MONÓLOGO
Eu ia comprar uma monareta.
O gerente daquele banco ia me emprestar o dinheiro.
Eu queria uma monareta.
O gerente ia emprestar.
Era o gerente.
O gerente!
Ele... ia emprestar o dinheiro.
Minha irmã comprou uma monareta para o filho dela.
Foi o gerente que emprestou o dinheiro.
Você conhece Maria José?
Ela mora ali naquela rua.
Conhece Agostinho?
Agostinho é meu pai.
Você conhece, não é?
É... ele é meu pai.
Meu pai...
Maria José é minha mãe.
Você conhece Maria José?
Ela mora ali naquela rua.
Tudo que é do meu pai agora é meu.
O dinheiro é meu.
O dinheiro do banco...
O gerente disse que ia emprestar para eu comprar a monareta.
Agostinho é meu pai.
Ele mora naquela casa.
Naquela casa.
Naquela casa.
Meu pai.
Agostinho.
Você conhece?
Agostinho é meu pai.
Maria José é minha mãe.
Minha irmã comprou a monareta para o filho dela com o dinheiro do banco.
O gerente disse que ia emprestar.
Minha monareta...
Eu... vou... comprar... com o dinheiro... o gerente ia emprestar.
Agostinho mora ali.
É meu pai!
A casa é naquela rua, ali.
Ali!
Ali!
Ali, naquela rua...
A casa de Maria José fica ali.
Maria José é minha mãe.
Agostinho é meu pai.
Tudo que é do meu pai agora é meu.
O dinheiro é meu.
A monareta que minha irmã comprou para o filho dela agora é minha.
A monareta é minha.
É minha!
É minha... a monareta é minha.
Minha mãe é Maria José.
Você conhece Maria José?
Conhece Agostinho?
A monareta é minha.
O dinheiro do meu pai agora é meu.
Eu... vou comprar uma monareta.
Meu pai...
A minha mãe é Maria José.
Ali! Olhe!
Agostinho, meu pai.
Naquela rua...
A casa é de Maria José.
Minha mãe...
O dinheiro é para comprar a monareta.
O gerente do banco vai emprestar...
[numa rua do Recife, sentado na calçada, sujo, maltrapilho, com o cabelo e barba desgrenhados, os pés na sarjeta, o autor desse monólogo conversava com sua própria sombra, indiferente ao trânsito em sua volta e ao sol causticante do meio dia do domingo]