Homilia na missa do crisma
Homilia na missa do crisma - Renovação das promessas sacerdotais
Dom Adair José Guimarães, Bispo Diocesano - Catedral de Mozarlândia, 09 de abril de 2009
Caríssimos padres, seminaristas, religiosas, prefeito municipal e primeira dama, vereadores, irmãos e irmãs,
1. Hoje é o dia do sacerdócio, desejado e instituído por Nosso Senhor Jesus Cristo. Jesus quis que sua Igreja perpetuasse no tempo o anúncio do Evangelho através de seus ministros. “Ainda que todo o Povo de Deus seja em Cristo um sacerdócio régio, o nosso Sumo e Eterno Sacerdote, Jesus Cristo, escolheu alguns discípulos para exercerem em seu nome, e publicamente na Igreja, o ofício sacerdotal, em favor da humanidade. O próprio Cristo, como o Pai o enviara, enviou também os Apóstolos ao mundo, a fim de continuar por meio deles e seus sucessores, os Bispos, sua função de Mestre, Sacerdote e Pastor. E os presbíteros são os cooperadores dos Bispos, pois unidos a eles na função sacerdotal, são chamados ao serviço do Povo de Deus” 1.
2. Agradeço a Deus pela vida e doação de cada um dos padres presentes e dos ausentes, pelo zelo dispensado ao nosso povo nas suas distintas comunidades e pela efetiva e afetiva colaboração com o bispo diocesano. Obrigado de coração pela compreensão e pela imensa colaboração comigo no pastoreio desta nossa amada Igreja particular.
3.Na tarde desta Quinta-feira Santa, inicia-se, em toda Igreja, o Tríduo Pascal, nossa preparação imediata à celebração da Páscoa. E a Missa do Crisma, que praticamente os bispos do mundo todo celebra nesta manhã com seus presbíteros nas suas catedrais, é um prelúdio da Páscoa do Senhor. Esta celebração expressa três realidades importantes: a unidade e a comunhão da Igreja diocesana, chamada Igreja Particular; a bênção dos óleos para o batismo e para a unção dos enfermos e a consagração do óleo do Crisma – usado par a ungir as mãos dos novos padres no dia de sua ordenação, a cabeça dos novos bispos em sua sagração episcopal, e o altar e as paredes de um templo, quando este é dedicado a Deus. Finalmente, nesta celebração, os padres renovam as promessas que fizeram no dia belo e abençoado da ordenação sacerdotal. O padre que se alegra efusivamente com este momento de renovação do seu ministério encontra a alegria dos fiéis que na oração intercessora zelam pela perseverança de seus sacerdotes.
4.Como é valiosa a oração do povo pela santificação do clero e de cada padre em particular. Somos sustentados pela oração do nosso povo. O Santo Padre Bento XVI tem demonstrado um grande zelo pelos sacerdotes e incentivado os bispos a fazê-lo. É um exigente desejo do Papa que em todas as dioceses se promova o dia de adoração nas quintas feiras pela santificação dos sacerdotes e onde for possível que se promova a adoração perpétua na mesma intenção. O povo responde muito bem aos apelos de oração pela nossa santificação. A oração do povo nos ajuda sobremaneira no caminho de nossa santificação que nos abre à comunhão e à unidade no seio da Igreja Diocesana. A comunhão eclesial que devemos promover é alimentada pela Eucaristia e esta faz a Igreja crescer na comunhão, que é construída a cada dia por reverência à Santíssima Trindade.
5.A partir do Mistério do Ágape Trinitário, o presbitério, por sua índole e natureza, deve se expressar como uma escola de unidade e comunhão. O padre não existe para viver isolado, mas em harmonia e profunda estima pelos irmãos de ministério e na ação conjunta e orgânica da pastoral diocesana.
