Porque os Regimes da Sociedade Humana Nunca Funcionam
Em uma abordagem bastante geral, direta e específica, atrevo-me a crer que o maior problema que enfrentam os regimes da sociedade humana, longe de suas próprias deficiências, é que todos eles se baseiam no delírio de que a humanidade é confiável.
O Capitalismo, por exemplo, é concebido levando em conta três estágios, capazes de gerar e distribuir a riqueza ou capital entre os povos: a criação e extração primária, envolvendo atividades como agricultura, pecuária, mineração, etc.; a manufatura secundária, com a indústria, o artesanato e as demais atividades de modificação de matéria prima; e a distribuição terciária, que é o comércio puro e simples, e estes três estágios são intermediados entre si por alguns serviços essenciais como o transporte.
Graças à falta de confiabilidade do ser humano, essas três roldanas propulsoras do capitalismo são obrigadas a distribuir os recursos que produzem entre elas próprias e entre uma série de outros poderes, que consomem, nada produzem, e servem apenas para tentar garantir a confiabilidade dos integrantes do sistema, nós mesmos. Polícia e segurança, governo e poder público, religião, tribunais, forças armadas, alfândegas, bancos... Sanguessugas contraproducentes de resguardo e remédio contra a falta de confiança que o ser humano tem em relação a seus assim chamados semelhantes.
Em suma, o capitalismo, de tão equilibrada e comemorada origem, já nasce falido e vira devaneio quando três empreitadas são obrigadas a trabalhar para sustentar oito, ou nove, quiçá dez.
Outros sistemas são ainda mais fáceis de serem compreendidos, suas deficiências ainda mais evidentes em relação à desconfiança singular do ser humano.
Socialismo e Comunismo levam em conta que os seres humanos são sociais como formigas, sempre cordiais e prestativos, prontos a se sacrificarem pela causa comum. Tais sistemas caem por terra ao irem de encontro a máxima da convivência e da confiabilidade humana, "um é pouco, dois é bom, três é demais..."
Regimes totalitários se valem da repressão, da obrigação de se confiar, para se sustentarem, e, erigidos em pilastras de força e poder, que começam a ruir tão logo os motins sejam organizados, não raro caem por terra cedo, estátuas tombadas, muros caídos, seus líderes depostos na degola da traição e da desconfiança.
Regimes neo-liberais, abertos, desestatizados, "felizes" por assim dizer, são como longos e vindouros naufrágios, os cascos de seus grandes navios invadidos pelo mar revolto de uma economia desconfiada e descontrolada, cujas vagas sujas jogam os detritos de investimento e especulação no convés, varrendo o capital e o recurso para o fundo de um abismo onde nada se vê e deixando uma montanha de dívidas inexplicáveis em seu lugar.
E todo esse caos se deve tão somente à impossibilidade que temos de confiar em nossos irmãos.
Em tentativas futuras, que se use a inteligência que se prega ser parte de nossa herança genética. Faça-se um novo regime, qualquer que seja, usando as ideologias cabíveis e nomeando-o como seja melhor.
Mas que jamais seja esquecido ou posto de lado o verdadeiro pecado original da humanidade, máxima razão para que padeçamos em terra todos os males do inferno e para que todos os nossos regimes e sistemas políticos jamais sejam bem sucedidos: a falta de confiança que temos para com a própria humanidade.