“Como Zaqueu, quero subir o mais alto que eu puder....”(Regis Danese)
“Como Zaqueu, quero subir o mais alto que eu puder....”
Essa frase já nos remete à uma música que anda muito em alta, talvez nem saibamos da história de Zaqueu, mas a música nos acompanha sempre. Também eu me considero apreciadora de tal música, não tem como permanecer insensível diante dela. Mas não desejo refletir tanto sobre a música e sim sobre o personagem Zaqueu...a história deste chefe dos publicanos nos é relatada no evangelho de Lc 19,1-10...é muito difícil não conhecer, ou não ter escutado, sobre o homem que sobe em uma árvore para ver Jesus que passa envolvido por uma multidão...coitado de Zaqueu, pequeno, não consegue espaço na multidão que com certeza não desejava deixa-lo passar, afinal ele era chefe dos publicanos uma das profissões mais odiada pelos judeus, ouso dizer que o fato de ser ele de baixa estatura não é o maior empecilho para ver Jesus e sim o fato de a multidão não aceitar que ele se infiltrasse no meio deles para chegar até o Mestre.
Ao olhar para esta cena narrada no evangelho e ouvir a música me sinto envolvida por uma reflexão que desejo partilhar com vocês. Antecipo os agradecimentos pela atenção.
Diante da história de Zaqueu e também da música, minha atenção se prende no movimento que os personagens assumem: Zaqueu tenta olhar para Jesus do chão, da sua condição normal, não consegue e por isso sobe...Jesus passa por baixo da árvore, eleva os olhos e pede para Zaqueu descer. E onde se realiza o encontro? No chão, na casa, ao redor da mesa. Jesus não subiu, antes pediu a Zaqueu para que descesse. Ou seja não exigiu de Zaqueu que ele saísse de sua condição natural, pediu que ele o aceitasse em seu “natural”.
Mais que saber se isso aconteceu de fato, ou pensar na saída criativa de Zaqueu para ver Jesus, me chama atenção o fato de muitas vezes imaginarmos que também nós precisamos subir para encontrar a salvação! Precismos subir para chegar até Deus! Precisamos subir para alcançar o céu! Precisamos subir para nos libertar das fraquezas da carne...enfim precisamos subir!
A imagem que salta aos meus olhos é a contradição: enquanto Zaqueu sobe o próprio Deus desce...sim a Encarnação foi essa descida de Deus, por meio de seu Filho, até a humanidade que, cansada, pensava em subir sempre mais. Não é estranho para nós pensar no encontro com Deus em lugares altos, para os judeus mesmos encontrar com Deus significa subir. Porém todos sabemos o quanto é fadigoso subir, o quanto nos cansamos e muitas vezes desistimos na metade do caminho e apenas olhamos para o topo no desespero de não conseguir chegar.
Então vemos o pedido de Jesus: “Zaqueu, desce depressa, pois hoje devo ficar em tua casa” (Lc 19,5). É como se ele nos ainda hoje nos pedisse: escuta você se empenha tanto em subir...subir...e subir...mas preste atenção eu desci para mostrar que o lugar em que desejo lhe encontrar é o lugar comum da sua vida...é no seu cotidiano...na sua casa...é dentro de você...não me busque nas alturas, pois me encarnei para dizer que você como pessoa humana pode me encontrar...deixa-me caminhar com você...ceiar com você entrar em sua casa e ali permanecer...
Em paralelo podemos citar outra parte da música: “entra na minha casa...entra na minha vida...mexe com minha estrutura...”! É como se pedimos: vem Senhor..não quero lhe encontrar no externo, quero e preciso da sua presença na dimensão mais profunda da minha alma...preciso de sua presença...preciso de ti...
Quando Jesus nos encontra em nossa intimidade a mudança não é superficial..Ele mexe na estrutura..não reforma apenas...Ele destrói e faz de novo e nós sentimos a sua mão a nos moldar..a nos tecer e permitimos que Ele nos faça de novo, pois sabemos que Ele é capaz de nos moldar...então fazemos a experiência de encontra-lo em nós mesmos...afinal o nosso coração é o seu espaço preferido...deixemos ele entrar e ceiar conosco...o resultado? Bom esse é pessoal...