguma morte em face de uma motivação política.
Comoveu-me ao ser informado que um grupo de amigos rondonienses se reuniram sob o marco de um restaurante famoso que serve o delicioso peixe Tucanaré e lá, acompanhados, certamente, por uma ilustríssima "loira gelada", perambularam horas à fora falando sobre a tal de "Caçambada". Comoveu-me porque senti necessidade e inveja por não estar presente. Mas como neste caso a distância não se mede por quilômetros, mas por sentimentos e por fraternidade, faço-me presente, mesmo já estando um pouco adiantado no futuro.
Entretanto, visualizei no embate travado (com a empolgação de espíritos guerreiros que buscam referenciar seu passado), que cada um possui vertentes diferentes, mas em sintonia com as particularidades profissionais, já que Basinho esmera-se em dar versatilidade à história pela via jornalística, pesquisando através de acervo histórico (jornais, depoimentos etc.), conquanto nosso amigo 'Berla' aconselha buscar dados no inquérito policial, pois, ao que parece, ficou nisso, não havendo o desenvolvimento normal da atividade processual, chegando-se na denúncia, pronúncia e julgamento perante o juiz natural - O Júri.
Evidente que na busca de uma verdade tão distante, o trabalho não será dos mais fáceis, principalmente, tratando-se de um crime que apresentou motivação política. Ora, como o nosso sistema é um pouco casuístico e um tanto quanto subserviente dos Poderes legalmente constituídos, certamente, que o inquérito policial foi arquivado por uma razão política, até porque se tratando de um crime de tamanha repercussão social, exigir-se-ia da Secretaria de Segurança Pública um esforço redobrado para que o culpado ou os culpados fossem julgados, conforme determinavam as leis penais e processuais da época. Como isso (ao que parece) não ocorreu, é sinal que há muita "pizza" na dinâmica desses fatos. Aliás, essa falta de informação sobre o destino do inquérito policial é o único indício sobre crime político, posto que um crime de tamanho clamor social não desaparece como o vento.
Creio que para verificar qualquer indício de crime político, o primeiro passo é rebuscar a origem do assassino, posto que o caso (aparentemente) demonstra um certo grau de fanatismo. Não se trata de um matador profissional. O matador profissional - apesar de ser sangue frio com relação ao seu alvo - jamais admite envolver na sua estratégia maldosa pessoas que não sejam os alvos. Como nesse caso há gente inocente no entrevero (como vítimas), não vejo no perfil do causador da tragédia uma motivação decorrente de uma encomenda (por exemplo).
Sinto desapontá-los com relação à idéia de crime político, pois fatalmente teria que haver por traz da ação do assassino a figura de um mandante, que no caso, não parece real. Evidente que isso é mera conjectura com base nos fatos de execução. Alguém que desembesta um caminhão por cima de uma multidão, mesmo estando bêbado, não apresenta traços de um executor de encomenda. Parece, sim, uma ação decorrente de uma motivação atrelada a um lado passional, onde geralmente o infrator tem uma motivação de sentimento. Ou seja, age de forma transloucada porque perde a noção da normalidade, em face a uma doença de natureza psicológica e decorrente de uma idéia estrábica da realidade que o leva a agir por impulso. Essa a palavra mais adequada para crimes desta natureza (impulso).
Outrossim, repito que este parecer vem consubstanciado em mera percepção, ou em mera intuição subjetiva, com base em dados reais e no estudo que tenho feito dos fatores criminógenos, pois o crime sempre possui explicação racional para quem o estuda. O sujeito que comete um delito sempre rompe com uma regra social que ele conserva dentro de si, mas que discorda plenamente. Chega uma hora que esse infrator 'chuta o pau da barraca' e manda às favas as regras subjetivas, até porque a sua vontade maior e rompê-las e não segui-las.
Pode ocorrer que esse assassino estivesse movido por um sentimento de ódio ou de paixão pelo partido de sua simpatia, ou até por pessoas de políticos que tinha veneração, ou até em razão de desavenças pessoais com alguém que estivesse no palanque etc. Nesse aspecto, comungo com as considerações abordadas pelo Berlange, eis que somente uma investigação bem feita, seria capaz de colher os subsídios suficientes para se saber se esse motorista da Caçamba estava movido por um sentimento transloucado ou não.
Assim, caso não houvesse uma estagnação nessas investigações, poderia ocorrer que um exame clínico ou psiquiátrico determinasse que o motorista do caminhão tinha determinação incompleta sobre a idéia do crime que cometeu, ou até determinação absolutamente incompleta sobre o fato criminoso. Isso conduziria à conclusão exorável de que o crime não foi político, porque motivado pelo estado doentio do seu executor.
De outro tanto, mesmo que tenhamos a idéia de que os políticos desonestos admitem tudo para chegar ao poder, não temos a ousadia de imaginar que estes - diante de tantas possibilidades de eliminar um inimigo político - escolham o sacrifício de várias pessoas para se chegar a essa única finalidade.
É minha modéstia opinião, esperando que ajude no campo de idéias nesse glorioso trabalho que está sendo conduzido pelo nosso grande amigo 'Basinho', ao qual, proclamo que apareça em nossa Capital, para que possamos reviver todas aquelas noites de alegria do passado, aos acordes do seu inseparável violão.