MEU QUERIDO PAI...
Já escrevi versos, já escrevi crônicas, já fiz poesia e muitos discursos. Já homenageei Desembargador, já dirigi a palavra para muitas autoridades, para muitos amigos, para muitos anfitriões que nos receberam e ainda nos recebem em festas por este Mato Grosso do Sul á fora, mas, nunca, em nenhum um momento, dirigi uma só linha da minha cultura e da minha inspiração como escritor para alguém tão importante em minha vida como é o meu querido pai. Um dia acordei pensando nisso e passei a projetar algumas estratégias para que pudesse estar à frente de um momento como este que vivo agora, para, aí, então poder - com toda a inspiração que vem dos Céus - falar a uma só pessoa, como se ela fosse o holofote da vida, que ilumina meu viver e faz concretas as minhas alegrias, porque sei que há um ser na terra que um dia dedicou parte da sua vida para nós – os filhos – trabalhando de sol a sol para nos dar o sustento e para nos encaminhar na vida, pagando boas escolas para que pudéssemos um dia ser alguém honrado e digno da sua sapiência de homem honesto.
Para falar do meu pai, sinto-me muito à vontade, porque não preciso esconder uma só linha das palavras e nem uma só idéia do meu pensamento, pois encontro uma estrada de glórias e de conquistas que só enobrece a alma, já que foi com ele que aprendi o significado da palavra ética e da palavra honestidade. Nestes setenta e cinco anos de existência jamais existiu uma mácula que pudesse manchar sua idoneidade como homem. O seu Delson Machado é um homem honrado em tudo que faz, porque sempre agiu amparado no esteio da palavra, pois sempre professou que os compromissos assumidos são dívidas a serem pagas. Assim, na sua história de vida jamais chegou alguém à porta de nossa casa para fazer alguma cobrança, porque todos os seus compromissos foram saldados no dia e na hora previamente marcados.
Falar sobre o meu pai e não lembrar a nossa saudosa Amambai, seria pisar num pedaço da sua história e deixar de citar a fase mais ativa de sua vida, quando passou a se dedicar ao ramo da carpintaria. Aliás, a sua história profissional lembra trechos bíblicos, pois Jesus teve um pai carpinteiro e nem por isso deixou de ser o que foi para o mundo. Talhar a madeira e fazer dela algo acabado e bonito não é profissão para muitos, mas uma exceção para poucos. Costumo dizer que meu pai foi um engenheiro rudimentar, que não frequentou nenhum banco de escola, mas jamais deixou que suas obras ruíssem em face de uma base frágil que não sustentasse seu peso. Ele construiu casas; ele construiu pontes, ele construiu igrejas e não se tem uma só notícia de que algumas dessas obras viessem ao chão, a não ser pelas rusgas do tempo.
Depois de uma intensa viva ativa, o seu Delson Machado concluiu que era hora de se aposentar e desfrutar a vida como ela é. Para que tivesse uma vida feliz, teria de voltar às suas origens para que todo dia pudesse acordar com a voz da natureza, ouvindo os pássaros, ouvindo o barulho do rio, ouvindo o galo carijó no terreiro e todos os sons matutos que só o sertão e o cerrado podem oferecer ao homem rústico que sempre sonhou com o ambiente sereno da vida rural. Não foi por outro motivo, que num dia histórico na sua vida e de meu irmão- que também tem muita afinidade com a orla de um rio - vieram parar neste recanto singelo cravado no município de Dois Irmãos do Buriti, onde fincaram a bandeira dos Machados e passaram a executar a odisséia do desbravamento, abrindo o cerrado à base de foice e machado, enterrando neste chão as primeiras estacas que deram origem a um ranchinho de sapé, com a rusticidade de um campeiro.
Com o arrojo que sempre foi peculiar à vida de meu pai, aos poucos, em companhia de outras pessoas que sempre o acampanharam; como a Cremilda, o Aldo e a Laura, o Gerson e a Célia, eles foram fazendo suas moradas e hoje aqui encontramos essas casas humildes, mas que são frutos de seus próprios esforços.Estas moradas simples, mas importante para quem as construiu lembram o pensamento de Aristóteles, filósofo Grego que viveu antes de Cristo:”Podemos praticar atos nobres sem ter de dominar a terra e o mar”.
