Homilia na missa de abertura do Ano Sacerdotal
Homilia de abertura do Ano Sacerdotal
DOM ADAIR JOSÉ GUIMARÃES
Rubiataba - Go, 19 de junho de 2009
Amados irmãos no sacerdócio, querido Povo de Deus, diletos radiovintes.
Nesta Solenidade do Sagrado Coração de Jesus, iniciamos o Ano Sacerdotal, proclamado pelo Santo Padre Bento XVI, cujo término será no dia 11 de junho de 2010, na mesma Solenidade que hoje celebramos.
A motivação do Ano Sacerdotal se deve aos 150 anos da morte de São João Maria Vianey, o Cura D’Ars, Patrono dos párocos. O início do Ano Sacerdotal na Solenidade do Sagrado Coração de Jesus se deve ao fato do costume da Igreja neste dia dedicar suas orações pela santificação dos sacerdotes.
O Sagrado Coração de Jesus é o oásis do amor Divino, onde o sacerdote encontra seu alento e seu entusiasmo. É a fonte de nossa cura e de nossa esperança. Quão indizível é este coração que toca nossas almas com os tesouros do céu. Transpassado pela lança maldosa do soldado, o coração do Senhor verteu a Igreja e seus dons. Quando olhamos com os olhos dá fé para o Sagrado Coração, cresce em nós a sede de ser discípulos e missionários no coração da Igreja, nossa Mãe.
Neste Ano Sacerdotal, queremos, como sacerdotes, abraçar o convite do Santo Padre, o Papa, para vivenciar com alegria este ano tão importante para a redescoberta da importância do exercício do ministério sacerdotal junto ao nosso povo. Nunca a pessoa do sacerdote santo e integrado foi tão relevante para os nossos dias. O padre reto e amoroso ao seu ministério é um tesouro para nossas comunidades. Como é difícil para nossas comunidades que não tem o padre atuando diuturnamente junto a elas.
O Papa nos indica que este ano “pretende contribuir para fomentar o empenho de renovação interior de todos os sacerdotes para um testemunho evangélico mais vigoroso e incisivo”.
A figura do Santo Cura D’Ars, nos ajudará a recordar o zelo que o sacerdote deve manifestar no exercício de sua missão.
A bem da verdade, neste Ano Sacerdotal não podemos deixar de lembrar com tristeza a fragilidade de alguns sacerdotes, aqui e em outros lugares do mundo que deploravelmente não souberam manter a fidelidade às promessas assumidas no dia da ordenação. Maus exemplos, quebra dos votos, deserção do ministério da parte de alguns, faz doer o interior da Igreja por deixar muitas comunidades sem os tesouros da Graça de Deus, através dos sacramentos que o sacerdote distribuem. Muitas vezes a causa destes infortúnios no ministério de muitos, se deve à frieza na oração e a falta de uma vida interior mais aprofundada nos Mistérios de Deus. Para nós sacerdotes é preciso ter presente que devemos “ser padres e não estamos padres”.
Por outro lado, temos que reconhecer a grandeza de alma e a generosidade de uma imensa plêiade de sacerdotes abnegados, santos, cumpridores do seu dever e testemunhas vivas do amor de Jesus em suas vidas. Os meios de comunicação social mostram com avidez as misérias destes poucos sacerdotes que lamentavelmente não foram capazes de vivenciar a grandeza do ministério, mas não mostram a dedicação, o consumir-se pelas almas da parte de tantos padres que doam suas vidas sem reserva em favor do Reino, numa vida de pobreza, obediência e castidade.
Passo a citar um trecho da Carta do Santo Padre que nos alerta que os ensinamentos e exemplos de S. João Maria Vianney podem oferecer a todos um significativo ponto de referência. O Cura d’Ars era humilíssimo, mas consciente de ser, enquanto padre, um dom imenso para o seu povo: «Um bom pastor, um pastor segundo o coração de Deus, é o maior tesouro que o bom Deus pode conceder a uma paróquia e um dos dons mais preciosos da misericórdia divina».
Falava do sacerdócio como se não conseguisse alcançar plenamente a grandeza do dom e da tarefa confiados a uma criatura humana: «Oh como é grande o padre! (…) Se lhe fosse dado compreender-se a si mesmo, morreria. (…) Deus obedece-lhe: ele pronuncia duas palavras e, à sua voz, Nosso Senhor desce do céu e encerra-se numa pequena hóstia».
