TÁ LENTO!
"... Paulo, não são todos os brasileiros que conseguem tocar música brasileira. As estrangeiras são bem mais fáceis para esse bando de gente que só estuda em métodos internacionais!"
Não vou expor o nome da pessoa que me enviou esse e-mail — simplesmente, para preservar-lhe a identidade — por motivos políticos. Política é o que mais rola. Bom, quem mandou não estudar?... Falta de capacidade? O principal problema das nossas orquestras não evoluírem o suficiente é que querem formar naipes somente com doutores, parentes de políticos, amigo do amigo, do vizinho, etc. E querem deixar os verdadeiros músicos de fora... Como já vem acontecendo há alguns anos; séculos, para ser mais sincero! Isso nunca vai funcionar!
Se porventura, os Gênios do passado, como Bach, Beethoven, Joseph Haydn, Mozart, Giuseppe Verdi, Rimsky-Korsakov, Igor Stravinsky, Villa-Lobos e tantos outros — se esses grandes mestres estivessem presentes, hoje, estariam fora das orquestras. Sim, por não terem diploma!... E o pior disso tudo é que foram eles que escreveram as melhores obras de todos os tempos! Para mim, ser doutor musical não significa absolutamente nada! Na verdade, o que existe realmente, é o que há no interior de cada ser humano: sua capacidade de criar. Se não souber criar, vai ter que aplaudir! Até porque não se fabrica um compositor. Felizmente, ainda não descobriram a magia de como criar um ser humano capaz de ser um Músico, um Poeta, um Pintor, um Artista de verdade.
Diploma... Ora, podemos comprá-lo em qualquer lugar e, por qualquer preço. O problema é ter que assumir e honrar esse papel. “Ser ou não ser, eis a questão.” Existem maestros que confundem DÓ com FÁ# (sustenido), e são doutores em música!... Isso é que não entendo, e nunca vou entender!... Isso, nem Freud explica!
Certa vez, enviei uma obra para a melhor orquestra do país. A resposta que obtive do maestro foi a seguinte frase: “— Meus violinos não estão preparados para executar essa sua obra!” Por outro lado, os violinistas responderam: “— Paulo, o maestro não sabe dividir o que você escreveu... Ele nunca regeu polirritmia, muito menos peça jazzística; ele só sabe reger as músicas do século XVII.” Que coisa mais ridícula. Quem será que está mentindo?
Talvez, isso nem venha ao caso; a verdade é que não tocam a minha música por falta de conhecimento musical, e não porque não a querem tocar... Essa é a grande verdade! Sinto-me até lisonjeado com essas duas respostas! Mesmo sem saber qual a verdadeira. Mas... de uma coisa eu tenho certeza: estamos num profundo caos musical! Onde estará a inspiração? Nas Academias?... Nos Conversatórios?...
Desde o ano de 1985, até 1987, estudei contrabaixo acústico com o professor Nikolaus Schevtshenko, mestre para quem eu dediquei a minha primeira Sinfonia — O MAQUINISTA. Por sinal, esse foi meu único professor de música, em toda a minha vida. Considere-se que já tocava contrabaixo elétrico, logo que completei dezessete anos de idade, e violão, aos doze.
Certo tempo atrás, fui fazer um teste no melhor Conservatório da América Latina. Chegando ao local, notei que não havia maestro e nem professor para que pudessem avaliar o teste. Porém, notei que tinham montado uma banca exclusivamente para mim; sim, eu era o único músico que fora fazer o suposto teste para ser avaliado, e pelos monitores da grande escola. Eram monitores eruditos. Nunca soube, em toda a minha vida, que músico erudito entendia de jazz. Assim mesmo fiz o teste! Na avaliação, eles me disseram: — “Não podemos julgá-lo, que música é essa?” Então, eu lhes disse: — “Posso escrever para que possam avaliar-me melhor, se não entenderam o que toquei!” A sala ficou em silêncio por alguns instantes... Só depois de um longo tempo, ouvi alguns murmúrios. Então, disseram-me: — “Não, Paulo, não precisa escrever nada, já chegamos a uma conclusão. Daqui a alguns dias sairá o resultado!” Ao sair da sala, ouvi uma voz dizer: — “Paulo, para fazer música, tem que ter talento.” Continuei a andar, e nem olhei para trás... pois, já notara que era uma armação. O pior é que a banca não tinha capacidade para julgar-me.
