Discurso sobre o silêncio
Faz um tempo considerável que não escrevo sequer uma frase.
E para quem sempre sentiu certo prazer em dizer, sempre tomado pela incerteza sobre o que dizer diariamente, alguma coisa aconteceu.
O que aconteceu afinal?
O silêncio enfim havia me tomado para si.
Mas o silêncio, é preciso frisar, nem sempre representa o fim do sujeito entregue a escrever.
Todo silêncio parece, nesse sentido, constituir certa chave para o recomeço. Desde a primeira linha percebo isso. Estou de volta (já me sinto tomado por essa certeza) ao sempre grandioso mundo dos sentidos.
O sentido está posto aqui e agora, o silêncio que me fez ausente teve uma razão bem íntima de ser, pois, depois de cultivar a minha alma, é sim por meio dela que agora ele se diz:
“nada de novo, simplesmente mais um recomeço.”
A morte pode se dá em qualquer plano, mas é na escrita que a vida exige sua permanência.
Assim,
o sentido do silêncio reside em ser vida em segredo, eternamente presença, eternamente secreta, ansioso pelo retorno.