POSSE DO MUSICO SÉRGIO CAMPELO NA ACADEMIA PERNAMBUCANA DE MÚSICA - 22/08/2005

Na trajetória de nossas vidas, sem exceção, a música está intrinsecamente ligada a todos nós.

Desde tenra idade, ainda no berço, sempre fomos acalentados com o calor materno e o sublime sussurrar de uma canção de ninar. Invariavelmente, todos passamos por esses momentos de luz, de paz.

Nesse enlevo, adormecíamos e saciada estava a nossa vontade indescritível de ouvir algo que desse um repouso para nosso corpo e nossa alma, que através do choro, buscava o alento que transcendesse o nosso ser, trazendo a paz para nossa inquietude.

A universalidade da música nos dá mansuetude, e dependendo da ocasião e do gênero, somos elevados a esferas bem superiores a que vivemos.

No contexto, ao deleitar-nos com o som da música, descobrimos as diversas variáveis do sentimento humano. Não raro, lembramo-nos de momentos saudosos, e como que num passe de mágica, reportamo-nos a épocas vividas, confirmando os adágios populares: recordar é viver; saudade é vontade de ver de novo...

Noutras vezes, a música leva-nos a sonhos e fantasias. Inebriados nessa rica harmonia, viajamos mundo afora com nossos pensamentos eufóricos, envoltos que estamos num magnetismo, que por mais que tentemos definir, somos incapazes de fazê-lo por inteiro.

Nesse mundo em que buscamos incessantemente a paz, temos na música o ancoradouro sempre receptivo aos nossos sentimentos, fazendo crer, ser ela a arte maior dentre tantas outras, sempre requerida pelo espírito para completar sua existência plena.

Temos, ainda, no universo maravilhoso da música, uma orquestra de magnitude impenetrável, sem partituras, afinada, pontual, sempre pronta a servir à sensibilidade e exigência dos nossos ouvidos, e que para ecoar sua bela música, não precisa de regente.

Seus personagens são simples, não freqüentaram Conservatórios, mas possuem uma sabedoria superior...

Não sabemos quantos participam dessa harmoniosa orquestra, mas sabemos, sim, que os sons que emitem nos enchem de esperança a cada nascer do sol, em um novo dia que surge: esses personagens são os pássaros.

Contraditoriamente, vivemos numa época nada invejável. Nossa música, ou mesmo, a música dos nossos tempos em termos globais, salvo raras exceções, denota uma decadência inominável. Não há esmero, zelo e tampouco competência, para se criar algo novo, com qualidade e bom gosto, que venha despertar a nossa acurada sensibilidade.

Como se não bastasse, coexistimos com a insensibilidade dos homens públicos, que são responsáveis pela educação e formação dos nossos jovens. Eles dão ênfase, por exemplo, a informática, que reconhecemos ser da maior utilidade, porém, a música ficou alijada do currículo escolar.

Deu-se espaço para a matéria fria, calculista e exata, ficando de lado a música, expressão do sentimento, que humaniza o homem, minimizando suas tendências de brutalização.

Jamais seremos contra o conhecimento tecnológico, mas, o incentivo às artes, que fazem desabrochar no homem a sensibilidade para o que é belo e estético, exaltando seu estado de espírito, não poderia ser deixada em plano inferior pelos nossos legisladores e educadores.

Outro fato que consideramos grave, é a desvairada pseudocultura estampada nas vitrinas dos órgãos públicos, onde aqueles que promovem esse tipo de coisa, não sabem ou não buscam discernir o que seja cultura e lazer.

Infelizmente, hoje em dia, música é sinônimo de mercado. É produto fácil, pirateado, descartável... Quem mais divulga é quem mais vende. Aliado a esse triste quadro, existe a força voraz da mídia, uma das responsáveis por esse status quo.

Para nosso desalento, o que deveria ser regra geral, tornou-se exceção. Por conta disso, a boa música tem que ser garimpada do universo das mediocridades que nos rodeiam.

Estamos no tempo do “modismo”, da “lei do menor esforço”, da “insensibilidade”, e, Infelizmente, a música não foge a regra.

Enfatiza-se tudo que se diz “moderno”, mas poucos se apercebem de que, “moderno” deve ser aquilo que é belo, estético e por conseqüência, imortal.

