Saudação e Agradecimento aos Formandos de 1994

SOCIEDADE EDUCATIVA ITAUNENSE

COLÉGIO JOÃO DE CERQUEIRA LIMA

ITAÚNA – MINAS GERAIS

Saudação e Agradecimento aos Formandos de 1994

Discurso proferido no dia 17 de dezembro de 1994

Professor Arnaldo de Souza Ribeiro - Paraninfo

Digníssimo Senhor Diretor do Colégio João de Cerqueira Lima, na pessoa de quem cumprimento a todos os componentes da mesa diretora dos trabalhos.

Senhores pais, esposas, filhos, amigos, namorados (as), parentes e demais convidados dos formandos desta noite.

Meus caros formandos, meus prezados e queridos companheiros de jornada, quero neste primeiro momento reiterar, que fiquei muito honrado em receber dos senhores esta importante distinção, embora consciente que muito pouco fiz para merecê-la.

Aproveitarei esta oportunidade e, diga-se de passagem, a última em que nos encontraremos na condição de Professor, Paraninfo e Alunos, afiliados a esta querida Casa de Ensino o “Colégio João de Cerqueira Lima” carinhosamente conhecido como a “ESCOLINHA DO CARMÉLIO”

Minhas palavras serão: de agradecimento, de incentivo e acima de tudo, de advertência, para esta nova e importante etapa de suas vidas, na condição de Técnicos em Contabilidade.

Não poderia deixar de trazer, para uma breve reflexão, as sábias e ainda atuais palavras do grande mestre baiano Rui Barbosa:

“A chave misteriosa das desgraças que nos afligem, é esta e só esta: a ignorância popular, mãe da servilidade e da miséria.”

Meus caros amigos e formandos, esta frase foi dita há mais de 100 anos, passou de geração a geração e parece-me que ainda não compreendemos a sua importância.

Hoje, mais do que nunca se faz necessário que, nós professores, reflitamos diariamente com nossos alunos, mostrando-lhes que, precisamos fazer da Escola, um local de aprendizagem, um lugar onde se lapida homens, abrindo-lhes novos horizontes através do conhecimento e conduzi-los a plena liberdade. Não podemos transformar as Escolas em um simples local para submetê-los às provas para depois premiá-los com um Diploma, sabendo que, Diploma só tem valor quando materializa os conhecimentos adquiridos.

O mundo passa por grandes transformações e somente aqueles que estiverem afinados ao seu tempo e capacitados para acompanhar estas mudanças e, sobretudo, adaptar-se a elas, terão um lugar ao sol.

Sem dúvidas, estamos vivendo a Revolução da Informática e esta, mais expressiva que a Revolução Industrial e seguramente, maiores serão suas conseqüências...o tempo nos mostrará.

Sei que é fácil advertir os jovens, falar é sempre fácil, difícil é informar: como aprimorar conhecimentos, como ir além do 2º segundo grau, como entrar e permanecer na Universidade.

Neste momento vivenciamos a realidade de um País quase parado, que não absorve toda mão de obra que a cada ano apresenta-se ao mercado de trabalho. Sabemos também que poucos conseguem inserir-se em atividades correspondentes ao seu grau de formação.

Temos ainda que considerar que as mensalidades dos Cursos Superiores, são elevadas e incompatíveis com o poder aquisitivo de muitos estudantes, e ainda os vestibulares tendem a contemplar aqueles que puderam freqüentar um bom Curso Pré-vestibular.

Para confirmar a assertiva supra, basta avaliar o perfil dos acadêmicos das Universidades Federais.

Estou certo que reverter este quadro não será fácil, levará tempo, mas tenhamos sempre em mente os ensinamentos daquele provérbio chinês:

“Uma caminhada de mil léguas começa com o primeiro passo.”

Estou certo que os senhores há muito tempo deram o primeiro passo e muitos outros foram dados em seguida, caso contrário não teriam chegado até aqui. E os senhores chegaram dignamente, souberam enfrentar as adversidades da caminhada que ora finda e em seguida precisarão iniciar outra.

Para mudar e melhorar as condições de um povo e de um País, além do esforço e trabalho de cada um, faz-se necessário também que estejamos diariamente a exercer os nossos direitos e deveres de cidadãos.

O exercício da cidadania passa, necessariamente por votar bem e acompanhar os atos e o desempenho dos nossos representantes e termos cuidado para não votarmos e eleger ou reeleger homens de índoles suspeitas; vimos recentemente homens públicos que legislaram em causa própria, descobertos seus atos fraudulentos, foram imediatamente absolvidos por seus pares em nome do corporativismo.

Por esta razão, a falta de honestidade na administração dos bens públicos, aliada à injusta distribuição de rendas, faz com que o muito que sobra no bolso de poucos, falte na vida de muitos e isto pode ser comprovado: na fragilidade dos Hospitais, na Segurança, na Habitação, no Saneamento Básico e principalmente no Ensino, este é sempre relegado a segundo plano, pois sabem os administradores públicos, quanto mais desinformado e ignorante for um povo, menor resistência oferecerá, podendo facilmente ser dominado, conforme já nos alertava Rui Barbosa no final do século XIX.

Meus caros formandos.