6.Meu desejo e de toda a Igreja é que cada um dos presbíteros se abra cada vez mais ao processo de unidade ad intra et ad extra ecclesiae, não apenas entre os irmãos presbíteros da nossa Diocese, mas com os padres da Província Eclesiástica e do Regional Centro Oeste. É importante a participação anual no Encontro Regional dos Presbíteros que geralmente ocorre no final do mês de agosto. Faz muito bem; eu mesmo posso atestar isso pela minha própria experiência. Vale a pena deixar tudo na paróquia e participar e fazer unidade. Importante também a dedicada atenção que cada um deve dispensar à Associação Diocesana dos Presbíteros e valorizá-la como um espaço nosso que precisa ser aproveitado e promovido. Vale, igualmente, lembrar da importância de cada padre na vida de nossos seminaristas, futuros presbíteros de nossa Igreja.
7.O padre não pode ser comparado a uma maquina fria em permanente movimento, sem tempo para o descanso e a vivência espiritual. O mundo atual facilmente nos conduz a uma desordem existencial e passamos facilmente a um ativismo desordenado que não edifica e muito menos produz frutos de maturidade em nós. Ter uma agenda organizada, com tempo para a leitura e a oração é fundamental para enfrentarmos o mundo complexo que vivemos. Organizar o tempo e o nosso interior é conditio sine qua para administrarmos com esmero as coisas de Deus. A Diocese precisa de nós. Com nosso trabalho, nosso testemunho e nosso amor ao chamado de Deus, fazemos com que a Igreja Particular alcance sua profunda expressão de Igreja católica, apostólica, santificadora, servidora, missionária e misericordiosa.
8.Somos poucos e temos muito a fazer pelo Reino de Deus nas paragens desta nossa amada e acolhedora Igreja Diocesana. Não esmoreçamos diante dos enormes desafios que ovacionam a pessoa de cada um de nós em nossos dias. Vivemos o tempo radical do relativismo moral, econômico e religioso que patenteia o porvir de uma civilização medíocre, detratora e escarnecedora da pessoa humana. Diante das ingentes postulações comportamentais deste tempo que se agigantam no conglomerado simbólico da cultura da morte, somos chamados a uma maior confiança no Senhor, Sumo e Eterno Sacerdote. Neste mundo complexo, devemos ser um divisor de águas, pois ao padre cabe apontar o caminho de Deus, antagônico aos caminhos do mundo, mas o único que preenche o interior da pessoa humana, vocacionada à transcendência.
9.Devemos ser suficientemente críticos de nós mesmos e capazes de avaliar os frutos do Espírito Santo no nosso ministério a fim de sermos a cada dia mais santos do que no dia anterior. Nossa missão tem seu alicerce no mistério de Cristo Ressuscitado e n’Ele podemos encontrar o alento para os desertos medonhos que temos diante de nós. Os esquemas da cultura medíocre que temos tenazmente que combater, nocauteiam cada vez mais nossos jovens e nossas famílias que merecem nossa especial atenção. Vale ressaltar que tais esquemas, ontologicamente maus na sua essência, não servem para nossa edificação sacerdotal e muito menos colaboram com a nossa realização existencial. Podemos até estar imersos no ambiente cultural do momento, mas sem deixar que os esquemas deste momento, mormente, estejam imersos em nós. Como homens livres em Cristo, vivamos o desapego de nós mesmos, dos outros, das coisas, da própria paróquia e dos desejos dos sentidos. Nosso apego deve ser somente a Cristo e ao seu amor. Somos cidadãos de Deus e da Igreja, o povo não nos pertence, a paróquia também não. Quando chega a hora de partir de onde estamos, façamo-lo com liberdade e santidade. Importa deixar as pegadas de Cristo por onde passarmos.
10. É edificante o ambiente de uma paróquia bem conduzida, seja no seu aspecto espiritual e pastoral, bem como na sua administração séria e calcada nos parâmetros da ciência da boa administração. O dinheiro oriundo do dízimo e das ofertas de nossos fiéis precisa ser bem administrado pelo pároco ou administrador paroquial e seu conselho de economia. Se somos críticos com as administrações públicas, precisamos fazer bem feito nosso dever de casa mediante a prestação de contas mensal, rigorosa e sistemática, às nossas comunidades e à Cúria Diocesana. Somos dispensadores da boa condução dos frutos da generosidade de nosso povo.