Mais tarde, fiquei sabendo que fora um pedido do ex-diretor, para que eles fizessem esse papel. Talvez, para que seu nome não soasse como um Medíocre, por toda a eternidade. Por isso, colocou os incapacitados, os desprovidos musicais. Sendo assim, teriam uma desculpa plausível para dizer que não entenderam nada. Não entendem a minha música, porque não têm capacidade para avaliar. Nem mesmo os que se dizem maestros... Quanto mais os principiantes! Hoje, os ignóbeis que me reprovaram, não conseguem ler e nem tocar os primeiros compassos de minhas peças! Quem tem que ter musicalidade?... Realmente, para fazer Música, tem que ter Talento! Mas isso TÁ LENTO!
Pois é, senhoras e senhores!... Quero deixar registrado esse acontecimento — para que, no futuro, todos venham a saber a grande verdade. E sinto-me até orgulhoso por esse episódio. Grandes compositores, no passado, também não foram compreendidos, e hoje estão aí! De fato, se forem executar minha obra... Pelo amor de Deus! — Toquem-na Certa!!!
Na música, existe uma expressão chamada Linguagem! Isso significa que há um estado de espírito de compositor para compositor. Daí, a palavra Estilo! Em suma, um estado de espírito em que se encontrava um compositor quando estava escrevendo uma determinada obra. Na verdade, os maus músicos saem tocando de qualquer jeito, como se fosse um estudo, passando por cima de acidentes ocorrentes, divisões que, simplesmente por ser, colcheia, por exemplo, não significa que possa valer somente meio tempo; existe a interpretação. Chamamos a essa interpretação de Rubato! Isso vai depender exclusivamente do intérprete.
— A entidade musical apresenta assim a notável singularidade de englobar dois aspectos, de existir sucessiva e distintamente em duas formas separadas uma da outra pelo hiato do silêncio. Essa natureza peculiar da música determina sua própria vida, bem como suas repercussões no mundo social, já que ela pressupõe dois tipos de músico: o criador e o executante... O destino de uma obra, naturalmente, depende em última análise do gosto do público, de suas variações de humor e de hábito; em suma, de suas preferências. Mas o destino de uma obra não depende do julgamento do público como se fosse uma sentença sem apelação. Considerem de um lado o esforço consciente e a organização paciente que exige a composição de uma obra de arte, e por outro lado o julgamento — que é no mínimo apressado e necessariamente improvisado — que se segue à apresentação da obra. A desproporção entre os deveres daquele que compõe e os direitos dos que a julgam é clamorosa, já que a obra apresentada ao público, seja qual for o seu valor, é sempre fruto de estudo, raciocínio e cálculo, o que implica exatamente o contrário da improvisação. (Igor Stravinsky)
Já em outra ocasião, esse mesmo ex-diretor musical disse-me uma frase em que até hoje fico pensando. Que diretor é esse que a política resolveu colocar para dirigir uma Escola de Música? A filosofia dele foi essa: — Paulo, quando você for escrever alguma peça musical... Escreva só bolacha, assim eles não perderão tempo em estudar. Quanto mais fácil você escrever, melhor será o resultado! Até porque... pra quê ficar perdendo tempo estudando uma música? Hoje em dia, ninguém quer saber de cultura!... E sim, da grana! (sic). Nesse exato momento... fui obrigado a dizer-lhe uma verdade... Disse-lhe: “— Não, maestro! Não é bem assim! A verdadeira Música é algo divino e nem saberia fabricar qualquer melodia, qualquer nota, simplesmente pelo desejo que a minha música subisse à estante — para fazer bonito e para agradar uma maioria de acomodados (incompetentes) musicalmente. E jamais faria isso por “grana”; até porque nem sei fabricar uma melodia; escrevo sim, notas que vêm do cosmos; isso, se elas soarem em minha mente. Mesmo, ouvindo essas tais melodias... não teria coragem de mudar uma nota sequer; isso seria uma arbitrariedade! Sei que ainda estou aprendendo e irei aprender sempre... Talvez até os últimos dias de minha vida!