E, ao explicar aos seus fiéis a importância dos sacramentos, dizia: «Sem o sacramento da Ordem, não teríamos o Senhor. Quem O colocou ali naquele sacrário? O sacerdote. Quem acolheu a vossa alma no primeiro momento do ingresso na vida? O sacerdote. Quem a alimenta para lhe dar a força de realizar a sua peregrinação? O sacerdote. Quem a preparará para comparecer diante de Deus, lavando-a pela última vez no sangue de Jesus Cristo? O sacerdote, sempre o sacerdote. E se esta alma chega a morrer [pelo pecado], quem a ressuscitará, quem lhe restituirá a serenidade e a paz? Ainda o sacerdote. (…) Depois de Deus, o sacerdote é tudo! (…) Ele próprio não se entenderá bem a si mesmo, senão no céu».
Estas afirmações, nascidas do coração sacerdotal daquele santo pároco, podem parecer excessivas. Nelas, porém, revela-se a sublime consideração em que ele tinha o sacramento do sacerdócio. Parecia subjugado por uma sensação de responsabilidade sem fim: «Se compreendêssemos bem o que um padre é sobre a terra, morreríamos: não de susto, mas de amor. (…) Sem o padre, a morte e a paixão de Nosso Senhor não teria servido para nada. É o padre que continua a obra da Redenção sobre a terra (…) Que aproveitaria termos uma casa cheia de ouro, senão houvesse ninguém para nos abrir a porta? O padre possui a chave dos tesouros celestes: é ele que abre a porta; é o ecônomo do bom Deus; o administrador dos seus bens (…) Deixai uma paróquia durante vinte anos sem padre, e lá adorar-se-ão as bestas. (…) O padre não é padre para si mesmo, mas para os outros».
O Santo Cura ensinava os seus paroquianos sobretudo com o testemunho de sua vida. Pelo seu exemplo, os fiéis aprendiam a rezar, detendo-se de bom grado diante do sacrário para uma visita a Jesus Eucaristia. «Para rezar bem – explicava-lhes o Cura –, não há necessidade de falar muito. Sabe-se que Jesus está ali, no tabernáculo sagrado: abramos-Lhe o nosso coração, alegremo-nos pela sua presença sagrada. Esta é a melhor oração». E exortava: «Vinde à comunhão, meus irmãos, vinde a Jesus. Vinde viver d’Ele para poderdes viver com Ele». «É verdade que não sois dignos, mas tendes necessidade!». Esta educação dos fiéis para a presença eucarística e para a comunhão adquiria um eficácia muito particular, quando o viam celebrar o Santo Sacrifício da Missa. Quem ao mesmo assistia afirmava que «não era possível encontrar uma figura que exprimisse melhor a adoração. Contemplava a Hóstia amorosamente». Dizia ele: «Todas as boas obras reunidas não igualam o valor do sacrifício da Missa, porque aquelas são obra de homens, enquanto a Santa Missa é obra de Deus».
Estava convencido de que todo o fervor da vida de um padre dependia da Missa: «A causa do relaxamento do sacerdote é porque não presta atenção à Missa! Meu Deus, como é de lamentar um padre que celebra [a Missa] como se fizesse um coisa ordinária!». E, ao celebrar, tinha tomado o costume de oferecer sempre também o sacrifício da sua própria vida: «Como faz bem um padre oferecer-se em sacrifício a Deus todas as manhãs!».
Convoco nossos abnegados sacerdotes diocesanos a aproveitar bem este Ano Sacerdotal para renovar nossa entrega. Agradeço o trabalho dos nossos padres e a vida de sacrifício de cada um deles em favor da nossa Diocese. Que durante este ano que nos é dedicado, possamos incentivar ainda mais em nossas vidas as virtudes do Cura d’Ars: o amor às almas, o atendimento sistemático às confissões, a visita aos doentes, celebrar bem e com profundo espírito de afeto e fé a Santíssima Eucaristia e consumirmos na oração pessoal, meditativa e recitativa da Liturgia das Horas. Basta isto para que um padre seja realmente feliz no seu ministério e cumpra sua missão sobre a terra. O bom sacerdote não pode esquecer-se do trabalho de promover a Pastoral Vocacional e incentivar os jovens a abraçar a vocação sacerdotal. A vida santa de um padre é o melhor trabalho de promoção vocacional.
Obrigado Dom Carlos pelo seu exemplo de padre e testemunho de doação e entrega total a uma vida de amor ao próximo com profunda simplicidade e pobreza. Que o senhor continue sendo entre nós este abençoado sacerdote a serviço da Seara de Deus.
Obrigado a cada um dos padres que veio celebrar conosco o início do Ano Sacerdotal. Deus os recompense pelo trabalho e o grande amor com que se dedicam ao sacerdócio em nossas comunidades.
Que Maria, Mãe dos Sacerdotes, interceda por nós e pelas vocações sacerdotais de nossa Diocese. Amém.