Remédio ( Prendas Poéticas)

Não vos obrigueis aos versos

tampouco deveis escrever por empreitada

para não acontecer de vos escravizardes

pela palavra e ela vos dominar

deveis, ao contrário, cavalgá-las

docemente, sem freio, esporas, arreio, em pêlo

Se iniciais vossas prendas poéticas

deixai escrever toda palavra, todo verso

todo poema, toda prosa

deixai assim sair como colostro

antes do leite mais puro

Os primeiros serão, quase sempre, desabafo e desatino

Quanto mais escreverdes tanto mais primor.

Talento é luxo das virtudes.

Não espereis condecorações

nem prêmios ou méritos

o mundo é infame

leitores escassos

Evitai o escárnio, deletério, ultraje,

bajulação, incensação, arrogância

poderíeis atrair apatia, adoecer almas

contudo, nada vos é defeso

apófases, catáfases, antônimos

e tudo mais que for expressão vossa

Não declineis, nunca, à ignorância

podendo, doai livros, emprestai dicionários

jogai uma corda

a palavra acolhe

a palavra cura

a palavra salva