Corroborando a assertiva, cito os magistrais:

Bach (1685-1750), Mozart (1756-1791), Beethoven (1770-1827), Chopin (1810-1849), Brahms (1833-1897), Debussy (18621918), Ravel (1875-1937), Villa–Lobos (1887-1959), entre tantos outros.

Se, no entanto, enveredarmos pela música popular brasileira, teremos:

Chiquinha Gonzaga, Sinhô, Lamartine Babo, Noel Rosa, Tom Jobim, Francis Hime, Chico Buarque, Ivan Lins, e os nossos, também Imortais Capiba, Luiz Gonzaga e Luiz Bandeira, para citar somente esses.

Todos, sem exceção, jamais deixarão de ser “atuais e modernos”, simplesmente porque suas obras não habitam o lugar comum, foram feitas com talento, sensibilidade e bom gosto.

A Academia Pernambucana de Música, cumprindo seu objetivo de preservar, promover e divulgar os valores musicais da nossa terra, sente-se cada vez mais envolvida nesse mister, comprometida que está, com essa difícil missão.

Após essa trajetória no inesgotável mundo da música, voltamos ao lugar de origem; chegamos a esta noite engalanada, de brilho incomum, onde temos a subida honra de saudar um músico brilhante.

Sinto-me à vontade para discorrer sobre você, Sérgio Campelo, mercê do convívio intenso que temos nas lides da musica, quer em gravações, quer em outras empreitadas em que nos envolvemos.

Agora, em uníssono, festejemos o ingresso na Academia Pernambucana de Música de uma figura por demais conhecida, exaltada e respeitada. Trata-se do músico Sergio Accioly Campelo, cujo nome artístico é Sérgio Campelo.

Nascido em Recife, no dia 01 de maio de 1962. Filho de José Glaudis Campelo e Maria Emília Accioly Campelo. Casado com Nara Frej Florentino, tem uma filha chamada Laila Frej Campelo.

Cursou o 1º e 2° Graus no Colégio Santa Maria. Iniciou o Curso de Engenharia Civil na Universidade Católica de Pernambuco, e freqüentou durante 3 anos.

Aos 10 anos de idade, ganhou dos pais uma flauta doce de presente e foi descobrindo os caminhos da música.

Aos 16 anos, ganhou do avô uma flauta transversa e dois anos após, sentiu a necessidade de buscar orientação profissional.

Em 1980, aos 18 anos, iniciou seus estudos musicais no Conservatório Pernambucano de Música, onde estudou durante três anos com o Professor José Tavares do Amorim.

Em 1983, mudou-se para João Pessoa e 3 anos depois, graduou-se em Bacharelado em Música com especialização em flauta transversa na Universidade Federal da Paraíba.

Possui cursos de aperfeiçoamento nos estados da Paraíba, Pernambuco, Rio de Janeiro e São Paulo. Fez o curso de especialização de música moderna para flauta no Conservatório ERIK SATIE em Paris (França), como bolsista do governo Francês.

Foi professor do Centro Profissionalizante de Criatividade Musical do Recife durante 3 anos, onde criou grupos de flautas.

Realizou diversos recitais com os principais pianistas do Recife. Foi solista convidado da Orquestra Sinfônica do Recife, Orquestra de Câmara da Universidade Federal de Pernambuco, Orquestra Armorial de Câmara e Orquestra de Câmara do Conservatório Pernambucano de Música.

Foi flautista integrante do QUARTETO ROMANÇAL durante três anos, onde participou de varias turnês e da gravação dos dois CDs do grupo, sendo um deles, em um dos estúdios mais conceituados do mundo em Oslo, na Noruega.

Como compositor e arranjador, tem feito trabalhos diversificados para grupos de câmara do Recife.

Participou como arranjador do Festival RECIFREVO nos anos de 1995 e 1996, promovido pela Fundação de Cultura Cidade do Recife e TV Jornal do Comércio.

Foi arranjador no 1º Festival Internacional Norte e Nordeste de Flautistas e compôs uma obra para ser executada no encerramento do festival, pelos flautistas convidados da Europa, EUA e Brasil.

Em 1995, criou o Grupo Sa GRAMA, que trabalha a música pernambucana baseada nas manifestações de nossa cultura popular, com uma linguagem mais elaborada, mais erudita.

Constituído de instrumentos acústicos, os nove músicos buscam o máximo de efeitos sonoros, numa fusão de sopros, cordas dedilhadas e percussão, atingindo como resultado uma sonoridade bem trabalhada e ao mesmo tempo exótica. O SaGRAMA tem 5 discos lançados e vendidos em todo Brasil.