11. No Santo Evangelho de hoje, Cristo, ao iniciar o seu ministério na Sinagoga de Nazaré, repete as palavras do profeta Isaias: "O Espírito do Senhor está sobre mim, Ele me ungiu e me enviou para evangelizar os pobres". A unção com óleo, que a Igreja realiza em diversos sacramentos, é um símbolo da unção do Espírito Santo. O óleo é alimento; ele nos revigora, e nos dá força. Toda pessoa que é ungida com ele, recebe a força do Espírito de Deus. Quando Cristo prometeu, pela última vez, o dom do Espírito aos discípulos, Ele lhes disse: "Recebereis uma força vinda do alto". Através da unção com o óleo, essa força penetra em nossas vidas e em nossos corações como promessa divina.
12.Nesta Missa, o bispo pronuncia as palavras dessa promessa. São palavras belíssimas que expressam, de modo muito concreto, uma síntese da missão que a Igreja confere ao padre no dia de sua ordenação. Elas também recordam que os sacerdotes são cooperadores do bispo, que lhes confia o cuidado por uma parte do rebanho que a Igreja confiou à sua diocese. É nossa missão pregar a Palavra de Deus com dignidade e sabedoria, santificar o povo de Deus pela celebração do sacramento, de modo especial, pela Eucaristia diária e pelo sacramento da reconciliação, sendo nós mesmos os primeiros penitentes.
13.Essas palavras recordam que precisamos viver intimamente unidos a Cristo. Cada padre precisa ter o estilo de vida de Cristo. Essas palavras lembram-nos que no dia da ordenação, o sacerdote recebe também o ministério da oração e, cada dia, deve rezar pela santificação do povo que lhe foi confiado. Daí, a importância da Liturgia das Horas que deve acompanhar o presbítero no seu itinerário de amor e fé. Ademais, a lectio divina do presbítero ganha profundidade nos instantes subjetivos da sua presença diante de Nosso Senhor no silêncio do sacrário. A mística presbiteral é o oásis que transborda em toda paróquia e na vida dos fiéis.
14.Convido cada um dos presbíteros presentes a renovar com amor suas promessas presbiterais. Neste gesto simples, mas carregado de profundo significado, vamos renovar nossa estima pelo ministério, pelas pessoas e pelas pastorais. Ao nosso povo peço que continue rezando pelos nossos padres e os ajude a evangelizar e a fazer os sinais do Reino de Deus acontecer na Comunidade.
15.Obrigado amados padres de nossa Diocese, mesmo como irmão, não posso deixar de tê-los como filhos queridos. Mesmo na minha pobreza humana quero que contem comigo para chorarmos e nos alegrarmos juntos. Estou com vocês para servir e amar, perdoar e ser perdoado. Tenho certeza que vamos fazer um trabalho profundo na Diocese, a partir de pequenas coisas e pequenos gestos. Não precisamos fazer algo extraordinário para que tudo possa andar bem, mas pequenos gestos ordinários de fé, acolhida, amor e bondade. Contem com o bispo de vocês. Muito me alegra a presença do Pe. Divino Eterno que para nossa alegria está dando bons passos de melhora e logo vai estar nos ajudando como muito bem o quer. Transmitam o meu abraço aos seus familiares e às suas comunidades com votos de abençoada páscoa.
16.Obrigado Pe. Crésio pela ajuda e presença nesta semana santa na Paróquia de Valdelândia, atendo com tanto carinho aquela comunidade tão abençoada. Boa viagem à Europa onde irá estudar Direito Canônico. Deus o ilumine nesta nova etapa de sua vida. Com a Virgem Santíssima, Mãe dos Sacerdotes, possamos dizer com fé e amor: “Cristo se fez obediente por nós até a morte e morte de cruz”. Amém!
1 - Cf. Ritual de Ordenações, no. 151.