Mas há algo muito importante que eu jamais poderia esquecer. Meu pai sempre foi religioso e construiu sua vida ao lado da Igreja Católica em Amambai-MS. Essa sua experiência religiosa também lhe rende grandes frutos na sua vida pessoal, pois, certamente, o feito que passo a citar lhe trará uma boa recepção nos Céus. Quem veio desfrutando da beleza do lugar, deve ter observado que antes da ponte sobre o rio Aquidauana há uma capela da Igreja Católica, construída em alvenaria e ao lado um galpão social para as festas religiosas. Tenho muito orgulho em dizer que para a construção daquela obra sacra a mão do meu pai sofreu muitos calos. Foi ele quem procurou um parente engenheiro para elaborar o projeto. Foi ele quem de sol a sol arregimentava colaboradores para com ele trabalhar em prol daquela construção. Foi meu pai, com a ajuda da comunidade, que fez acontecer naquela capela religiosa. Assim, quando por ali passo e vejo aquela pomposa igreja, logo me vem a sensação de que cada tijolo ali postado, é fruto do suor desse homem incansável que mesmo depois de aposentado não esqueceu de trabalhar em prol da sociedade e de uma comunidade religiosa. Isso é algo grandioso e que não se paga aqui na Terra, pois a dádiva não está entre nós, mas lá nas estrelas onde mora o nosso Criador. Esse esforço e essa iniciativa lembram o pensamento nobre pronunciado por Aristóteles que também viveu antes de Cristo: “Dê-me uma alavanca e um ponto de apoio e levantarei o mundo”. Assim, usando o exemplo do meu pai, posso afirmar com convicção, de que todos aquele que se esforçam não construirão apenas uma Igreja, mas um Universo junto aos seus entes queridos.
Assim, neste dia; no dia em que veio à luz um ser humano que sua mãe chamou Delson Machado, abriu-se sobre os Céus uma chama de esperança e de fé, através de uma pessoa que vem produzindo exemplos de grandeza e de humanidade. Meu pai, como ser humano, tem seus erros e suas manias – mas quem não tem? O que importa é que agora neste momento está aqui conosco e pode ser citado como alguém que deve ser seguido nas suas lições de vida, como pessoa honrada e como um ser humano que só produz para o mundo a bondade e o bem entre as pessoas.
Por todas essas razões, senti-me na obrigação de filho - que jamais esquece o esforço e a luta de um pai - trazer hoje para junto de nossa família, os amigos que tenho consideração e também esse conjunto maravilhoso que entoa músicas com deliciosa harmonia e com profundas interpretações ao tocarem e cantarem canções regionais que nos enternecem com a sensibilidade de suas melodias, sobretudo porque são acordes ligados às tarefas do campo, trazendo lindas letras que encantam o homem rural. Mormente, quando são executados os cantos dos guaranis – linguagem fronteiriça – através das deliciosas polcas paraguaias e dos chamamés correntinos. Logo que conheci esse grupo, constatei que eram os artistas ideais para fazer esta homenagem, porque se identificam com as lidas rurais e também cantam as canções que me pai mais gosta de ouvir.
Finalizo esta homenagem com a citação de Buda, mestre, político e filósofo Chinês: “Transportai um punhado de terra todos os dia, que no final de sua vida terás construído uma montanha”. Essa filosofia de vida sempre acompanhou o meu pai tanto na vida ativa como agora na sua aposentadoria, pois sempre carregou todos os dias de sua vida um punhadinho de terra e hoje conseguimos enxergar na sua vida a montanha que ele conseguiu construir, ou seja, no aspecto metafórico (e figurado) é a montanha da dignidade, da honra, do trabalho, da dedicação, da entrega, do sacrifício em prol de causas nobres, como foi a nossa educação e as causas comunitárias, através da religião Católica.
Em razão de tudo isso, eu e o Aldo (aqui presente) só temos a agradecer tudo isso que nos foi proporcionado, graças a seu esforço e sua dignidade.
Parabéns, meu pai, parabéns meu mestre...
É o que desejamos de coração neste dia tão festivo!