Há sempre um sapato velho para um pé torto

Já dizia um velho ditado: “há sempre um sapato velho para um pé torto”. E não é que é verdade! Agora estou eu aqui: um pé torto, aguardando de Deus um sapato velho. Mas o que mais me impressiona é saber que Deus tem muito mais que um sapato velho para nos dar.

Certa vez, diante de um conflito familiar, eu chorava e murmurava contra Deus, querendo de certa forma provar para Ele (este pronome está escrito com a inicial maiúscula, mas é apenas um eufemismo, como que se ao aumentar o tamanho da letra eu pudesse exaltar a maravilhosa pessoa de Deus) que Ele não existe. Prove-me, se for capaz, que EU não existo. Então como provar para Deus a sua inexistência? Fácil, descreva todas as orações que você fez as quais Ele não respondeu!

Lá estava eu, com vestes apropriadas para tal (estava chorando como um bebê, embaixo do chuveiro. Dispenso nesta oportunidade descrever minhas vestimentas – se é que estava com alguma...). Iniciei minha cessão de descarrego (mas não era nada semelhante à de determinada religião, aquelas que se engrandecem na TV dizendo que o Bispo “Fulano de Tal” vai te abençoar, te curar e blábláblá, como se aquele/aqueles comedores de feijão tivessem algum poder para isso, tenha dó!). Descarreguei toda minha fúria. E disse: o Senhor nunca respondeu uma oração minha, umazinha sequer... buá... buá... buá!!

E como que um filme (dublado porque às vezes não estou a fim de ler legendas), Deus me fez lembrar todas as orações (recentes e de outrora), os momentos que as fiz e as respostas que Deus havia dado, muito mais rápido que o Papa-léguas...

Outra coisa interessantíssima é a forma que Deus nos responde. O livro de Mateus, no capítulo 8, narra uma história de como Deus nos surpreende com suas respostas.

Imagine: um trabalhador descobre que está com lepra (antigamente esta doença era incurável e a cultura do povo de Israel era excludente, ela excluía as pessoas que contraíssem esta doença, e ainda amarravam um sino na pessoa para, ao se locomover, as demais soubessem que ali perto estava um “imundo” como eles chamava, “ai daquele que tocar no imundo” – pensavam eles – “fica co-participante da imundícia, torna-se imundo como o tal”).

Este pobre miserável precisa se distanciar do trabalho (não peça isso! isso não significa aposentadoria, pelo contrário!), da vida social, da esposa a quem ama tanto, a quem daria a própria vida no lugar dela, dos filhos, preciosidade vindas do Senhor, e vagar aos arredores do país, exilado no próprio país. Não poderia mais ver (ver talvez... de longe) sua família. Significava que nunca mais iria abraçar seus filhos, pô-los no colo e contar alguma história, engraçada ou com fundo moral. Nunca mais beijar os lábios da esposa, “lábios mais doces que o mel, melhor que o mais caro ou raro vinho” (nos dias atuais: melhor que o mais fino chocolate – amo chocolate!).

Talvez você até despreze os carinhos dos seus pais, ou não tira tempo para a família. No momento estou no hospital com meu pai, meu HERÓI. Ele está com câncer. Segundo o médico de plantão, que o atendeu quando chegou, ele está em estado terminal e, “se passar de hoje (20/01/2009), será um milagre”. Eu estava à aproximadamente 150 km daqui quando minha irmã me ligou chorando.

Enquanto escrevo preciso parar para pegar nas mãos dele, as mãos que inúmeras vezes me pegaram no colo. Mãos que sangraram no trabalho árduo para me sustentar, e aos meus irmãos. Mãos que me corrigiram quando precisei. Que me abraçou quando fiz o maior compromisso e melhor decisão da minha vida.

E isso era o que aquele leproso queria: apenas um carinho. Voltar para seu lar e poder abraçar seus filhos, sua esposa. Mas a única coisa que ele fazia era gritar: IMUNDO! IMUNDO! IMUNDO! Pois é, além do sino ele ainda tinha que gritar... Que humilhação!

E, entre gritos e tinir dos sinos, uma vida que, quase sem esperança, vê em Jesus sua esperança.

Ele rompe a multidão que rodeia Jesus e diz: “Senhor, se quiseres, podes tornar-me limpo”. E Jesus vai além de suas expectativas.

Deus criou todo o universo com apenas sua voz/palavra... Meu pai passou quase toda sua vida usando a voz para glorificar ao Pai. Aos 17 anos de idade ele iniciou sua cantoria e, antes de parar, mesmo na cama, entoou junto ao coro feminino da Terceira Igreja Batista de Linhares, muitos louvores a Deus. Mesmo sendo o único cantando na voz baixo (timbre grave), sustentou os autos e baixos da música com toda maestria, assim como todos os autos e baixos da vida e, mesmo sem poder pronunciar palavras inteligíveis, o que consegue produzir é apenas uma massa amorfa, exceto nomes de algumas pessoas queridas, (Robson ele te mandou um abraço) ainda continua entoando músicas que ficarão registradas na alma, verdadeiro legado. Só parou por que...

Ele completou 67, no último dia 10 de dezembro... Foram muitos anos cantando e encantado com sua voz grave... Até que eu tentei seguir seus passos, mas... Prefiro não comentar!

Jesus estendeu a mão e “TOCOU-O”.

Não se sabe há quanto tempo este homem vivia às margens da vida, da cidade. Não se sabe quando foi a ultima vez que ele sentiu o contato de outra pele em sua pele, nem de sua euforia quando sentiu o toque de Jesus.

Amado (a), quando Jesus toca, tudo muda.

Meu pai nunca foi perfeito, tenho plena consciência disso, mas o dia em que ele recebeu o toque de Jesus em sua vida tudo mudou.

Ficamos muito tristes com sua morte (Ele descansou em Cristo quatro dias após inicio deste texto, na madrugada do sábado dia 24 de janeiro de 2009). Ele ensaiou durante 50 anos para cantar no coro celestial, agora sim ele é perfeito! Recebeu um corpo transformado.

Quando Jesus tocou aquele homem, toda multidão parou, e ouviu Jesus dizer: “quero; sê limpo”.

Amado, se você quer sentir o toque de Jesus em sua vida, peça isso a Ele. E Ele o fará, assim como fez comigo, assim como fez na vida desse leproso, assim como ele fez na vida do meu pai, como fez, e faz, na vida de muitos.

Eu espero encontrar meu pai lá no céu para que junto dele possamos entoar eternos hinos de louvor à Deus. Esperamos te encontrar lá também. Cuide disso. Jesus disse que Ele mesmo é a única forma de entrar no céu, peça para que Ele te esclareça isso, e aceite as condições que lhe impor. Mas saiba de uma coisa: o jugo do Senhor é suave, e seu fardo é leve. Deus te abençoe.

Ademilson Dias Ferreira
Enviado por Ademilson Dias Ferreira em 19/06/2009
Reeditado em 23/06/2009
Código do texto: T1656139
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