DISCURSO DE POSSE NA AGLC

DISCURSO DE POSSE AGLC

Minhas senhoras e meus senhores

Meus amigos

Confrades Acadêmicos

Ao longo dos anos tenho visto a luta do povo guaçuiense para preservar sua cultura. Muitas vezes uma voz solitária ecoava e logo era abafada pela falta de apoio e mesmo por se sentir só, numa sociedade capitalista acostumada a ganhar e a obter vantagens.

Foi então que meu querido confrade Luiz Ferraz Moulin me procurou no dia vinte um de março para coordenar a já idealizada Acadêmia de Letras e Cultura de Guaçuí.

Surpresa, mas feliz assumi o desafio e logo procuramos outros nomes que, juntos, nos lembravam como fazendo parte desses que se calaram e sufocaram suas vozes por muito tempo. Todos os convidados, que queriam ampliar seus horizontes literários, artísticos e culturais, assumiram um compromisso: fundar a Academia Guaçuiense de Letras e Cultura. Assim, reunimo-nos procurando alcançar nosso objetivo maior: “o patrimônio cultural de nossa cidade”.

Caros confrades:

Visto que sou insistente nos meus sonhos e perseverante na esperança, acreditei e aqui cheguei para, juntos, começarmos esta batalha em favor do que é culto e belo, neste mundo marcado por tragédias. Ser comprometido com as letras e artes é, para mim, ser comprometido com Deus. Foi Ele quem pintou este mundo belo e admirável e que, tão poeticamente, formou o coração do homem, colocando nele tão sublime amor.

Quero colaborar para que nossa Academia Guaçuiense de Letras e Cultura não seja como um cometa que brilha apenas por alguns momentos e, logo a seguir, é fadado ao esquecimento.

Confrades, senhoras e senhores: Estamos aqui para dar início a um novo tempo, onde quem ama e deseja informação tenha, em nossa Academia, as portas abertas a novas perspectivas para o conhecimento e para os diversos saberes.

À academia Guaçuiense de Letras e Cultura, compete participar e decompor, com a sociedade num todo, aquilo que ela mais valoriza: a língua como instrumento de conhecimento e de convivência; a cultura em suas abrangentes formas, passando das artes cênicas à expressão da primeira forma de comunicação que são as artes plásticas, chegando à poesia que reside na alma sensível. Carlos Drummond, em “A POESIA”, sintetiza em versos o conceito

mais sublime da atividade artística na seguinte expressão literária:

Gastei uma hora pensando um verso

Que a pena não quer escrever.

No entanto, ele está cá dentro.

Inquieto e vivo.

Ele está cá dentro.

Ele não quer sair.

Mas a poesia deste momento

Inunda minha vida inteira.

Assim, assumo a cadeira número 5 , que tem como patrona a ilustre pianista, escritora e professora Universitária e historiadora VILMA PARAÍSO FERREIRA DE ALMADA, reconhecida no País e no exterior por sua obra “Escravismo e Transição – O Espírito Santo (1850/1888)”,escreveu também:Estudos Sobre Estrutura Agrária e Cafeicultura no Esp.Santo

Vilma Paraíso Ferreira Almada, por muitos anos residiu em Guaçuí. Ela era filha de nosso estimado José Ferreira Alves e D. Djanira Paraíso Ferreira, irmã da nossa querida Dr.ªVânia e esposa de Roberto Almada, que foi professor do Colégio Estadual, Colégio São Geraldo e escola Normal de Guaçuí ,era também escritor e poeta de sucesso, pertencia a Academia Espírito Santense de Letras,Vilma era sua musa e ele a cantou em prosa e versos.Em “Retrato da Amada” ele manifesta a nobreza deste amor quando diz:Os seus passos não são silenciosos,muito pelo contrário.

Calcam fundamente o chão ,como se soubessem de onde vêm e para onde vão.Ela não fez do absoluto o seu roteiro,nem o seu infinito,nem mesmo os desígnos de sua alma.

É forte e indestrutível como a adaga.Persistente como o pôr-do-sol.

Os olhos da minha amada foram postos sobre mim.Eles me guardam do orgulho e da desesperança.

O seu ventre não é um jardim das delícias.É antes o gesto inicial e definitivo,o encontro Édem.

Por isso o seu ventre é também um jardim das delícias.

Ela me afaga com suas mãos docemente,

cálidas e inofensivas como um animal ferido.

Aquieto-me,bem amada,nos teus braços de seda;de seda não,de sonhos,

e entre eles encontro a origem de toda a bem-aventurança.

(Vilma Paraíso Ferreira Almada,faleceu em Maiorca na Espanha em 1988)

Por tudo isso é para mim um grande orgulho, homenagear a escritora e Historiadora Vilma Paraíso Ferreira Almada, tão ligada à minha história e à minha infância, homenagem que estendo a seus familiares.

Dupla honra, portanto, neste dia eu recebo.

Agradeço a todos, citando o poeta francês Alfred Vingni: “A HONRA É A POESIA DO DEVER"

.HELIANA MARA SOARES (pronunciado em sessão de posse no dia

4 de dezembro de 2008)