Citaremos agora, suas atividades desenvolvidas no âmbito da música:

Autor da Trilha sonora original do FILME (35mm) - O Auto da Compadecida;

Em 2002, obteve o 1º. Lugar no I Prêmio Bandepe Valor Pernambucano Arte e Cultura na Categoria Música -

Diretor Musical e autor da trilha sonora do CURTA (35mm) -

O Velho, o Mar e o Lago;

Diretor Musical e autor da trilha sonora:

A história da Eternidade;

Diretor Musical e autor da trilha sonora do VÍDEO - O Brasil-Império na TV;

TEATRO - A ver estrelas... (Diretor musical, autor da trilha sonora original e arranjador das canções do diretor geral João Falcão;)

Diretor Musical e autor da trilha sonora original de Fernando e Isaura e arranjador das canções do diretor geral Carlos Carvalho);

Diretor Musical e autor da trilha sonora original “Quem Tem, Tem Medo”, em parceria com o músico Português Ricardo Dias);

- BALÉ - Cia de Dança Perna de Palco(PE);

- Trupe do Passo(RJ);

- Balé Íris de Alagoas(AL);

Discorreremos agora, sobre:

Sérgio Campelo- O Cidadão - probo, cordial, ilibado -, que no dia – a – dia, confirma a primeira impressão que tive ao conhecê-lo há alguns anos, mais de perto.

A princípio, já o sabia como professor, flautista, mas, depois, desvendei o Sergio Campelo cidadão, na melhor acepção do termo, e que daí por diante, comecei a admirá-lo, ainda mais.

Sérgio Campelo - O Músico - Não menos admirável, como arranjador, compositor e líder do grupo instrumental Sa Grama. Em qualquer dessas atuações, Sergio Campelo é uma - unanimidade inteligente -, por conta da sua rica e inesgotável criatividade, tal qual os caminhos que percorremos na harmonia, caminhos esses intermináveis, mutantes, inconclusos.

Sérgio Campelo - Talento e Responsabilidade Esse é o binômio que o acompanha na sua lide diária. O esmero no trabalho que realiza é sua obstinação constante, própria daqueles que buscam fazer sempre o melhor, perseguindo incessantemente o que considera perfeito.

Como líder do Grupo Sa Grama, notabilizou-se com suas composições, ficando conhecido nacionalmente por ter produzido a trilha sonora do filme “O Auto da Compadecida”, baseado na peça do talentoso Ariano Suassuna.

Nesse caminho rico e profícuo de 10 anos, o grupo gravou cinco CD’s de música instrumental, com peças as mais variadas, enfocando o nosso folclore, valorizando os nossos compositores.

Promover música instrumental é tarefa árdua. Por ser um trabalho em que não figura nenhuma poesia, é mais difícil à sua assimilação e compreensão.

A música que possui letra oportuniza a participação do povo, sendo um facilitador para sua divulgação.

Contudo, mesmo em se tratando desse gênero musical, o Sa Grama, grupo por ele liderado, conseguiu gravar e divulgar cinco CD’s, em curto espaço de tempo, alcançando uma aceitação invejável a nível nacional.

Esse é o perfil de Sérgio Accioly Campelo, agora imortal, por conta dos seus méritos musicais. Ele vem somar, tornar mais rica ainda, a Academia Pernambucana de Música, trazendo-nos sua experiência, competência e convívio salutar.

Estamos todos de parabéns, por agregarmos a partir de hoje em nossa Academia, um dos músicos mais talentosos da nossa geração.

Seja bem vindo ao nosso convívio SÉRGIO ACCIOLY CAMPELO. Nossa Academia o acolhe de braços abertos, como uma partitura em branco, ávida pela inserção das colcheias, semi-colcheias, fusas e semifusas, advindas do seu reconhecido talento. Você saberá preenchê-la com preciosismo e sabedoria.

Agora, brindemos solenemente o novo Acadêmico com nossas palmas vibrantes, cuja ressonância refletirá o testemunho da nossa felicidade em tê-lo como integrante deste sodalício.

Muito obrigado.

Luiz Guimarães Gomes de Sá

LUIZ GUIMARAES
Enviado por LUIZ GUIMARAES em 31/05/2006
Reeditado em 31/05/2006
Código do texto: T167021