Saudação e agradecimento aos formandos de 1991

SOCIEDADE EDUCATIVA ITAUNENSE

COLÉGIO JOÃO DE CERQUEIRA LIMA

ITAÚNA – MINAS GERAIS

Saudação e agradecimento aos formandos de 1991

Discurso proferido no dia 20 de dezembro de 1991

Professor Arnaldo de Souza Ribeiro - Paraninfo

Digníssimo Senhor Diretor do Colégio João de Cerqueira Lima Dr. Juarez Guimarães, na pessoa de quem cumprimento a todos os presentes.

Meus queridos formandos,

Quero mais uma vez externar-lhes a alegria e, sobretudo, minha gratidão, pela honraria concedida ao convidarem-me para ser o Paraninfo dos Formandos de 1991.

Muito obrigado a todos.

Doravante três fortes vínculos passarão a nos unir, sendo: o ex-professor de Organizações e Técnicas Comerciais, o eterno amigo que lhes tem um carinho paternal e a partir de agora o padrinho de formatura.

Estejam certos, eternamente me lembrar-me-ei de vocês e desta magnífica noite.

Certa vez asseverou um filósofo:

“Um rio só é fiel a sua fonte, quando corre para o mar, pois é lá que ele encontrará grandeza e profundidade.”

Hoje, ao vê-los aqui, nesta contagiante euforia, comemorando entre si e com aqueles que lhes são caros, a chegada ao objetivo proposto, sinto-me completamente feliz e tomado pela emoção, por ter compartilhado com vocês desta importante caminhada.

Ao colar grau no curso de Técnico em Contabilidade, tenho certeza que vocês, a exemplo dos rios que são fiéis às suas fontes, também o foram às suas. E por esta fidelidade vocês se enobreceram como pessoas, trouxeram alegria e orgulho para seus pais, mestres, parentes e amigos que os acompanharam nesta longa trajetória e hoje compartilham desta alegria.

Façamos uma pequena digressão e analisemos como nascem e se fortalecem os rios, para depois alcançarem o mar e em seguida, analisemos estas semelhanças em nossas vidas e na nossa formação escolar.

Sabemos que, no cimo de muitas montanhas, brotam frágeis filetes de água, que formam a primeira mina e posteriormente deslizam montanha abaixo, juntam-se a outros filetes igualmente frágeis e formam um pequeno córrego, este se une a outros formando os riachos. Os riachos por sua vez também se unem a outros riachos e formam os caudalosos rios. Estes rios seguem religiosamente a caminho do mar e neste percurso, quantos acidentes encontram, são aprisionados em grandes barragens, movimentam turbinas e produzem energia que ilumina as cidades e gera o progresso, irrigam plantações e muitas vezes servem como meio de transporte. Mas, apesar dos obstáculos, nunca desistem de seu propósito, que é encontrar o mar.

A exemplo dos rios que nascem frágeis no início de sua jornada, o mesmo ocorre com os estudantes: o primeiro contato com o aprendizado ocorre no pré-primário, também conhecido como “Jardim de Infância” em seguida o primário, depois o ginasial e vão adiante deixando para trás etapas vencidas e cumulando a solidez dos conhecimentos e por conseqüência tornando-se mais fortes.

Ao concluir o Curso Ginasial, vem a primeira escolha, pois até ali tudo era comum, tão somente preparação.

Qual o caminho a seguir?

Verdadeiramente, tomar esta decisão é difícil, pois são ainda tão jovens.

Científico, magistério ou contabilidade?

Vocês, formandos desta noite, optaram pelo Curso de Contabilidade, belíssima escolha, por tratar-se de um curso importantíssimo e tão necessário na administração de todas as Empresas, que geram o progresso das Nações.

Se cada um de vocês, neste momento, fechar os olhos, viajar no tempo e voltar ao começo, lembrar-se-ão por certo de todas as dificuldades e barreiras encontradas pelo caminho, tais como: chuva, frio, provas, noites mal dormidas, preocupações diversas, mensalidades em atraso...

Lembrar-se-ão também daqueles que um dia estiveram a seu lado, que começaram juntos, com o mesmo propósito, mas não encontraram força e entusiasmo para acompanhá-los e ficaram às margens dos caminhos à espera de que dias melhores viessem.

Meus queridos formandos...

Estejam certos, dias melhores nunca virão para aqueles que não trabalharem e estudarem, pois são estas as duas forças que impulsionam a evolução das pessoas e das nações.

Infelizmente vivemos em um país onde não se valoriza o ensino; na verdade desmotiva-o e relega-o a segundo plano.

Os poderosos e opressores sempre souberam que um povo ignorante é dominado e influenciado com maior facilidade.

E a prova mais insofismável desta assertiva encontra-se na falta de vagas nas Escolas Públicas e na fragilidade de seu ensino, mesmo sabendo que este é obrigação Constitucional do Estado.

O preço das mensalidades cobradas pelas Escolas Privadas é alto se comparado com o salário vigente no País e por esta razão, muitos estudantes abandonam o curso.

Outro dado importante: menos de 1% (um por cento) da população consegue concluir um curso superior e nas Faculdades Públicas, só conseguem ingressar os filhos de famílias mais abastadas, quando o certo deveria ser o inverso.

Apesar de tudo e de todas as dificuldades, vocês chegaram até aqui e estão agora, a um passo da Universidade.

Brevemente vocês verão que valeu à pena.

Ademais, já disse o sábio Aristóteles:

“Mais se valoriza o que com mais dificuldade se consegue.”

Meus caros afilhados.

Da mesma forma que as águas claras e cristalinas, um dia abandonam o leito seguro dos rios para formar a imensidão dos mares, vocês também estão deixando os bancos calmos e aconchegantes desta Escola, carinhosamente conhecida como “Escolinha” onde a maioria dos mestres sempre os tiveram como filhos adotivos.

