A-gente

Faço parte de uma juventude que cresceu sob influência de uma falsa psicologia que prega a complacência dos pais com os filhos. Faço parte de uma cidade onde criminosos punem, justiça falha, cidadãos morrem. Faço parte de um país onde o presidente não lê e o dinheiro some. Faço parte de uma geração limitada que não tem capacidade para dissertar sobre os assuntos mais prosaicos, muito menos para entender a si mesmos, e o quão doentes são seus princípios, ou a falta deles. Faço parte de uma sociedade onde os fins justificam os meios, onde o poder é uma máquina criminosa, onde os prazeres individuais sobrepujam todo e qualquer vestígio de coletividade, onde cultura é o que lhes é empurrado goela abaixo e educação é menos importante que um jogo de futebol. Muito pior! Faço parte de uma camada financeira com o acesso a toda e qualquer forma de desenvolvimento cultural, mas que se indispõe a qualquer aprendizagem, que abdica de todo o gênero de princípios, que se sujeita ao ridículo de ser nada. Faço parte de uma juventude passiva e burra, onde os ‘gênios’ se baseiam em ideais revolucionários que desconhecem, por motivos que desconhecem. Onde ‘gênios’ aceitam a superficialidade de seus conhecimentos e apenas se destacam pela sua prepotência, sua arrogância, um reflexo claro de uma ignorância inefável. Faço parte de um mundo desequilibrado, inculto, gratuitamente agressivo, que elege seus líderes com a incapacidade que se orgulham de ter. Um mundo em declínio, em crise, sem ideologias e sem renovação de cérebros, que parece estar fadado ao nada! Um mundo sem nacionalidades, onde o bem-comum é uma piada, onde corpos são mais importantes que idéias, onde educação é banalizada, onde quase toda arte é pastiche, e o poder está nas mãos de mentirosos. Um mundo onde todos dizem saber a quem culpar, mas não tem capacidade de dizer o mais importante: como resolver.

Revolução é uma palavra morta, utilizada por falsos intelectuais para mobilizar fracos de intelecto em favor de suas idéias boçais. Não é necessário um povo unido em prol de idéias que não lhes cabe entender. Não é necessária uma massa sob a influência de um orador verborréico e estéril, pois não é alternando tiranias que haverá mudança.

Precisa-se de mentes altivolantes. Faço parte de uma juventude perdida, mas permanecerei no baluarte dos meus ideais. Recusemo-nos a ser mais um fruto podre de uma árvore infecunda. Recusemo-nos a ser apenas o que esperam que sejamos. Sejamos agentes, não simples e inúteis ouvintes.

Joao L Terrezo
Enviado por Joao L Terrezo em 30/07/2009
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