São os senhores oriundos de uma Escola e de uma sociedade democrática, portanto, capazes de entender os problemas que assolam o nosso País e em muito poderão ajudar na resolução de seus problemas, um bom começo é exercer a cidadania, que em resumo é: exercer direitos e cumprir obrigações. E um dia, não muito distante, poderão olhar para seus filhos, seus irmãos mais novos e dizer com orgulho:

Hoje temos um País melhor, eu colaborei para que isto acontecesse.

Certamente seus filhos e netos lhes agradecerão e se orgulharão dos senhores, assim como nós nos orgulhamos e agradecemos aos nossos país, que dentro de seus limites e das possibilidades que o País lhes oferecia, tudo fizeram para que tivéssemos dias melhores.

E aqui faço um aparte, para que possamos juntos reverenciarmos e agradecermos aos pais que aqui estão e lembrar com saudade e gratidão dos ausentes, aqueles que hoje habitam a casa do PAI ONIPOTENTE. Sabemos que sem o apoio, a solidariedade e o incentivo que deles recebemos, certamente não estaríamos aqui nesta magnífica noite.

Reconheçamos ainda, nossos pais foram os nossos primeiros mestres e da mais importante disciplina, tendo-nos doutrinado para a vida e como Diploma nos outorgaram os seus exemplos.

A todos o nosso reconhecimento e gratidão.

Meus queridos afilhados.

O curso que os senhores hoje concluem é sem dúvida de grande importância, em razão da responsabilidade que assumirão no exercício profissional. Das pequenas empresas de influência local às grandes empresas que ocupam quarteirões e exportam para o mundo, necessitam deste regente, deste intérprete, que estuda e aplica a lei contábil; para dar ao Estado o que é seu na forma de tributos e dar suporte aos empresários para realizarem um de seus objetivos prioritários, que é o lucro, imprescindível para a permanência e modernização de suas empresas.

Portanto, exerçam-na com denodo e lembrem-se sempre, os bons profissionais foram, são e sempre serão necessários, e, sobretudo, utilizem de seu trabalho, para além da realização pessoal e profissional, também como um instrumento para engrandecimento de sua classe e fonte de progresso para a Nação.

Nunca lhes deixe faltar o entusiasmo para o estudo, não permitam que a fadiga e a incompreensão de alguns diminua seu entusiasmo e também não deixem faltar a humildade para assumir os erros, comuns e freqüentes a todos que trabalham.

Sempre que necessário consultem àqueles que já vivenciaram os problemas objeto de suas dúvidas.

Lembrem-se sempre, a vida é um eterno começar e conseqüentemente um eterno aprender e tudo que é vivo é também dinâmico, portanto, sujeito a modificações e o cérebro humano não consegue acompanhar todas as fontes do conhecimento.

Estamos próximos de concluir esta bela cerimônia; em seguida virão os abraços de confraternização e em seguida cada um retornará a seus lares.

Quando transporem estas arcadas os senhores não mais serão os alunos da “Escolinha” , mas sim, uma nova turma de Contabilidade formados pelo “COLÉGIO JOÃO DE CERQUEIRA LIMA”

Permitam-me fazer-lhes uma advertência, fundada na experiência de quem já viveu este momento, esta jornada que ora finda, apesar das suas dificuldades, é menos penosa que esta, que ora inicia.

Estamos no Brasil, aqui tudo é diferente, tudo muda tão rápido, se para qualquer principiante em qualquer lugar do mundo o início é difícil, posso advertir-lhes, para os contadores brasileiros é mais, uma vez que nossa Legislação muda frequentemente.

Mas não esqueçam que vale a pena vencer as dificuldades e nos momentos difíceis e de insegurança, lembrem-se sempre, que os ex-professores e demais funcionários desta Casa, estarão sempre torcendo por vocês e se precisarem, voltem, que estaremos a esperá-los e os ajudaremos, dentro de nossas possibilidades.

Com sabedoria já doutrinaram sobres dificuldades: Aristóteles e Viktor E. Frankl.

Aristóteles: “Mais se valoriza aquilo que com mais dificuldade se consegue.”

Viktor E. Frankl: “Somos nós que determinamos nossos limites.”

Ambos disseram com a autoridade que lhes era peculiar, pois sabiam e, sobretudo, viveram o que disseram e o tempo, vem provando que eles tinham razão.

Portanto, meus queridos afilhados, tenham sempre em mente as palavras destes dois grandes pensadores.

Traduzindo-as: o mérito está em transpor barreiras e se somos nós quem determinamos nossos limites, não existem barreiras intransponíveis, se enfrentadas com determinação.

Espero em breve reencontrar-me com os senhores e quando deste encontro que estejam exercício da contabilidade e ao exercê-la, que o façam com determinação, cordialidade, competência e amizade, na mesma proporção que fizeram enquanto estudantes e assim cativarão a amizade, e o respeito de todos, assim como fizeram nesta Casa; em especial deste ex-professor, que doravante será o eterno amigo e eterno Padrinho, um eterno limitado, mas com toda certeza enquanto eu viver, vocês estarão em minha mente e em meu coração.

Muito obrigado.

Que sejam felizes.

E que Deus, na sua infinita bondade e sabedoria, abençoe e proteja a todos.

Itaúna, 17 de dezembro de 1994.

Professor Arnaldo de Souza Ribeiro

- Advogado

Obs. Discurso publicado no livro: Magistério: estudos, pesquisas e palestras. 1. ed. Itaúna: Vile – Escritório de Cultura, 2014, p. 35 a 41.