Agora os veremos partir para encontrar lá fora, o tumultuado mundo dos profissionais da Contabilidade, cujas leis mudam frequentemente e bem conhecê-las e bem aplicá-las em proveito de seus clientes e do nosso País, será a maior de suas responsabilidades. Porém, estejam certos, estaremos solidários e sempre torcendo por vocês.

Meus caros afilhados, neste dia conclamo-lhes ainda:

Sigam o exemplo de Fernão Capelo Gaivota, aquela gaivota irrequieta, que não se dava por satisfeita em ser igual às outras, sentindo-se obrigada a ir além e ultrapassar limites.

E ela sempre ultrapassava, pois querer é poder, portanto, queiram ser os melhores, trabalhem e estudem com determinação, vençam os obstáculos e alcancem tudo aquilo que almejarem, mesmo que aos olhos de outros possa parecer inatingível.

Devo também, na condição de padrinho adverti-los:

Estamos em um mundo em crise, notadamente em um País em crise, mas tanto o mundo quanto os países, sempre conviveram com crises, ora menores, ora maiores.

Ademais, desde que Adão, tido pelos ensinamentos Bíblicos como o primeiro homem da humanidade, em razão de seu erro, foi expulso do paraíso e o mundo deixou de ser um local de descanso e lazer, para ser uma oficina de trabalho.

Fundamentado em fatos históricos, assevero: não existem crises que resistam aos homens que pensam e trabalham.

Estamos próximos do terceiro milênio, faltam tão somente 9 (nove) anos.

Dentro de uma visão otimista, vejo o mundo se preparando para o terceiro milênio de forma edificante e solidária; a Europa vestindo a roupagem do entendimento, com a União das duas Alemanhas e na Unificação do comércio em 1.994.

Nas palavras de Montesquieu:

“O comércio afasta os preconceitos agressivos. Em toda parte onde se estabelecem os costumes brandos, existe comércio, e onde se pratica o comércio existem os costumes brandos.”

Certamente uma onda de paz pairará sobre a Europa.

Uma nova ordem começará a imperar na União Soviética, cuja extinção está prevista para o dia 31 de dezembro de 1.991.

O pequeno Japão, se avaliado pela sua extensão territorial, agiganta-se mundo afora pela sua tecnologia e, as duas Coréias, após 50 anos, ensaiam o primeiro aperto de mãos.

A América Latina tenta aglutinar-se em torno do MERCOSUL.

Os poucos ditadores que ainda resistem, estão a contar seus últimos dias no poder, vendo florir e enraizar o império das Liberdades Democráticas.

Por estas razões, sinto-me encorajado a dizer-lhes algumas palavras de otimismo e incentivo nesta noite.

Meus queridos afilhados.

O Brasil é um pais extremamente jovem, somente há 491 anos os portugueses oficiliazaram sua existência em razão da inteligência de Pedro Álvares Cabral e com a magnífica Carta de Pero Vaz de Caminha.

Durante 308 anos não passamos de uma Colônia para atividades extrativistas, espoliada economicamente na retirada de suas riquezas naturais e nada recebendo em troca.

Estabeleceram aqui um regime de exceção e àqueles que ousassem pensar em liberdade teriam suas vidas ceifadas a exemplo do que fizeram com Frei Caneca, em Pernambuco e com Felipe dos Santos e Joaquim José da Silva Xavier, em Minas Gerais.

Mas não conseguiram ceifar o entusiasmo de nossa Gente e nem a fertilidade e as riquezas de nosso solo. Somos o quinto país em extensão territorial, certamente o único 100% (cem por cento) cultivável durante o ano todo e ainda, o mais rico em reservas minerais e naturais, ainda não exploradas. Como exemplo, basta citar os recursos da região Amazônica.

O Brasil evoluiu e estou convencido que continuará evoluindo e breve estará no cenário universal, ao lado das Nações desenvolvidas.

Neste momento histórico da passagem para o terceiro milênio, o Brasil não se contentará em continuar a ser o País do futuro e ficar às margens dos acontecimentos.

Estou convencido que seremos um País melhor, acredito também que o mais importante para o desenvolvimento de um País é o seu povo, e o nosso povo vem ao longo dos anos progredindo de forma lenta, sofrida, porém eficaz.

Um exemplo desta evolução é vislumbrar que nesta noite, mais de 90 (noventa) jovens, alguns crianças ainda, concluem o segundo grau e estão a um passo para o exercício de uma profissão, bem como de seu ingresso em um curso universitário. Ressaltando, que são também portadores de uma sólida formação, capazes de emitirem críticas e melhor direcionarem seus caminhos, pois foram educados em uma Escola democrática.

Caros formandos.

Saibam que é um louvável privilégio para vocês e também para tantos outros por este Brasil afora, que neste término de ano estão concluindo o segundo grau, mas é também uma grande responsabilidade, uma vez que, o destino deste grande País estará nas mãos dos senhores.

Portanto, seja no exercício de uma profissão, no exercício de um cargo público, no magistério ou na educação de seus filhos, trabalhem por um Brasil melhor, trilhando nos caminhos da ética, da lealdade e da honestidade.

E em qualquer destas ocupações, eu lhes peço, sejam bons na mesma proporção que o foram enquanto meus alunos.

Que o Bondoso Deus os proteja e abençoe a todos.

Que sejam felizes.

Muito obrigado.

Itaúna, 20 de dezembro de 1.991.

Professor Arnaldo de Souza Ribeiro

- Advogado

Obs. Discurso publicado no livro: Magistério: estudos, pesquisas e palestras. 1. ed. Itaúna: Vile – Escritório de Cultura, 2014, p. 13 a 18.