— A capacidade para a melodia é um dom. Isso significa que não está em nosso poder desenvolvê-lo através do estudo. (Stravinsky)
Pensava, naquele momento, comigo mesmo: — Se eu aceitasse aquela proposta, de escrever só bolacha... Bolacha que ele quis dizer... escrever semibreves, notas que duram quatro tempos, ou seja, escrever uma coisa bem fácil. Aquelas tais músicas descartáveis. É... ia ganhar uma grana, certamente! Mas, iria sentir-me um incompetente, um medíocre, ou pior ainda... um ignóbil para comigo mesmo. Então, acreditei mais na Arte do que no vil metal. E não me arrependo, e jamais iria aceitar aquela proposta indecorosa.
Posso não ser reconhecido hoje, mas, amanhã é outro dia. Pode demorar até cem anos para executarem a minha obra... Pelo menos, nunca terão a chance de dizer: — Essa Música é uma Droga! Pelo contrário... Vão ter que estudar, sim!... Até porque, ainda não existe uma escola no Brasil para qualificar a minha Música. Talvez no futuro!... Talvez ! Digo isso com todas as letras... Sem medo; porque é uma verdade! Se porventura, alguém achar que estou exagerando... É só tentar executar qualquer uma de minhas peças populares ou até mesmo as eruditas... Então, terão a certeza de que o que estou dizendo é a pura verdade! E tem mais... O problema é que terão que ser um pouco virtuosos e estudar muito!
Sei que as orquestras não apresentam minhas peças porque estão tão acostumadas a tocar bolachas, e quando veem polirritmias, compassos sincopados, nem sabem dividir isso. Decerto... Terão que pedir ajuda aos doutores em música. Isso, se acharem os que entendem! Também tem esse problema... Preocuparam-se tanto com os diplomas, que se esqueceram do principal — da Arte. É por essas e outras razões que a Música está indo de mal a pior. Espero não estar aqui quando ela chegar no seu mais profundo absurdo — no caos profundo!
Conheço vários estilos musicais... Desde a Idade Média (período Medieval), até o período de hoje; sendo que, se voltarmos ao passado... Como disse Verdi, “Isso será um progresso”. A música de hoje virou um negócio; um negócio bem estranho, por sinal. O ser humano perdeu aquela inspiração que vinha do cosmos... Talvez haja uma razão social para que um compositor seja obrigado a escrever umas coisas tão estranhas... Tão estranhas... que até Deus duvida! Hoje, simplesmente, preferem criar as músicas mais fáceis; fáceis no sentido de os músicos não perderem tempo em estudar, criar, examinar, de tão simples que são... Qualquer nota, está ótimo! Na verdade, nem podemos nos dar ao luxo de dizer que isso pode ser chamado de música! Tenho um adjetivo mais plausível para qualificar essa aberração. Talvez, um dia vocês saberão qual é esse adjetivo.
Os tempos não mudaram; só mudaram as datas! Sempre existirão os Salieris por aí!... E o pior disso tudo é que são diretores musicais!... Sinto-me envergonhado dessa corja de ignorantes; ignorantes e surdos, que trocam DÓ por FÁ# (sustenido)! Provem-me se não é verdade!... Serei o primeiro a dar os parabéns, mas, enquanto isso não acontece, vou continuar achando que são realmente Surdos e, para deixar bem claro — surdos musicalmente! Corja de incompetentes... que só sabem fazer política!... Música que é bom, nada! Ainda bem; quando morrerem, vão levar somente as lembranças!... Isso, se não tiverem amnésia!
Penso igualmente a Villa-Lobos:
— Considero minhas obras como cartas que escrevi à posteridade, sem esperar resposta. (Tuhu – Heitor Villa-Lobos)
Pode demorar o tempo que for; no dia em que conseguirem entender e dividir o que escrevo... Oh!... Parabéns!...
Paulo Costa (Pacco)
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"Os maus músicos não podem ouvir o que tocam; os medíocres poderiam ouvir, mas não escutam; os músicos medianos ouvem o que tocaram; apenas os bons músicos ouvem o que irão tocar.
E... os artistas ouvem como irão tocar ou cantar aquilo que ouvem interiormente." (Edgard Willems)
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“Composição não se ensina; o compositor já nasce pronto.”
(Ludwig van Beethoven)
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